18 de novembro de 2017

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Stranger Things (1ª Temporada)

Tv


Nostalgia, diversão e mistério, três palavras que definem a primeira temporada de Stranger Things.
Um dos aspectos fundamentais para o bom funcionamento da série se deve aos diversos vínculos que a mesma propõe para com seu espectador. Adultos ou adolescentes, ambos são introduzidos de distintas formas no mundo de Stranger Things, seja pelas inúmeras referências a década de 80 e a atmosfera extremamente imersiva do respectivo período que satisfará os mais velhos, seja pela abordagem do desenvolvimento de seus personagens joviais, o frenesi das sequências mais agitadas e a comicidade que agradará os mais jovens. Outro fator que se responsabiliza pelo sucesso do programa é o misto de gêneros sem perda de foco, isto é, suspense e ficção científica coordenados a pitadas de terror, ação e drama num turbilhão de eventos extremamente instigantes e imprevisíveis.
Stranger Things compreende e dialoga com seu público, o que é ressaltado pela mescla de contextos, visto que a série consegue e sabe, como e quando, agradar o mais entediado espectador com o realce do intrigante plot acerca do desaparecimento de Will, atiçar o tato dos mais curiosos com o debate de intricadas teorias científicas, alavancar as expectativas dos teóricos da conspiração com a ênfase em experimentos laboratoriais ilícitos e a apresentação de uma "sociedade secreta", compor e exaltar o ar aterrador com o enaltecer de segmentos apreensivos e o implemento de um monstro horrendo e temível, satisfazer os mais ávidos por sangue com boas e ágeis cenas de combate e descontrair o clima com o caráter saudosista na figura das crianças que homenageiam a cultura geek, seja nos jogos de RPG, nas menções a ícones da música, literatura e cinema, e até na forma como se vestem, se comportam e encaram as situações de seu cotidiano com citações e analogias. A dramatização do enredo fica por conta das incógnitas pendentes do sumiço do garoto Bayers: ele está vivo? Onde está? O que exatamente aconteceu? Por que ele? Embora nem todas as respostas venham à tona, o roteiro é genuíno na confecção de Joyce Bayers, interpretada magistralmente por Winona Ryder, uma mãe aflita com a perda de seu filho, em desespero, desamparada, inconsolável e implacável em sua busca, quase que paranoica e vista por muitos como louca.
A química entre os personagens é fantástica, bem como a concepção individual de cada um e as atuações. Dentre o grupo principal, Mike é quase que um "líder azedo" que se encarrega do abrigo e inclusão de Onze na equipe, ademais de, para com a mesma, estabelecer um forte laço de carinho e interesse recíproco. Dustin é o mais hilário e sensato, modelando para com todos à sua volta relações saudáveis e amistosas, Lucas o mais impulsivo que funciona muito bem em conjunto com os outros integrantes, enquanto Will, mesmo com pouquíssimo tempo de tela, tem sua ausência dolorosamente sentida pelo grupo e, por meio de flashbacks, salientado o companheirismo com Jonathan (irmão mais velho), sua influência sobre o caçula e o apoio emocional, além do sublinho no compacto relacionamento maternal de amor e carinho. Jonathan, por sua vez, não se enquadra a convenções sociais, se distancia e se isola das pessoas e, ademais de partilhar do martírio de sua mãe consoante à perda de Will que também acarreta em confrontos, inicia uma improvável e surpreendente aliança com Nancy (irmã mais velha de Mike). Já esta, a "garota certinha" namorada do "popular da escola", desolada pela culpa do desaparecimento de sua amiga Bárbara, simultaneamente se encontra numa jornada de descobertas femininas e no centro dum complexo triângulo, visto que integra com Steve um romance, mas se identifica com Jonathan e se vê muito próxima dele (além da dinâmica entre os atores ser excelente), o que, certamente, desencadeia atritos típicos de adolescentes, fator que corrobora para o aprofundamento da personalidade do trio.
Ratificando a nuance dramática do entrecho, destaca-se Onze que, deslocada, em descoberta do mundo e em busca de mútua aceitação no bando mirim, igualmente é atormentada por seu passado, pelos experimentos o qual foi cobaia e pela imagem de seu pai que a induziu aos atos desumanos, o Dr. Brenner, uma figura impassível, ameaçadora e cruel, o antagonista humano e catalisador de todos os males da temporada. Em contraparte, pelo lado dos mocinhos a notoriedade se restringe a Jim Hopper, um dos grandes nomes do ano, sempre com uma forte presença de tela, imponente, convicto e sagaz, desempenhando a função de delegado "casca grossa" carismático e conflituoso que, também pelo recurso de flashbacks, é assombrado por seu histórico, ou seja, pela perda de sua filha e o divórcio consequente que, ademais, na tarefa de salvar Will vê uma forma de rendição. Seja nas frases sarcásticas, no liderar das investigações, na inflexibilidade ao lidar com as crianças mediante situações que exigem seriedade ou no uso de artimanhas e estratégias para um determinado fim, Hopper constantemente suscita mais do que aparenta, concebendo um personagem cativante e essencial para o progresso da trama, porém de moral e arco questionáveis.
Oitentista desde sua modesta (mas sensacional) abertura até a seleta trilha sonora, o programa transmite com maestria o espírito da época, o que é enfatizado pela família tradicional de Mike, a frequente aparição do tabaco, as vestimentas características, os padrões de moda, aparatos tecnológicos... Igualmente primoroso na execução de passagens que se tornam memoráveis, Stranger Things, logo no segmento inicial do episódio 3 (Holly, Jolly), tem o cuidado de seus desenvolvedores reiterado com uma sequência antagônica e concomitante de regozijo e sofrimento, onde, ao correr de rápidos cortes, são frisados gemidos de prazer e agonia, levando o público, trágico e brilhantemente, a vivenciar percepções completamente inversas.
No mais, os personagens secundários funcionam bem como sustento das cenas menos relevantes, isto é, como o humor advindo dos oficiais Powell e Callahan, a contínua assistência e o compromisso do dever de Florence a Hopper, a indiferença de Ted (pai do Mike e da Nancy), as tentativas de Karen por uma melhor comunicação para com os filhos (Mike e Nancy), a inocência de Holly, a bondade e inteligência do prof. Clarke e a rebeldia e algazarra de Carol e Tommy (colegas do Steve). Além, os suspiros derradeiros da temporada não podem ser esquecidos, já que os mesmos são responsáveis por agregar dúvidas e elementos irresolutos impulsores ao ano seguinte.
Stranger Things é tributo, entretenimento e um belo retrato da amizade.
Matheus J. S.  10

Quem nunca quis viver uma grande aventura? Superar desafios? Ser aceito? Ter amigos de verdade para sempre? Esses são alguns dos temas recorrentes dos filmes e entretenimentos dos anos oitenta. Mas o que faz uma série de hoje ambientada naquela época contendo uma enormidade de referências fazer um sucesso avassalador como ST?
Além do teor nostálgico que faz a alegria dos quarentões e cinquentões, somados a neo-cultura geek ou nerd (ou outro termo adequado), também podemos dizer que quarenta anos depois, mesmo com o salto tecnológico e a teórica quebra das distâncias, os anseios de grande parte da humanidade continua sendo praticamente os mesmos e ainda contamos com uma maior abrangência de faixas etárias, se antes o contexto era voltado para um público especifico, hoje facilmente conquista crianças, jovens e adultos. Neste quesito, ST ganha mais um ponto a seu favor, mostrando com mais ou menos ênfase os conflitos e ambições das três gerações presentes na série. Logo nos primeiros momentos da série conseguimos identificar os estereótipos presentes, adultos com problemas, jovens procurando o seu lugar no mundo e crianças que conseguem transportar toda a coragem, lealdade e conquistas das suas fantasias para a sua realidade.
Falando novamente sobre referência, esse é mais um acerto de ST e certamente corresponde a um terço do sucesso da mesma. Provavelmente é impossível perceber todas as referências em um primeiro momento, porém é fato que dificilmente não se tratará de um mega sucesso da época ou de algo icônico, daqueles que sempre vira tema de conversas de quem passou por aquele período, e quem não se identifica quando um personagem da ficção compartilha dos seus gostos ou algo que você curtiu ou fez... isso tudo gera uma sensação ambígua de existência estreitando os laços que unem a ficção e o real. O grande lance é colocar todas as referências de um modo que não sufoque o apreciador ou comprometa a trama, o que ocorre naturalmente na série. Enquanto algumas referências são modestas, outras são escandalosamente mostradas em mais de um momento, entre elas podemos destacar ET, Os Goonies e também o nome de Stephen King que é lembrado por referências a seus personagens, suas obras e adaptações. Ainda falando sobre referências e King (escritor este que emplacou cinco adaptações este ano), não é difícil que em algum momento da série vejamos referências que não existam devido ao grande volume delas, digo isto porque não encontrei ninguém citando It-A Coisa e, em dois momentos, eu vi nitidamente cenas do livro e de sua primeira adaptação. Um desses momentos é a cena da pedreira que lembra a lendária batalha de pedras, e também a cena do ônibus que lembra a foto do Clube dos Otários.
Os personagens ganham mais ou menos relevância de acordo com a subtrama do episódio e provavelmente maior destaque de acordo com a evolução do arco que atualmente está em sua segunda temporada e ainda pode render inúmeros plot twist e revelações, sendo o principal o de um grupo de crianças do qual giram os acontecimentos que impulsionam o enredo e dão suporte para o desenvolvimento dos outros. Mais uma vez a produção acerta, logo que poucos projetos envolvendo um elenco infantil não deslancharam. Independente do desempenho da atuação de cada ator, é fato e certo que o público sempre elege os seus personagens favoritos, a carisma do ator e a força do personagem contribuindo, porém usar a semelhança física do ator e estereótipo do personagem do qual eles fazem referência é uma jogada mestre. Talvez nem todos conheçam, mas o Mike não lembra o Elliot (Et), o Lucas o Larvell Jones (Loucademia de Polícia) e o Dustin o Gordo de Os Goonies? Apenas alguns dos inesquecíveis daquela década.
A trama aborda temas como poderes psiônicos, realidade paralela, agência secreta de pesquisa do governo... velhos conhecidos da ficção cientifica. Tendo um desenvolvimento onde os principais personagens são envolvidos de uma maneira distinta, correndo paralelamente em direção ao vértice principal do enredo, isso faz com que mantenha o interesse e a expectativa em alta pelo próximo episódio.
Resumindo, estes foram alguns pontos que atraíram o meu interesse e mantiveram o prestígio em alta do primeiro ao último episódio desta primeira temporada, deixando a pergunta se ST conseguirá manter esse padrão, pois o risco de tropeçar em seus próprios passos é alto e real. Por enquanto só cabe a nós torcer pela produção não se perder na receita e não errar a mão na dosagem dos ingredientes.

leonejs.  9

Com oito episódios e nenhum filler, Stranger Things traz uma história sensacional que gira em torno de vários personagens e ao mesmo tempo é cheio de referências do século passado. A série inova ao juntar diversas coisas que já vimos em filmes bons e antigos, crianças se aventurando em meio ao perigo, telecinese, experimentos científicos, terror... e tudo isso acontecendo em uma pequena cidade, e ela consegue fazer isso perfeitamente.
Com certeza essa série tem grande potencial, e se suas próximas temporadas continuarem assim, ela poderá ser considerada uma das melhores já feitas.
Murillo J. S.  10

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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 15 de julho de 2016
Criado por: Matt Duffer, Ross Duffer
Com: Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard…
País: EUA
Gênero (s): Fantasia; Suspense
Status: Renovada
Duração (aproximadamente): 55 minutos

Avaliação:
IMDb (2016- ): 9,0
Rotten: 94%
Metacritic: 76%
Filmow (média geral): 4,5
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Kontaminantes (média): 9,5
Avaliação

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