Talvez receosa com a iminente criação de
plataformas rivais, a Netflix praticamente vem dobrando a quantidade de
conteúdo autoral disponível em seu catálogo, nem sempre com tamanha qualidade,
mas sempre se esforçando para imprimir autenticidade. Em meio aos lançamentos
de longas-metragens, Cam foi mais um que chegou estampando o selo do serviço de
streaming, resta saber se de forma
boa ou ruim.
Apesar de vendido como terror, Cam se aplica
muito mais como suspense psicológico onde o desenvolvimento de sua protagonista
e o desenrolar misterioso da trama são peças fundamentais para execução do enredo.
Entretanto, antes de sacramentar sua diretriz, o filme usa a meia hora inicial
para estabelecer tópicos pertinentes à concepção de mundo da estória contada, contextualizando
o público a respeito de quem são as camgirls, como se dá o funcionamento
do site e de que modo se realizam as transmissões. Para tal, a película utiliza
- habilmente, deve-se acrescentar - takes que emulam a tela de um
computador com o intuito de facilitar a compreensão do assistente acerca da
estrutura virtual da plataforma em que Alice trabalha. Embora tais informações
sejam necessárias, o longa se estende por mais tempo que o devido somente
instituindo os parâmetros do universo que o mesmo aborda.
Ademais da premissa intrigante, o filme usufrui
de recursos simplistas para conceber seus aspectos climáticos e embasbacar o
espectador. Aqui, não há jumpscares ou criaturas horrendas, visto que se
prezam artifícios mais singelos e eficientes como uma trilha sonora minimalista
que exalta a atmosfera enervante, e elementos sujeitos a múltiplas interpretações
que suscitam uma crescente paranoia e constantes dúvidas a respeito da sanidade
da protagonista. A ênfase em cores como vermelho, púrpura e azul que se
sobressaem pela extravagância com que a fotografia as pinta, cria um ar onírico
e sensações psicodélicas que auxiliam na subjetividade do entrecho.
Considerando a temática pornográfica que molda
o pano de fundo, a película é bastante precavida e pontual em expor imagens de sexo
e nudez, ou seja, em momento algum há uma cena ou frame gratuito, aliás,
neste âmbito a produção é até demasiado acanhada. Por outro lado, os conceitos ideológicos
ganham magnitude e a internet se transforma no terreno crítico a desbravar,
sendo que as pautas centrais do longa miram na periculosidade da exposição
virtual, autonomia e identidade, alienação tecnológica e até onde estamos dispostos
a ir por popularidade e seguidores. Questões que rondam o preconceito que a profissão
de Alice sofre, bem como aceitação familiar, também são quesitos que o script
se propõe a explorar com a mesma eficácia que este abrange outros pontos.
Além do roteiro audacioso e dos ímpares que marcam
a obra, Cam possui como grande mérito a atuação de Madeline Brewer. Vital para a
engrenagem do texto, a atriz transita com versatilidade pelas várias facetas de
sua persona, indo do estranhamento, horror, delírio, raiva e frustração até o
mais contagiante carisma. Como adendo, a complexidade do desfecho se mostra certeira
ao manter o tom labiríntico e impulsionar diversas perspectivas distintas sem ofuscar o
brilho dos principais temas debatidos e reflexões impostas.
Em suma, Cam é um filme ousado, tenso, atual, diferente,
multidimensional e que conta com uma forte performance feminina.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 16
de novembro de 2018
Direção: Daniel Goldhaber
Elenco: Madeline Brewer, Patch
Darragh, Melora Walters…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Alice (Madeline Brewer) é uma ambiciosa jovem
mulher que trabalha com pornografia de webcam. Quando uma misteriosa mulher
idêntica a ela toma seu canal, ela se vê perdendo o controle sobre os limites
que estabeleceu em relação a sua identidade online e os homens na sua vida.
Avaliação:
IMDb: 6,0
Rotten:
94%
Metacritic:
71%
Filmow
(média geral): 3,1
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 2,8/4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8
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