Assistir Filadélfia mais de vinte e cinco anos após
sua estreia pode não ser tão aprazível quanto fora em sua época de lançamento.
Embora coloque em xeque pautas importantes, o filme não sobrevive ao tempo e,
quando mais deveria se mostrar atual conforme a crescente notoriedade com que
os temas abordados vêm sendo debatidos pelas mais diversas plataformas midiáticas,
Filadélfia se omite ao empacotar fórmulas prontas que, em pleno 2019, já não
reverberam efeito.
Os principais problemas do longa se concentram
exponencialmente sobre três pontos: previsibilidade narrativa, exposições
exacerbadas e utilização abusiva de artifícios sentimentalmente manipuladores.
A começar por este, a película tem seus primórdios marcados por uma canção
florida que, apesar de individualmente efetiva, narrativamente exerce pouco
resultado, visto que o recurso é também usado durante o desfecho, este que, sobretudo,
é acompanhado por imagens "fofas" e um acontecimento trágico. Não
obstante, a trilha sonora, visto toda e qualquer oportunidade, é imposta a
corroborar a coerção emotiva preestabelecida pelo enredo.
No tocante às manobras do entrecho antecipadas
pelo espectador, estas seguem à risca exatamente o que se espera das mesmas.
Nesse sentido, a estrutura telegrafada do roteiro articula-se como uma espécie
de indulto à classe homossexual por parte do diretor Jonathan Demme, visto que
seu último filme (O Silêncio dos Inocentes) recebeu inúmeras críticas negativas
da respectiva comunidade por conta da representação de um serial-killer insano e gay. Desse modo, o cineasta aparenta pouco
se importar com a forma escolhida para contar sua estória, desde que no fim o
protagonista saia vitorioso e o público homoafetivo sinta-se devidamente
representado. Todavia, o diretor demonstra sutileza ao trabalhar a opção sexual
do personagem vivido por Tom Hanks, sem apelar para cenas gratuitas que enfatizem
obviedades.
Concernente ao caráter demasiado expositivo do longa,
praticamente tudo é verbalizado, explicado e entregue mastigadinho ao assistente,
o que, voluntariamente ou não, subestima as capacidades do mesmo e ofusca o brilho
de elementos que seriam melhor abrangidos no campo do silêncio. Ademais, vale ressaltar
que estas indelicadezas ocupam o espaço destinado ao desenrolar de pontos
cruciais do enredo, tais como a relação entre os protagonistas e o
desenvolvimento individual destes que se
mantêm superficiais. O mesmo pode ser dito do namoro entre Andrew (Hanks) e Miguel, da unidimensionalidade dos antagonistas e do contraste inexplorado entre as convicções
de Joe e o cargo que ele exerce.
Entretanto, Filadélfia também ostenta acertos. Os
receios que permeiam a admissão da homossexualidade nos anos 90 e a ignorância
social frente à contração da AIDS são aspectos que se destacam como retrato do preconceito
americano da época. A maquiagem, por sua vez, caracteriza com êxito a
degradação física de Andrew que ganha contornos ainda mais dramáticos conforme
a perfomance de Tom Hanks que eleva o sofrimento e angústia do personagem.
Denzel Washington, como Joe, interpreta com aptidão um advogado de retórica
eloquente, por vezes irônico e de crenças ferrenhas; o personagem tem seus melhores
momentos durante os debates no tribunal, estes que se realçam pelas ótimas
argumentações e o desenvolvimento gradual que permite um retrato verossímil do
processo. Como adendo, convém frisar a passagem de tempo que, apesar de periodicamente
atribuir enfoque a componentes de pouca importância, jamais picota o texto ou
deixa de ser funcional.
Em suma, Filadélfia apresenta boas ideias, tem
excelentes atuações e lida com temáticas relevantes, porém peca na execução
rasa e batida de suas múltiplas vertentes.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 22 de
dezembro de 1993
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Tom Hanks, Denzel
Washington, Mary Steenburgen…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
O advogado Andrew trabalha num conceituado
escritório de advocacia. Quando descobre que é portador do vírus HIV, é
despedido sumariamente. Ele então contrata os serviços de outro advogado para
processar a companhia.
Avaliação:
IMDb:
7,7
Rotten:
79%
Metacritic:
66%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários): 4,5
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 5,5
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