Após estrelar a apoteótica Maniac, Jonah Hill
volta aos holofotes em uma das novas apostas do estúdio A24. Primeiro trabalho
do ator atrás das câmeras, Anos 90 é a tentativa falha do cineasta em se
consolidar num mercado tão competitivo quanto o dos diretores.
O início de Anos 90 é muito bom, isso é fato. Ao
apresentar o protagonista Stevie, o filme incute de forma ágil e sagaz a
personalidade do pré-adolescente, seus conflitos com o irmão e as
circunstâncias que irão propiciar o desenvolvimento do personagem e seu arco.
Logo de cara fica claro sobre o que Anos 90 trata: amadurecimento, juventude e
o descobrimento de si mesmo. O título do longa é outro aspecto que rapidamente
se justifica, isto é, tudo na obra é feito com o intuito de remeter a década de
90, seja no uso da fotografia granulada, a forma de filmagem, a trilha anacrônica,
as vestimentas características e o estilo predominante da época. Neste âmbito, o
skateboard se enraíza ao âmago da produção, o que pode tanto retratar a
cultura em profusão do período quanto uma afinidade pessoal do diretor pelo
respectivo modo de vida.
Entretanto, a partir do segundo ato as coisas
vão de mal a pior. Se até então o espectador fazia vista grossa para os
diálogos mecânicos e prolixos do texto mediante a pouca experiência de quem os
escreve (Jonah Hill, além de dirigir, também assina o roteiro), a repetitiva
artificialidade dos mesmos e a inconstância com que o script se desenrola
cooperam para a experiência se tornar gradativamente ruim. O que principia como
jornada de autoconhecimento, aceitação, transformação e inclusão, instantaneamente
transmuta-se em um comentário raso acerca de que grupos de jovens incitam a
delinquência e não são nada benéficos para crianças, além de que todos devemos
ser quem somos e não querer ser como os outros. Não satisfeito, o roteiro atribui
a seu fecho um caráter imparcial e sentimentalista que contradiz a ideia
anteriormente imposta, em outras palavras, Anos 90 é um filme bagunçado e incongruente
consigo mesmo.
Ademais do desequilíbrio tonal, a película sofre
com a megalomania de seu enredo, ou seja, tenta fazer muito mais do que suas
limitações permitem. Tal arremetida equívoca cria uma série de subnúcleos que,
apesar de funcionarem avulsamente, não surtem efeito em conjunto, pois falta
tato na hora de harmonizar os temas. Amizade, fraternidade, maternidade,
distanciamento familiar, aflições pessoais e como estas se refletem em
sociedade... tudo está lá, mas de maneira dispersa e sem a sensibilidade
adequada. A concepção do personagem Ian igualmente é confusa, assim como a subtrama
envolvendo os amigos Ray e Fuckshit que jamais tem lugar no entrecho.
Na contramão dos elementos negativos realçados,
se destaca a estética crua que faz um paralelo bastante estreito com o visual
de tradicionais documentários. Todavia, a trilha sonora enérgica e frequente trata
de recordar o público que este assiste a um longa-metragem calcado em eventos
fictícios. A performance do elenco, por sua vez, não faz feio em cena, visto
que Sunny Suljic interpreta com destreza a transição de um garoto inocente que paulatinamente
adere à rebeldia; Lucas Hedges convence como o irmão bad boy mais velho
e problemático; e Katherine Waterston incorpora com aptidão o afeto, angústia e
preocupação de uma mãe que já não reconhece mais o filho.
Anos 90, em suma, começa bem, tem boas atuações
e um excelente protagonista, mas o roteiro é um imbróglio que pesa muito no resultado
final.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 19 de
outubro de 2018
Direção: Jonah Hill
Elenco: Sunny Suljic, Lucas Hedges, Katherine
Waterston…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Wikipédia):
Anos
90 retrata a vida de um garoto de 13 anos que passa a viver grande parte do seu
tempo com um grupo de skatistas em Los Angeles nos anos 90.
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten:
78%
Metacritic:
66%
Filmow
(média geral): 3,9
Adoro
Cinema (adorocinema): 4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 4,5
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