8 de dezembro de 2017

Kontaminantes ☣ , Jogos Mortais , Filmes , TerrorHorror-filme ,

Jogos Mortais

Pôster


Precursor do torture porn, Jogos Mortais chegava aos cinemas em 2004 com uma trama que, embora provavelmente tenha sido vendida mais pelas sequências sangrentas, se mostra interessante e bem elaborada.
Considerando o baixo orçamento disponível para produção, certamente glamorosos efeitos especiais e visuais estavam fora de questão, o que fez, certo e felizmente, com que os desenvolvedores tivessem que voltar sua atenção para o enredo, o grande forte do filme. Dirigido e roteirizado (estória) por James Wan (Invocação do Mal, Sobrenatural, Velozes e Furiosos 7...), o cineasta demonstra genialidade ao conceber uma narrativa barata que se passa durante grande parte dentro de um quarto, que se sustenta principalmente por seus diálogos naturais e fluidos e as gradativas revelações acerca do que se acontece. Isto é, visto que o palratório entre os protagonistas dita o ritmo do longa, o script é inteligente ao engajar o espectador dentre os mistérios que cercam os protagonistas, envolvendo-o de forma a refletir, repensar e se intrigar corrente as descobertas compartilhadas entre as figuras em cena. Em contraparte, é sugestivo ao enfatizar específicas informações e atitudes dos mesmos que um não fornece e esconde do outro, o que leva o público a duvidar da integridade dos personagens e a veracidade de suas falas.
Sem nunca tornar-se verborrágico, a película cria uma excelente dinâmica entre seus dois principais rostos ratificado pelo bom trabalho de interpretação, ou seja, os atores sabem se comportar contundentemente às várias situações em tela, que vão desde eventos permeados por uma atmosfera sutilmente cômica até o traumático e apreensivo drama e o enigmático suspense. Ademais, ao optar pelo uso de flashbacks, que aqui é funcional, o filme leva o espectador a conhecer melhor seus personagens, bem como o caminhar da investigação sobre Jigsaw e os policiais responsáveis pelo caso (bem utilizados e relevantes ao roteiro), sempre fornecendo dados pertinentes ao público sem se deixar ficar demasiado expositivo.
Jogos Mortais, racional ao dosar sua verba em elementos de real importância, é extremamente imersivo mediante a confecção sórdida de suas ambientações relacionadas às vítimas, a maquiagem consoante o passar dos acontecimentos e o estado de degradação física (sujeira, feridas e palidez) em que as mesmas se encontram, além dos segmentos de maior agonia referentes a determinados eventos impossíveis de se concretizar perante certos impasses e empecilhos (como o alcançar de um celular a um metro de distância impossibilitado por uma corrente ou a angústia de se falar por um celular com a família feita refém e nada se poder fazer). Reiterando os míseros 1,2 milhões de dólares gastos no longa, a equipe técnica teve de se contentar com moderados baldes de sangue, o que atribui um ar de genuína aflição nos momentos mais violentos, distante da agressividade gráfica tarantinesca, bem como não o é tão visceral quanto seus pôsteres pode aparentar.
Clássico do horror moderno, Jogos Mortais é um filme marcante por diversos motivos, seja por sua inesquecível música-tema (Hello Zepp), seu singular modo de gravar determinadas cenas sob uma câmera frenética e insana acentuada por uma trilha sonora grave ou até mesmo por seu aterrorizante e icônico boneco. No entanto, seu principal aspecto remete ao memorável "anti-herói" Jigsaw e sua filosofia de vida, resumindo, "aqueles que não apreciam a vida não merecem viver". Agora, se você se pergunta o porquê do uso da palavra anti-herói e não vilão ou antagonista, a resposta é simples, isto é, visto que o anti-herói é um ser que oscila sobre a linha tênue que separa o bem do mal, Jigsaw, apesar de seus jogos macabros, é o responsável por salvar vidas, como dito por uma de suas próprias vítimas. Ademais, o mesmo se encarrega pela limpa de inúmeros criminosos das ruas e pela mudança de perspectiva de seus jogadores (por exemplo, o colocar de um ponto final num vício), o que acarreta muita contradição conforme seus métodos e geralmente põe o espectador a questionar sua moral. No mais, considerando que a identidade do reputado maníaco ao longo de muito tempo é uma incógnita, o longa usufrui deste fator a estimular a imaginação de seu público e criar um ar escuso a respeito da fisionomia e histórico de Jigsaw.
Todavia, dentre seus muitos acertos, a película peca no inconclusivo plot do Zep, no arco obsessivo do Tapp que poderia ter sido mais bem explorado, na concepção da personagem Diana que nada mais sabe fazer a não ser gritar pela mãe e em seu desfecho que, embora surpreendente e brilhantemente arquitetado, deixa pendências que mereciam ser esclarecidas.
Jogos Mortais é atmosférico, desenvolve bem seus personagens, sabe lidar com o reduzido orçamento, falha pouco, entretém, é imprevisível e sabe incitar seu espectador.
                Matheus J. S.


Cena do filme


Assista e Kontamine-se

Comente e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil):  4 de fevereiro de 2005 (1h 44min)
Direção: James Wan
Elenco: Leigh Whannell, Cary Elwes, Danny Glover…
Gêneros: Terror; Suspense
Nacionalidade: EUA

Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 49%
Metacritic: 46%
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários): 4,2
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8
Avaliação

Nenhum comentário:

Postar um comentário