Selecionado para a Quinzena dos Realizadores no
Festival de Cannes 2018, premiado como Melhor Longa Animado Independente no
Annie Awards 2019 e indicado ao Oscar de Melhor Animação, Mirai é uma das
surpresas da temporada de premiações, resta saber se uma surpresa que se
justifica.
Em termos estéticos, Mirai é bastante
convencional ao utilizar técnicas tradicionais de 2D que não se desvinculam de
típicos animes orientais. Por outro lado, um ou outro momento de identidade
visual permite o filme brilhar mais do que os atributos destacados o
possibilitam. Já no quesito roteiro, a película sofre com uma grande variável
de altos e baixos que jamais propiciam uma completa imersão do espectador e
verdadeira efetividade das lições morais que esta objetiva transmitir.
Apesar dos segmentos sentimentalmente
contagiantes, a trilha sonora harmônica e os interessantes conceitos
pincelados, o longa funciona mais em teoria do que na prática, visto que o
primeiro ato se arrasta por longos e exaustivos quarenta minutos, o protagonista
Kun é um chato birrento e o enredo se alicerça sobre uma narrativa tautológica.
Isto é, a trama leva aproximadamente uma hora somente para iniciar a jornada
central de seu principal personagem, este que, exclusas passagens bem
específicas, jamais cativa o assistente, muito pelo contrário, Kun desperta a
antipatia do público. A ineficácia do texto também se deve ao insuportável
jovenzinho, visto que posteriormente a cada nova aprendizagem, este volta a
cometer os mesmos erros e repetir as ações que fazem o espectador tanto
odiá-lo.
Temas como fraternidade, família, rotina
domiciliar, ciúme, solidão, autoconhecimento, revisão de valores... todos
perdem a intensidade conforme a instabilidade do entrecho e seu equivocado
formato cíclico. O segundo ato, embora seja o que possui os melhores trechos e
apresenta as mensagens mais belas, é severamente afetado pelo ritmo modorrento
do anterior e pelo desfecho nada convincente que tenta promover a ideia de
transformação do Kun, sendo que o próprio filme tratou de enfatizar que o
garoto é teimoso e não sabe lidar com os ensinamentos adquiridos. A
personalidade deste, que deveria ser trabalhada numa crescente ética, é
empobrecida consoante a inaptidão do script em desenvolver personagens,
o que se reitera pela rasa confecção dos coadjuvantes que faz com que figuras
recorrentes sejam muito mais notórias que as principais.
No mais, a película se apropria de vários
planos gerais que mostram a cidade sob uma perspectiva aérea, o que não faz
sentido nenhum. Uma ou outra piada surte efeito, e os elementos fantásticos,
apesar de brevemente explicados, ficam na maior parte do tempo sem serem
justificados, o que corrobora para concepção da áurea mágica do enredo.
Em suma, Mirai tem um protagonista fraco e
manhoso, além de uma trama inconsistente e redundante que não consegue se
nutrir apenas de bons momentos avulsos.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Japão): 20 de
julho de 2018
Direção: Mamoru Hosoda
Elenco: Moka Kamishiraishi, Haru
Kuroki, Gen Hoshino…
Gênero: Animação
Nacionalidade: Japão
Sinopse (Adoro Cinema):
Kun é um menino com uma infância feliz até a
chegada de Mirai, sua irmãzinha. Com ciúmes desse bebê que monopoliza a atenção
dos pais, ele vai se retraindo pouco a pouco. No fundo do seu jardim, o menino
embarca em um mundo fantástico, onde o passado e o futuro se misturam. Lá, ele
conhece seus parentes em diferentes idades da vida: sua mãe ainda criança, seu
bisavô na juventude e sua pequena irmã na adolescência. Através dessas
aventuras, Kun vai descobrir sua própria história.
Avaliação:
IMDb:
7,1
Rotten:
91%
Metacritic:
81%
Filmow
(média geral): 3,6
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 4
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