27 de outubro de 2016

Kontaminantes ☣ , Cisne Negro , Filmes ,

Cisne Negro


*análise com spoilers significativos

                Um filme que possui como pano de fundo o balé (sem menosprezar), pode não ser muito atraente, mas quando se consta que está relacionado à insanidade e loucura, além de ser dirigido por Darren Aronofsky, as coisas começam a ficar interessantes.
                A história segue uma jovem (já adulta) profissional de uma companhia de balé que se destaca bastante e vive para o mesmo, até em sua casa, onde deveria ser seu momento de lazer e descontração, ela o gasta ensaiando. Então, como a atual bailarina principal já se encontra velha e, segundo o diretor artístico da companhia, já não tão apta quanto antes, uma nova tem de ser escolhida. Tendo como abertura da temporada o espetáculo Lago dos Cisnes, Thomas Leroy (o diretor), necessita de alguém empenhado e que consiga representar as duas protagonistas da peça, o Cisne Branco e o Cisne Negro. Como Nina possui talento e interpreta deslumbrantemente o Cisne Branco, ela é a escolhida para ser a Rainha dos Cisnes (intérprete de maior realce), porém seu real desafio será interpretar o Cisne Negro, o qual demonstra muitas dificuldades para tal.
                 O enredo, pode-se dizer, gira em torno de cinco principais personagens: Nina, a bailarina obcecada; Erica, sua mãe arrogante e controladora; Thomas Leroy, o diretor egoísta e manipulador; Lily, uma bailarina igualmente de bastante destaque vinda de outra cidade e Beth; a amarga substituída bailarina principal.
                Agora, com o básico esclarecido, vamos entender a genialidade deste longa.
                A película mostra a trajetória de uma tímida e introvertida dançarina de balé que busca a perfeição para interpretar um lado negro, e, como possui problemas para conseguir, recebe determinadas “lições de casa” do diretor para alcançar a libertação e poder desempenhar uma excelente interpretação. Buscando atingir esta personalidade, ela passa a ser usada por Thomas que diz fazer parte do processo, este que a escolheu apenas para múltiplos benefícios próprios. Simultaneamente, se encontra em uma situação na qual é oprimida pela mãe compulsiva, uma ex-bailarina fracassada que busca na filha, ademais, o que nunca conseguiu, o que só torna Nina uma pessoa ainda mais fragilizada e acaba por provocar, de certa maneira, seu escuro eu interior.
                Com a chegada de uma nova integrante à companhia, a obcecada protagonista vê nela alguém que deseja lhe roubar o posto. É interessante como Lily, ao longo do filme, é vista por Nina tanto como um Cisne Branco quanto um Cisne Negro, personagem que nunca deixa exatamente claro suas verdadeiras intenções.
                 Enquanto isso, Beth se remói de inveja pela posição que não é mais sua e faz de tudo para ser novamente paparicada por Leroy. Esta que já passou por todos os conflitos que agora Nina vive, esta que já se transformou. Tentando alcançar seus objetivos, até mesmo é atropelada sugestivamente de forma proposital e tem as pernas quebradas, o que a faz passar por muita dor e tormento para conseguir o que quer (como a protagonista).
                Se submetendo a situações as quais antes nunca se submeteria para libertar seu Cisne Negro, Nina passa a sofrer conflitos internos onde suas duas personalidades duelam, além de sofrer alucinações (algumas que envolvem muito sangue) e, por vezes, não saber o que é real. Sua obsessão é tão gritante, que esta até mesmo se autotortura fisicamente como punição pelos seus erros. Destaque para a sequência inicial na qual ela tem um sonho estranho onde é o Cisne Branco e é tentada pelo Cisne Negro, representando a tal personalidade que já existia em seu interior só esperando ser liberta (como todos nós). Outra passagem de realce é quando Nina se encontra em um corredor (de branco) e vê uma misteriosa mulher n’outra ponta (de preto) lhe imitando os movimentos. Ao começar andar, ela segue em sua direção e se pode notar que seu rosto é o mesmo de Nina, o que representa seu lado negro começando a despertar. Mais uma cena que enfatizo, é a que a obcecada dançarina de balé, alucinando, foge de uma figura horrenda que a persegue, representando seu Cisne Negro tentando tomar o controle. Ainda referente a esta disputa de personalidades, é possível teorizar que sua mãe e Lily não existem, são frutos de sua imaginação, ou seja, a incorporação de seus conflitos interiores.
                No dia da apresentação, já insana e paranoica, a doente protagonista enfrenta um último conflito, conflito este no qual pensa ter matado Lily que lhe representou um empecilho (Cisne Branco) para a interpretação do Cisne Negro. Contudo, ao fim, descobre-se que ela se matou em um ato simbólico onde teve de assassinar (por um tempo) uma de suas personalidades para, com perfeição, incorporar a outra. Como ao desfecho da peça, o Cisne Branco morre, consequentemente Nina também.
                Neste drama que acompanhamos o desenvolvimento psicológico até a loucura de uma sonhadora bailarina e outros conflitos pessoais de segundos, observa-se que, às vezes, seu maior e mais profundo desejo pode ser sua perdição e que tudo tem um preço, além de, em várias situações, o sacrifício por uma finalidade a qual pensa ser proveitosa, pode realmente acabar por sacrificá-lo e não deixá-lo aproveitar de coisa alguma. Isto se percebe em nosso mundo, infelizmente de forma natural e bem comum, em esportistas e artistas muito cobrados que buscam a perfeição por uma indústria comercial e uma pátria (que se aproveitam deles) e por si mesmos, porém, quando alcançada a glória máxima, não podem dela desfrutar porque estão destruídos tanto fisicamente quanto mentalmente. O mesmo acontece com os árduos assalariados que trabalham a vida inteira para sustentar sua família e não vivem, pois nos raros momentos livres para passar com seus amados, têm de descansar. Trabalham para viver, mas vivem trabalhando, o que nos leva a refletir que há alguma coisa errada.
                Dirigido com genialidade por Darren Aronofsky, Cisne Negro, retratando a obsessão (como em outros trabalhos do diretor, podendo-se citar Pi como um excelente exemplo), o filme foi responsável por vencer vários prêmios em diversos festivais dos quais participou, inclusive um Oscar de Melhor Atriz para Natalie Portman, que foi mais do que merecido, e indicado a outros quatro. Embora a atuação desta tenha sido impecável e digna de aplausos, gerou-se uma polêmica por sua dublê não ter sido reconhecida, o que realmente foi injusto. Estes (dublês) deveriam ser mais valorizados, privilegiados e até mesmo concorrer ao Oscar em uma premiação individual como a tanto tempo lutam.
                Além de explorar de diversas formas a vida (vida nem um pouco fácil e simples) de uma dançarina de balé (tanto psicologicamente, quanto fisicamente), Cisne Negro ainda prova que esta é uma profissão para ambos os sexos e expõe toda sua beleza, o que torna o preconceito banal e idiota.
                 Encerrando, deixo duas perguntas para associar ao longa e refletir. O que mais importa, viver uma vida curta, mas da maneira desejada, ou uma vida longa, porém infeliz? E, será que vale a pena lutar por algo do qual você se beneficiará muito pouco, contudo o deixará extremamente feliz?
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

Avaliações:
IMDb: 8,0
Rotten: 87%
Adoro Cinema (usuários): 4,5

Kontaminantes (Matheus J. S.): 10



Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):

 Estados Unidos
2010
 • cor •  108 min 
Direção
Darren Aronofsky
Produção
Scott Franklin
Mike Medavoy
Arnold Messer
Brian Oliver
Roteiro
Mark Heyman
Andres Heinz
John McLaughlin
Elenco
Natalie Portman
Vincent Cassel
Mila Kunis
Barbara Hershey
Winona Ryder
Gênero
Suspense
Drama
Terror Psicológico
Música
Clint Mansell
Pyotr Ilyich Tchaikovsky
Companhia(s) produtora(s)
Cross Creek Pictures
Phoenix Pictures
Distribuição
Fox Searchlight Pictures
Lançamento
EUA
3 de dezembro de 2010
Idioma
Inglês
Orçamento
US$ 13 milhões 
Receita
US$ 329 400 000 


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