Darren Aronofsky é um diretor famoso por criar
filmes fortes, provocativos e abstratos. Com mother! não é diferente.
Subjetivo desde seu princípio, mother! é
um longa que utiliza de simbologias e metáforas para contar sua estória, o quê
se dá de modo completamente eficaz e engenhoso. (SPOILERS
A SEGUIR) No entanto, para ter uma noção do que de se passa é necessário
ter ao menos um conhecimento básico da Bíblia, pois o mesmo, em sua completude,
mesmo frente às diversas interpretações, críticas e analogias, é uma releitura
do livro sagrado, uma recontagem cinematográfica cínica e contundente sob uma
ótica ímpar e pessoal que possibilita a reciclagem dos eventos narrados em algo
único e novo. (FIM DOS SPOILERS) São estes
aspectos que fazem de mother! tão
fantástico e inventivo, sem falar das liberdades criativas proporcionadas pelo
roteiro esdrúxulo que permitem o destrinchar de inúmeras vertentes reflexivas
de maneira orgânica e relevante e as subversões propiciadas pelo mesmo que
possibilitam "brincadeiras" do cineasta com seu espectador. Darren
Aronofsky é simplesmente genial!
Apesar da trama excêntrica e alegórica, a
direção de Aronofsky insere alguns fatores a princípio propositadamente
estranhos com o intuito de dar pistas do que se passa, como por exemplo: os
personagens não têm nomes; a película praticamente só trabalha com objetos e
elementos culturais arcaicos; a ambientação é campestre e reclusa; não há
demarcações conclusivas sobre a passagem de tempo; o vestuário da protagonista
é quase que translúcido... A identidade do diretor também se mostra presente na
confecção dos atributos técnicos de sua obra, seja na sensação de claustrofobia
naturalmente constituída por big close-ups provenientes do uso manual da
câmera, seja na minuciosa sonoplastia que atribui ênfase a sons aparentemente
banais (bater d'água numa pia, esfregar de uma tábua, raspar de um pincel na
parede, estalar da fogueira...) como forma de salientar a imersão do público em
seu entrecho, seja na concepção de extensos planos-sequência que aderem maior
fluidez e impetuosidade ao enredo e permitem um melhor desempenho dos atores.
Indiscutivelmente, mother! é um filme intenso, e não só por conta de sua
cinematografia, mas pela acidez com que aborda díspares âmbitos
"delicados" e pela fascinante capacidade de intertextualizar temas
aparentemente dissonantes: a relação entre marido e mulher; a imagem de Deus
como um ser supremo; degradação da mãe natureza; tensão pré-maternal;
imprudência dum pai inapto; influência psicológica domiciliar; história da
humanidade; conceitos de perfeição e plenitude, hipocrisia e negligência;
existencialismo... mother! é um
longa volátil que transita por distintos gêneros e abrange várias camadas sem
perder o olhar incisivo e autoral de seu diretor.
Ainda sob análise os métodos que Aronofsky
utiliza para moldar sua produção, o cineasta foi extremamente obstinado e
audacioso ao fazer uma película que, para surtir o efeito desejado, o
"politicamente correto" teve de ser deixado de lado, não à toa se problematiza
tanto sobre a obra. Ou seja, além das agudas alfinetadas ao cristianismo e o
conservadorismo ideológico, as controvérsias em torno do filme se enquadram
muito mais a violência estética exibida, empreitada que, mesmo contraditória,
transparece com primor todo repúdio e aversão do diretor a determinadas
doutrinas sociais. Complementando, o longa, já em sua metade, vê o absurdo como
principal personagem numa crescente onda caótica de acontecimentos que culminam
num visceral terceiro ato escatológico apinhado de cenas alarmantes.
Concernente ao elenco, Jennifer Lawrence, como
a estrela da produção, exerce um excelente trabalho de expressões faciais onde
se sobressai a maleabilidade emocional da mesma: ora irritada, confusa,
fragilizada, superprotetora, indignada, ofendida e até desprezada. Já Javier
Bardem interpreta um homem soberbo, superior, intimamente ameaçador, que exala
imponência e autoridade - os jogos de câmera e iluminação são concisos para reiterar
tal faustosa presença -, mas que ao mesmo tempo se deixa levar pelo ego e a
incapacidade de reconhecer a si mesmo e as próprias ações. Ademais, Ed Harris
se porta como o icônico e carismático Ed Harris que todos conhecem, enquanto
Michelle Pfeiffer incorpora uma mulher sagaz, provocativa, atrevida e invasiva.
Todas performances são espetaculares. No mais, os efeitos visuais atendem com
consentaneidade as demandas do script e a maquiagem é meticulosa em sua textura
ao emular hematomas e queimaduras.
Em suma, mother! é um filme difícil,
enervante, complexo, estrambótico, surreal, lancinante, singular, arrojado, mordaz,
instigante, polêmico e arrebatador.
Matheus J. S. 9,5
Dentre os vários filmes que ganharam destaque
em 2017, mother! encabeça a lista dos
que mais divergiram a opinião do público em geral. Opinião esta que oscila
entre obra-prima e fiasco. Respeitar a visão alheia é uma qualidade que todos
deveriam exercitar sempre, e mother!
transita em uma linha de trincheira onde qualquer um dos lados para o qual se
vire o impacto é mútuo.
Em meio
aos muitos pontos de atenção, o mais concreto que podemos realçar é que mais
uma vez Darren Aronofsky surpreende, adentrando no seleto hall de diretores que
são reconhecidos por suas marcas ímpares em seus filmes, caso semelhante ao que
acontece com Quentin Tarantino.
Grandes nomes fazem parte desta produção, dos
quais três são singulares. Darren
Aronofsky assinando direção, produção e roteiro. Jennifer Lawrence, detentora
do Oscar de Melhor Atriz pelo papel de Tiffany em O Lado Bom da Vida e Javier
Bardem que interpretou o icônico assassino Anton Chigurh em Onde os Fracos Não
Têm Vez, papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Esses dois
últimos eram os que mais inflavam as minhas expectativas, logo que a trajetória
de ambos é carimbada por ótimas performances.
A atuação de Jennifer desta vez fica aquém do
que ela já nos apresentou no passado, isso talvez aconteça por causa da própria
produção que em vários momentos se sobressai ofuscando um pouco o brilho da
estrela. Bardem, por sua vez, faz um passeio por vários âmbitos expressivos das
emoções, por vezes lembrando testes de atores onde o monólogo e o extravagante
está presente.
mother! é uma produção interessante, com uma proposta
de visão única. Seu maior trunfo está no olhar de quem o assiste, assim como o
seu tendão de Aquiles.
leonejs. 7
Fico imaginando a reação das pessoas que não
entenderam nada do filme ao assisti-lo pela primeira vez, talvez este indivíduo
logo se apressou em ver algum vídeo ou ler em blogs algo que explicasse o
longa, ou achou que o mesmo é péssimo e completamente sem sentido. No entanto,
há aqueles que o assistiram novamente para tentar entender tudo que não tinham
conseguido captar até o momento, ou até mesmo após uma leitura em blogs
revisitaram novamente a película para criar suas próprias deduções e teorias, e
esses estão completamente corretos, pois mother!
é muito mais do que pode aparentar ser sem um olhar mais atencioso, e também é
um bom filme.
Como já disse, mother! não é fácil de ser entendido, principalmente em seus dois
primeiros atos que, mesmo tranquilos (pelo menos até o início do terceiro),
não aparentam ter algum propósito, mas ao contrário disto, esses possuem um
certo significado em cada cena apresentada. Tais significados só vão poder ser
identificados nas sequências finais (muito provavelmente), estas que levam a
película de estranha para frenética, contudo mesmo sendo interessantes, mostram
algo bem simples em relação a tudo que foi apresentado.
mother! é um filme bom em relação ao que se preocupa
em passar para os telespectadores, porém todo o resto acaba ficando um pouco
sem graça por possuir toda aquela insanidade para mostrar algo simples, se
tornando apenas uma produção boa, mas presunçosa.
Murillo J. S. 8
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 21
de setembro de 2017 (2h 02min)
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier
Bardem, Ed Harris…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Uma mulher pensa que terá um final de semana
tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados na
residência dos dois. Isso faz com que o casamento deles seja testado das mais
variadas maneiras.
Avaliação:
IMDb:
6,7
Rotten:
69%
Metacritic:
75%
Filmow
(média geral): 4,1
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,5/3,0
Kontaminantes (média): 8
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