Se perguntados sobre o melhor filme já feito,
críticos e cinéfilos lhe citarão nomes como Cidadão Kane, Casablanca, O
Poderoso Chefão, Psicose, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Taxi Driver, Tempos
Modernos, Apocalipse Now... mas isso porque eles nunca assistiram Triângulo do
Medo.
Com uma introdução apoteótica marcada pela
sonoridade melancólica de Lullaby (Christian Henson feat. Dot Allison) e o
consolar em lágrimas de uma mãe ao filho atônito, o longa já introduz seu niilismo
e desalento e algumas questões que acompanharão o espectador até seu desfecho:
por que o garoto está perplexo? E a mãe, por que chora? O que os levou àquela
situação? E não é pra menos, afinal, Triângulo do Medo é um daqueles filmes que
para ter uma boa compreensão do que se passa é necessário assisti-lo mais de
uma vez. Contudo, um de seus maiores trunfos é a forma sagaz com que dispõe
seus detalhes e dissuade o público a crer em algo que no fim, se refletido e
repensado, verá que se encontra errôneo. Nem sempre o aparentemente simples se
mostra acertadamente tão singelo.
Apesar da trama fictícia, Triângulo do Medo é
mais que uma produção comum de enredo complexo, é um cáustico drama humano
sobre a culpa de uma mãe. (SPOILERS A SEGUIR)
Jovem, solteira, estressada e com filho autista (Tommy), Jess é uma figura
maternal que não consegue lidar com os fardos do respectivo posto e acaba, em
momentos de descontrole, por descontar suas frustações no filho. Embora possa
parecer, Jess não é uma pessoa ruim, pelo contrário, demonstra enorme amor por
Tommy - como frequentemente a película reitera - e encontra-se apenas numa
posição delicada para arcar com todas responsabilidades que lhe caem às costas.
No entanto, a grande sacada do longa está exatamente no contraste que existe
entre os sentimentos da personagem e suas ações. Jess, apesar de tentar fazer o
certo, toma decisões bem questionáveis, mas absolutamente inteligíveis, que a
colocam num ciclo eterno de angústia e sofrimento pelo incurável remorso que
sente. (FIM DOS SPOILERS) Em Triângulo do Medo
se constata que a vida muitas vezes pode ser insolúvel.
Corroborando ao tom acabrunhado do filme,
destaca-se a paleta de cores foscas que o confeccionam, estas que, embora
transitem por tonalidades diversas, sempre se encontram apáticas. O trabalho de
Melissa George igualmente se acentua na pele de uma mãe aflita, confusa,
desamparada... o espectador se vê agoniado com o constante martírio da persona.
Referente ao restante do elenco, ninguém se realça, nem mesmo o rosto mais
conhecido entre eles que diz respeito ao Liam Hemsworth numa performance bem
convencional. Ademais, apesar de previsível em certos aspectos, a película
surpreende pelos desdobramentos do roteiro, embasbaca pelas simbologias
utilizadas, intriga pelas incógnitas deixadas e instiga pelas inúmeras
interpretações possíveis, sem falar do curioso flerte com a mitologia grega, as
reflexões impulsionadas pelos abstrusos conceitos de morte e tortura
representados no longa e a crítica aos egocêntricos comportamentos humano,
como: raiva, inveja, vaidade, cobiça, ignorância e o sentimento de vingança.
Além da fotografia, a direção cinematográfica
de Christopher Smith também se porta com notoriedade, visto que a mesma,
ademais da apreensiva concepção atmosférica, é concisa ao cogitar, por meio de
mentecaptos jogos de câmera e sugestivas repetições de cena, a instabilidade
psicológica de Jess. Há uma sequência específica envolvendo um espelho que
deixará muitos assistentes boquiabertos com a genialidade de sua conceição, bem
como remeterá outros espectadores ao emblemático e similar seguimento de
Contato. No mais, embora o filme tenha seus momentos violentos, Christopher
Smith é minucioso ao dosar tal agressividade com cautela, mostrando apenas o
necessário nas horas certas e somente insinuando o mais visceral em outras.
Triângulo do Medo, ainda que injustamente pouco
reconhecido e comentado, é uma obra-prima.
Matheus J. S. 10
Este talvez seja o filme que encabeçou a lista
do Matheus de filmes que divergem opiniões, ou seja, ficar refletindo o contexto
do mesmo ao seu término. Na primeira vez que assisti, peguei pela metade e
depois sugeri vê-lo novamente. (SPOILERS A SEGUIR) O grande mérito de Triângulo do Medo é que ele
faz com que você o veja completamente para poder encontrar o padrão que o
explique, isso não é muito difícil desde que não se perca alguns detalhes. Ao fim, tinha uma teoria
convincente e plausível baseada em três cenas específicas: primeira, conto
mitológico; segunda, corpo do acidente; terceira, taxista esperando.
Antes de fazer a divagação fui pesquisar um
pouco sobre Sísifo (mitologia grega), e o que encontrei é um pouco diferente do
relatado no filme e isso levanta algumas novas questões. Por exemplo, essa
diferença é falha de dublagem ou é intencional no original? Dependendo disso,
minha teoria fica falha porque não tenho certeza se o padrão pode ser quebrado,
passando para um looping eterno independente da decisão tomada pela
protagonista. Outro detalhe seria o início, como acompanhamos apenas um ciclo
sem saber qual e temos algumas cenas de repetição evidentes como o da moça com
o ferimento na barriga junto ao corpo dela mesma ou quando a protagonista joga
a gaivota morta na praia com outras iguais, não tem como determinar se esse
cenário é o resultado da repetição ou se é algo pré-estabelecido como uma
armadilha de tortura. Esses detalhes e a interpretação mitológica fazem que tanto
as notas como a opinião sobre o filme fiquem na corda bamba, podendo cair ou
não. (FIM DOS SPOILERS)
leonejs. 7
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 16
de outubro de 2009 (1h 39min)
Direção: Christopher Smith
Elenco: Melissa George, Joshua
McIvor, Jack Taylor (III)…
Gênero: Terror
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Os
passageiros de um iate se deparam com misteriosas condições climáticas e são
obrigados a pular da embarcação para um outro barco.
Avaliação:
IMDb:
6,9
Rotten:
80%
Filmow
(média geral): 3,5
Adoro
Cinema (usuários): 3,6
Kontaminantes (média): 8,5
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