M. Night Shyamalan provavelmente é um dos
diretores com carreira mais instável do universo cinematográfico, com filmes de
expressão em seu currículo (Corpo Fechado, O Sexto Sentido) e obras que
receberam uma completa ovação negativa do público e crítica (A Dama da Água,
Depois da Terra). Da mesma forma, possivelmente a maior figura atrás de uma
câmera do cinema indiano, é certo que Shyamalan tem qualidade e não esqueceu
como fazer grandes longas, afinal, Fragmentado está aí para provar. Pode-se dizer
que desta vez o cineasta conseguiu se reinventar e utilizar aquilo que possui
de melhor para confecção desta obra-prima.
Considerando os vários fatores fundamentais
para comcepção desta película e seu resultado imensurável, um dos que mais se
destaca se encontra na figura de James McAvoy, intérprete de Kevin e suas personalidades.
Ao já ter entregue grandiosas performances em filmes passados (principalmente
em Filth), McAvoy certamente não tinha uma tarefa fácil e pode, com maestria,
perfeição, glamour e deslumbre, desempenhar uma extraordinária atuação ao viver
distintas identidades onde se pode observar que até mesmo sua conotação verbal
e trejeitos sofreram mudanças. Apesar de nem todas 23 personas serem apresentadas
ao espectador, o público pode, suficientemente com o quê viu, apreciar simplesmente
uma das melhores performances da história do cinema. Ademais, embora saiba-se
que há somente um personagem em cena, seu transtorno e apoteótico trabalho do
ator criam a ilusão da presença de várias pessoas, seja também pelos conceitos,
intuitos e valores individuais de cada identidade. Além, conforme os quesitos notórios
enaltecidos das múltiplas personalidades do protagonista, é recomendável que o
longa seja assistido com o áudio original.
Outro aspecto que é fantasticamente incluso no
longa e praticamente dita seu ritmo, é a exemplarmente concebida atmosfera tensa
e apreensiva que já é realçada ao longo dos primeiros minutos da película, por
vezes corroborada a planos escuros de forma magistral e consentânea. De maneira
similar, logo na sequência inicial, a "mocinha" da trama é destacada,
bem como seu caráter melancólico, este que, perante o recurso de flashbacks,
tem suas motivações salientadas. Consoante a face emocional da mesma, as duas
atrizes intérpretes de Casey cumprem muito bem sua função. Todavia, o mesmo não
se pode dizer das outras garotas sequestradas por Kevin, estas que se mostram
um tanto quanto prolixas para o desenvolvimento do entrecho e atuam artificialmente.
Ainda referente à personalidade da personagem feminina ratificada, se pode
traçar paralelos para com Kevin, pois, ademais de ambos terem sofrido abusos na
infância, estes traumatizantes eventos refletem no presente e influenciam
determinadas ações do filme.
Aclamado pelo público e pela crítica, Fragmentado
explora, tanto para utensílio do entrecho quanto como doença real e problemática
que é, o transtorno de Kevin, se aprofundando em questões acerca da mente humana
e crenças que beiram o desconhecido. Neste âmbito, destaca-se a psicóloga do
protagonista, esta que possui ideais que visam um potencial na figura do mesmo
que vai além das atuais perspectivas humanas. Ademais, deve-se ressaltar a interessante
necessidade de Kevin por reconhecimento, sua percepção de si mesmo e compreensões
pessoais que divergem do senso popular e se relacionam com algo que considera
maior. O longa, acima de tudo, é um estudo de personagem.
Frenético do início ao fim, instigante,
curioso, interessante, empolgante e com uma sequência inicial que já denota a
altíssima qualidade do que será visto, a película está repleta de passagens
insanas que presenteiam o espectador com diversão ao mesmo tempo em que impulsionam
os sentimentos mais receosos e temerosos dos mesmos. Ainda arrumando tempo para
uma descontraída e hilária comicidade na dose certa, a produção, apesar de
compreensível, pode, consoante certas complexidades de roteiro, causar certa
confusão em um público mais desatento. Por falar em desatenção, é sugerido que
se assista Corpo Fechado antes de Fragmentado, outro grande acerto de Shyamalan em sua carreira conturbada que tem ligação com o longa em questão e realça o universo compartilhado que
está sendo constituído pelo diretor. Com uma continuação da película estrelada
por Bruce Willis já garantida e que provavelmente entrelaçara os dois
trabalhos, é bacana se observar as similaridades entre ambos e não perder
nenhuma referência ou vínculo entre eles.
Fragmentado é um filme envolto pelo sofrimento,
absurdo, criativo e que entretém simultaneamente como instiga a reflexão e
discussões, certamente um dos melhores longas de 2017 até o momento e a
triunfante redenção de Shyamalan.
Matheus J. S.
Assista
e Kontamine-se
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 23 de março de 2017 (1h
57min)
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley…
Gêneros: Suspense; Fantasia; Terror
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 75%
Metacritic: 62%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
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