Temas relacionados a bandidos, policiais, drogas, tiros, gângster e
bastante ação, sempre chama muita atenção, e Scarface propõe tudo isto e ainda
mais.
A primeira meia
hora do filme já deixa bem claro o estilo que este seguirá, palavrões, mortes,
sangue... e a personalidade do personagem principal, Tony Montana, igualmente
mostra-se evidente em um diálogo no início com alguns policiais (pelo menos na
primeira parte do longa) de forma até mesmo cômica e descontraída. Personalidade
esta bem trabalhada durante a película e que influencia diretamente na trama,
destemido, impulsivo, folgado, abusado, egoísta, ganancioso e ambicioso,
chegando muitas vezes até ser engraçado devido a seu jeito e palavreado. Al
Pacino, que na época já era um consagrado ator, merece ainda maior mérito pela
sua excelente interpretação. Outras atuações também se destacam, porém a que
mais me chamou atenção foi do intérprete de Many, talvez por conta de eu ter
gostado bastante do personagem.
A princípio sendo
bombardeado de críticas negativas pelos “especializados” (pasmem, o filme foi
até mesmo indicado ao prêmio Framboesa de Pior Diretor, um insulto ao renomado
Brian de Palma, o mesmo responsável pelos ilustres Os Intocáveis, Vestida para
Matar, Missão Impossível e O Pagamento Final) por determinadas cenas, violência
em excesso, linguagem imprópria e até mesmo preconceito, Scarface, com suas
ousadas e ambiciosas propostas, contudo, recebeu um dos primeiros elogios do
bem reputado Martin Scorsese, o que não é pouca coisa. Além, hoje o longa é
muito bem avaliado e considerado um clássico pela maestria com a qual abordou
assuntos relacionado à máfia, pela identidade própria que apresentou e pela
influência que exerce até agora e que continuará exercendo.
Referindo-se às
determinadas cenas (já citadas) que acabaram por deixar chocadas algumas
pessoas, estas realmente são bem marcantes, pois acabam por envolver até mesmo
uma motosserra, um helicóptero e uma corda, e uma passagem que se tornou
clássica que envolve um lança-granadas, vários tiros, muito sangue, cadáveres
de sobra e palavrões incontáveis. Outros momentos que enfatizo, embora não tão
impactantes, são quando a mãe de Antonio se apresenta, principalmente em sua
primeira aparição quando ela repreende, xinga e bate em seu filho mesmo ele
sendo um criminoso perigoso e impulsivo, mas ela é sua mãe, e representa todas
outras que passam pela mesma situação de ter sua cria “corrompida”, não saber
quando será a última vez que a verá e se está segura.
Sendo o remake de
um filme homônimo (título original inovador que se manteve e que faz referência
a uma marcante e peculiar característica do personagem principal) de 1932,
Scarface, apesar de quase 40 anos desde seu lançamento (1983), continua sendo
extremamente atual perante questões burocráticas e políticas exploradas ao
decorrer de seu enredo, ademais de diversos pontos reflexivos abordados com
genialidade.
Recebendo extrema
importância no roteiro (feito por Oliver Stone que, coincidentemente ou não, na
época lutava contra o vício em cocaína) e, pode-se dizer, sendo o alicerce de
tudo, o tráfico de drogas na película envolve discussões que variam entre
lavagem de dinheiro, como a mídia aborda o assunto e os empecilhos criados
consoantes esta abordagem, corrupção de políticos e policiais, tráfico
internacional e como os narcóticos ditam e destroem a vida dos usuários. O
longa, de forma rápida e sutil, também trata a respeito da legalização de
drogas e como isto beneficiaria ainda mais os “governantes”.
Podendo-se dividir o filme e a trajetória do
protagonista em duas partes, uma na qual Montana recebe ordens e a outra na
qual ordena, a segunda, quando já é um grande traficante, realça-se por
diversos quesitos reflexivos. A vida deste, mesmo tendo “tudo”, é infeliz, e passa
a ser monótona e repetitiva (o que acabou por me lembrar da sequência inicial
de O Homem Duplicado, assistido recentemente), ele não possui um objetivo
concreto na vida (o que me fez fazer uma suave ponte com Amnésia, igualmente
visto há pouco tempo), a não ser usar e traficar, o que só o deixa ainda mais
impulsivo e ganancioso (além de rabugento). O desenvolvimento do personagem é
fantástico, Tony encontra-se ao fim de Scarface como um verdadeiro zumbi, bem
diferente do homem alegre, extrovertido e determinado do início, o que o leva a
tomar atitudes das quais se arrepende e o faz valorizar certas “coisas” apenas
quando as perde, “coisas” pelas quais (como gosta de dizer) “trabalhou” e lutou
para conquistar. Além, por conta de seu poder, passa a ter problemas de raiva,
descontrole emocional e uma louca obsessão por segurança, o que só o torna
ainda mais paranoico. Apesar de tudo, Antonio, em certo momento, realiza uma
ação que pode ser considerada boa, mas que acaba por não ajuda-lo em nada. Vale
ressaltar uma cena passada em um restaurante na qual Tony, bêbado, discursa a
respeito de ele ser um homem mau e as pessoas o utilizarem para culpar por suas
próprias falhas. Questões como lealdade também se destacam (mesmo quando não
retribuída).
A irmã do protagonista, Gina Montana, igualmente
interfere muito na vida de seu irmão, mesmo que involuntariamente, o que faz
com que este desenvolva um controle egoísta e desesperado sobre ela, por alguns
até mesmo associado a um afeto incestuoso, talvez devido a uma das cenas finais
(embora sob minha perspectiva isto não aconteça).
O filme ainda trata sobre os refugiados da época
(bem representado na excelentemente trabalhada sequência inicial cooperada com
uma música de fundo que corrobora brilhantemente com as cenas mostradas), o que
fez muito alegarem que este é preconceituoso pelo fato da maioria dos
refugiados se tornarem criminosos nos EUA. Sobretudo, como muito bem posto pela
mãe de Montana, a película apenas mostra este tipo de gente que denigre a
imagem dos cubanos de bem que se refugiam simplesmente com o intuito de uma
vida melhor. Destaco que Tony sempre se gaba de ser um “refugiado político” e
odeia comunistas (observem o contexto do período).
Com o recorde da época do palavrão “fuck” ser usado
226 vezes ao decorrer de todo o longa (hoje ultrapassado somente pelos Bons
Companheiros e Pulp Fiction), marco que expressa muito bem o que se esperar do
filme, com a frase “Say hello to my little friend” imortalizada no cinema e com
saltos no tempo, Scarface ainda conta com uma excelente trilha sonora produzida
pelo vencedor do Oscar e produtor italiano Giorgio Moroder, que majestosamente
varia entre músicas em inglês e espanhol.
Arrumando tempo para criar outros personagens que de
alguma forma destacam-se (como Chi Chi, Alberto e Sosa) e para mais um tiroteio
da mesma forma marcante (este em uma festa), a película ainda consegue nos
arrancar risadas com o sempre presente alívio cômico e, com a variedade de
situações, em nenhum segundo tornar-se maçante. Além, nas últimas cenas, um
personagem que recebe maior realce me chamou atenção, não sei porquê, por me
lembrar o ator Van Damme (até mesmo me questionei e tive de pesquisar para
confirmar se o era ou não).
Em suma, hoje
muito respeitado, Scarface merece ser apreciado por todo fã de cinema e
principalmente pelos adeptos do gênero, pois é um verdadeiro clássico que se
eternizou nas telonas.
Matheus J.
S.
Assista e
Kontamine-se
Avaliações:
IMDb: 8,3
Rotten: 82%
Adoro Cinema (usuários): 4,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):
Estados Unidos
1983 • cor • 170 min |
|
Direção
|
Brian De Palma
|
Produção
|
Martin Bregman
|
Roteiro
|
Oliver Stone
|
Elenco
|
Al Pacino
|
Gênero
|
Drama
Policial |
Música
|
Giorgio Moroder
|
Cinematografia
|
John A. Alonzo
|
Edição
|
Jerry Greenberg
David Ray |
Distribuição
|
Universal Pictures
|
Lançamento
|
EUA
9 de dezembro de 1983
|
Idioma
|
Inglês
|
Orçamento
|
US$25 milhões
|
Receita
|
US$65.9 milhões
|
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