Os anos 60 foram marcados por alguns eventos
bastante icônicos, estes que vão desde a criação dos Beatles até a chegada do
homem à Lua. Contudo, o cinema também se mostrou notório e repercussivo em tal
década: se em 1963 houve o lançamento de Os Pássaros e em 1969 a estreia de 2001: Uma Odisseia no Espaço, pouco antes, em 1968, chegava aos cinemas O Bebê de
Rosemary.
Dirigido por Roman Polanski (Chinatown, O
Pianista, Deus da Carnificina...), O Bebê de Rosemary, considerado por alguns
um filme bastante medonho e incômodo - isto sem falar das supostas maldições
que o norteiam -, já toma início a contrastar com a ótica preconceituosa e
generalizada que se tem de si, ou seja, o longa principia com um panorama aéreo
da cidade de Nova York, com a apresentação dos créditos iniciais em tonalidade
rosa e uma canção emplumada que remete a outro gênero. O próprio O Exorcista,
que só viria a estrear em 1973, toma partida com uma música grave extremamente
cacofônica que logo de cara espairece o quê o mesmo tem a oferecer, enquanto os
primórdios de O Bebê de Rosemary lembram uma novela mexicana. É peculiar para a
época, mas subversivo e curioso.
Embora comumente chamado de terror, O Bebê de
Rosemary é uma película promíscua (e isso no bom sentido), difícil de
classificar. É uma alegoria sobre a apreensão e os temores de uma mulher
grávida, a crescente ameaça e imprevisibilidade duma vizinhança suspeita, os
procedimentos para uma seita macabra com intuitos satânicos, a adaptação de um
casal recém-alocado ao novo apartamento... essa mescla de temas e contextos,
apesar de criar uma sensação de dinamismo e agilidade, se dá imbuída por um
ritmo bastante lento. Os primeiros 40min da produção se baseiam em estabelecer
a química entre o casal principal e o convívio rotineiro com os moradores
adjacentes, o quê, se por um lado permite o devido tratamento dos diversos
relacionamentos na residência e o paulatino semear de insinuações dum potencial
mal que ronda o ambiente, por outro, durante determinados momentos, toma uma
cadência arrastada. Ratificando e todavia, tal espaço de tempo possibilita a
perfeita evolução de dois outros fundamentais personagens: o apartamento e a
vizinhança.
Muito mais que somente palco da odisseia
narrativa, o famigerado apartamento (que não por acaso dá nome a trilogia
composta por Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary e O Inquilino) se mostra uma
peça-chave na construção da personalidade de Rose, seja no habituar da mesma
sobre o local e os estranhos acontecimentos que se seguem, nos mistérios que o
acercam ou no simples semear de sutis sugestionamentos que o colocam como
potencial impulsor da instabilidade mental da personagem. Já os vizinhos, a
princípio normais, receptivos e amistosos (até demais, chegando a se tornarem
chatos), gradativamente passam a gerar desconfiança e indiretamente influenciar
conflitos entre o casal, sem falar da constante dúvida que os mesmos preservam
no espectador a respeito de seus objetivos e integridade, afinal, nem tudo o
que se vê em O Bebê de Rosemary pode se firmar como real e concreto. Isto é, ao
flertar com o subjetivismo e o abstrato, o longa transita por terrenos confusos
e perturbadores que, ao ponto que reiteram a hipotética paranoia de Rose,
deixam no ar incógnitas condizentes a própria veracidade do que é visto e
especulado. Mais que tudo, O Bebê de Rosemary é um filme sobre o complexo
desenvolvimento psicológico de seus personagens e de seu público.
Considerando que a atmosfera enervante de
conseguintes mistérios é essencial para completude da obra, destaca-se e
corrobora a trilha sonora bastante inquieta e característica, assim como as
atuações. Mia Farrow e John Cassavetes, como os atores de maior realce do
elenco, se portam com consentaneidade a seus papeis. John, como o bom marido
Guy, interpreta a persona mais carismática da película, enquanto Mia, como
Rosemary, incorpora com maestria toda transformação física e mental da
personagem, o desamparo e desespero dela chega a ser contaminante.
Em suma, O Bebê de Rosemary é um clássico do
gênero e não à toa desponta como um dos melhores trabalhos do currículo de
Roman Polanski.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 21
de maio de 1969 (2h 16min)
Direção: Roman Polanski
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon…
Gêneros: Terror; Drama; Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Um
casal se muda para um prédio com pessoas estranhas. Acontecimentos ainda mais
estranhos levam a jovem, que está grávida, a duvidar de sua própria sanidade.
Porém, o parto e a descoberta de uma seita diabólica irão finalmente mostrar a
verdade.
Avaliação:
IMDb:
8,0
Rotten:
99%
Metacritic:
96%
Filmow
(média geral): 3,9
Adoro
Cinema (usuários): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Nenhum comentário:
Postar um comentário