14 de junho de 2019

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Filadélfia

Pôster


Assistir Filadélfia mais de vinte e cinco anos após sua estreia pode não ser tão aprazível quanto fora em sua época de lançamento. Embora coloque em xeque pautas importantes, o filme não sobrevive ao tempo e, quando mais deveria se mostrar atual conforme a crescente notoriedade com que os temas abordados vêm sendo debatidos pelas mais diversas plataformas midiáticas, Filadélfia se omite ao empacotar fórmulas prontas que, em pleno 2019, já não reverberam efeito.
Os principais problemas do longa se concentram exponencialmente sobre três pontos: previsibilidade narrativa, exposições exacerbadas e utilização abusiva de artifícios sentimentalmente manipuladores. A começar por este, a película tem seus primórdios marcados por uma canção florida que, apesar de individualmente efetiva, narrativamente exerce pouco resultado, visto que o recurso é também usado durante o desfecho, este que, sobretudo, é acompanhado por imagens "fofas" e um acontecimento trágico. Não obstante, a trilha sonora, visto toda e qualquer oportunidade, é imposta a corroborar a coerção emotiva preestabelecida pelo enredo.
No tocante às manobras do entrecho antecipadas pelo espectador, estas seguem à risca exatamente o que se espera das mesmas. Nesse sentido, a estrutura telegrafada do roteiro articula-se como uma espécie de indulto à classe homossexual por parte do diretor Jonathan Demme, visto que seu último filme (O Silêncio dos Inocentes) recebeu inúmeras críticas negativas da respectiva comunidade por conta da representação de um serial-killer insano e gay. Desse modo, o cineasta aparenta pouco se importar com a forma escolhida para contar sua estória, desde que no fim o protagonista saia vitorioso e o público homoafetivo sinta-se devidamente representado. Todavia, o diretor demonstra sutileza ao trabalhar a opção sexual do personagem vivido por Tom Hanks, sem apelar para cenas gratuitas que enfatizem obviedades.
Concernente ao caráter demasiado expositivo do longa, praticamente tudo é verbalizado, explicado e entregue mastigadinho ao assistente, o que, voluntariamente ou não, subestima as capacidades do mesmo e ofusca o brilho de elementos que seriam melhor abrangidos no campo do silêncio. Ademais, vale ressaltar que estas indelicadezas ocupam o espaço destinado ao desenrolar de pontos cruciais do enredo, tais como a relação entre os protagonistas e o desenvolvimento individual destes  que se mantêm superficiais. O mesmo pode ser dito do namoro entre Andrew (Hanks) e Miguel, da unidimensionalidade dos antagonistas e do contraste inexplorado entre as convicções de Joe e o cargo que ele exerce.
Entretanto, Filadélfia também ostenta acertos. Os receios que permeiam a admissão da homossexualidade nos anos 90 e a ignorância social frente à contração da AIDS são aspectos que se destacam como retrato do preconceito americano da época. A maquiagem, por sua vez, caracteriza com êxito a degradação física de Andrew que ganha contornos ainda mais dramáticos conforme a perfomance de Tom Hanks que eleva o sofrimento e angústia do personagem. Denzel Washington, como Joe, interpreta com aptidão um advogado de retórica eloquente, por vezes irônico e de crenças ferrenhas; o personagem tem seus melhores momentos durante os debates no tribunal, estes que se realçam pelas ótimas argumentações e o desenvolvimento gradual que permite um retrato verossímil do processo. Como adendo, convém frisar a passagem de tempo que, apesar de periodicamente atribuir enfoque a componentes de pouca importância, jamais picota o texto ou deixa de ser funcional.
Em suma, Filadélfia apresenta boas ideias, tem excelentes atuações e lida com temáticas relevantes, porém peca na execução rasa e batida de suas múltiplas vertentes.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 22 de dezembro de 1993
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Mary Steenburgen…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
O advogado Andrew trabalha num conceituado escritório de advocacia. Quando descobre que é portador do vírus HIV, é despedido sumariamente. Ele então contrata os serviços de outro advogado para processar a companhia.

Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 79%
Metacritic: 66%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 5,5
Avaliação

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