31 de outubro de 2016

Kontaminantes ☣ , Scarface (1983) , Filmes ,

Scarface (1983)


               Temas relacionados a bandidos, policiais, drogas, tiros, gângster e bastante ação, sempre chama muita atenção, e Scarface propõe tudo isto e ainda mais.
                A primeira meia hora do filme já deixa bem claro o estilo que este seguirá, palavrões, mortes, sangue... e a personalidade do personagem principal, Tony Montana, igualmente mostra-se evidente em um diálogo no início com alguns policiais (pelo menos na primeira parte do longa) de forma até mesmo cômica e descontraída. Personalidade esta bem trabalhada durante a película e que influencia diretamente na trama, destemido, impulsivo, folgado, abusado, egoísta, ganancioso e ambicioso, chegando muitas vezes até ser engraçado devido a seu jeito e palavreado. Al Pacino, que na época já era um consagrado ator, merece ainda maior mérito pela sua excelente interpretação. Outras atuações também se destacam, porém a que mais me chamou atenção foi do intérprete de Many, talvez por conta de eu ter gostado bastante do personagem.
                A princípio sendo bombardeado de críticas negativas pelos “especializados” (pasmem, o filme foi até mesmo indicado ao prêmio Framboesa de Pior Diretor, um insulto ao renomado Brian de Palma, o mesmo responsável pelos ilustres Os Intocáveis, Vestida para Matar, Missão Impossível e O Pagamento Final) por determinadas cenas, violência em excesso, linguagem imprópria e até mesmo preconceito, Scarface, com suas ousadas e ambiciosas propostas, contudo, recebeu um dos primeiros elogios do bem reputado Martin Scorsese, o que não é pouca coisa. Além, hoje o longa é muito bem avaliado e considerado um clássico pela maestria com a qual abordou assuntos relacionado à máfia, pela identidade própria que apresentou e pela influência que exerce até agora e que continuará exercendo.
                Referindo-se às determinadas cenas (já citadas) que acabaram por deixar chocadas algumas pessoas, estas realmente são bem marcantes, pois acabam por envolver até mesmo uma motosserra, um helicóptero e uma corda, e uma passagem que se tornou clássica que envolve um lança-granadas, vários tiros, muito sangue, cadáveres de sobra e palavrões incontáveis. Outros momentos que enfatizo, embora não tão impactantes, são quando a mãe de Antonio se apresenta, principalmente em sua primeira aparição quando ela repreende, xinga e bate em seu filho mesmo ele sendo um criminoso perigoso e impulsivo, mas ela é sua mãe, e representa todas outras que passam pela mesma situação de ter sua cria “corrompida”, não saber quando será a última vez que a verá e se está segura.
                Sendo o remake de um filme homônimo (título original inovador que se manteve e que faz referência a uma marcante e peculiar característica do personagem principal) de 1932, Scarface, apesar de quase 40 anos desde seu lançamento (1983), continua sendo extremamente atual perante questões burocráticas e políticas exploradas ao decorrer de seu enredo, ademais de diversos pontos reflexivos abordados com genialidade.
                Recebendo extrema importância no roteiro (feito por Oliver Stone que, coincidentemente ou não, na época lutava contra o vício em cocaína) e, pode-se dizer, sendo o alicerce de tudo, o tráfico de drogas na película envolve discussões que variam entre lavagem de dinheiro, como a mídia aborda o assunto e os empecilhos criados consoantes esta abordagem, corrupção de políticos e policiais, tráfico internacional e como os narcóticos ditam e destroem a vida dos usuários. O longa, de forma rápida e sutil, também trata a respeito da legalização de drogas e como isto beneficiaria ainda mais os “governantes”.
    Podendo-se dividir o filme e a trajetória do protagonista em duas partes, uma na qual Montana recebe ordens e a outra na qual ordena, a segunda, quando já é um grande traficante, realça-se por diversos quesitos reflexivos. A vida deste, mesmo tendo “tudo”, é infeliz, e passa a ser monótona e repetitiva (o que acabou por me lembrar da sequência inicial de O Homem Duplicado, assistido recentemente), ele não possui um objetivo concreto na vida (o que me fez fazer uma suave ponte com Amnésia, igualmente visto há pouco tempo), a não ser usar e traficar, o que só o deixa ainda mais impulsivo e ganancioso (além de rabugento). O desenvolvimento do personagem é fantástico, Tony encontra-se ao fim de Scarface como um verdadeiro zumbi, bem diferente do homem alegre, extrovertido e determinado do início, o que o leva a tomar atitudes das quais se arrepende e o faz valorizar certas “coisas” apenas quando as perde, “coisas” pelas quais (como gosta de dizer) “trabalhou” e lutou para conquistar. Além, por conta de seu poder, passa a ter problemas de raiva, descontrole emocional e uma louca obsessão por segurança, o que só o torna ainda mais paranoico. Apesar de tudo, Antonio, em certo momento, realiza uma ação que pode ser considerada boa, mas que acaba por não ajuda-lo em nada. Vale ressaltar uma cena passada em um restaurante na qual Tony, bêbado, discursa a respeito de ele ser um homem mau e as pessoas o utilizarem para culpar por suas próprias falhas. Questões como lealdade também se destacam (mesmo quando não retribuída).
    A irmã do protagonista, Gina Montana, igualmente interfere muito na vida de seu irmão, mesmo que involuntariamente, o que faz com que este desenvolva um controle egoísta e desesperado sobre ela, por alguns até mesmo associado a um afeto incestuoso, talvez devido a uma das cenas finais (embora sob minha perspectiva isto não aconteça).
    O filme ainda trata sobre os refugiados da época (bem representado na excelentemente trabalhada sequência inicial cooperada com uma música de fundo que corrobora brilhantemente com as cenas mostradas), o que fez muito alegarem que este é preconceituoso pelo fato da maioria dos refugiados se tornarem criminosos nos EUA. Sobretudo, como muito bem posto pela mãe de Montana, a película apenas mostra este tipo de gente que denigre a imagem dos cubanos de bem que se refugiam simplesmente com o intuito de uma vida melhor. Destaco que Tony sempre se gaba de ser um “refugiado político” e odeia comunistas (observem o contexto do período).
     Com o recorde da época do palavrão “fuck” ser usado 226 vezes ao decorrer de todo o longa (hoje ultrapassado somente pelos Bons Companheiros e Pulp Fiction), marco que expressa muito bem o que se esperar do filme, com a frase “Say hello to my little friend” imortalizada no cinema e com saltos no tempo, Scarface ainda conta com uma excelente trilha sonora produzida pelo vencedor do Oscar e produtor italiano Giorgio Moroder, que majestosamente varia entre músicas em inglês e espanhol.
      Arrumando tempo para criar outros personagens que de alguma forma destacam-se (como Chi Chi, Alberto e Sosa) e para mais um tiroteio da mesma forma marcante (este em uma festa), a película ainda consegue nos arrancar risadas com o sempre presente alívio cômico e, com a variedade de situações, em nenhum segundo tornar-se maçante. Além, nas últimas cenas, um personagem que recebe maior realce me chamou atenção, não sei porquê, por me lembrar o ator Van Damme (até mesmo me questionei e tive de pesquisar para confirmar se o era ou não).
                 Em suma, hoje muito respeitado, Scarface merece ser apreciado por todo fã de cinema e principalmente pelos adeptos do gênero, pois é um verdadeiro clássico que se eternizou nas telonas.
                                Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

Avaliações:
IMDb: 8,3
Rotten: 82%
Adoro Cinema (usuários): 4,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9






Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):

Estados Unidos
1983 • cor • 170 min 
Direção
Brian De Palma
Produção
Martin Bregman
Roteiro
Oliver Stone
Elenco
Al Pacino
Gênero
Drama
Policial
Música
Giorgio Moroder
Cinematografia
John A. Alonzo
Edição
Jerry Greenberg
David Ray
Distribuição
Universal Pictures
Lançamento
EUA
9 de dezembro de 1983
Idioma
Inglês
Orçamento
US$25 milhões
Receita
US$65.9 milhões

Nenhum comentário:

Postar um comentário