8 de abril de 2019

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Kingdom (1ª Temporada)

Tv



No mesmo patamar de vampiros, lobisomens e bruxas, os zumbis se encontram entre uma das criaturas fictícias mais exploradas pelo universo geek. Guerra Mundial Z, Resident Evil, The Walking Dead... são inúmeros os filmes, livros, séries e jogos que utilizam os mortos-vivos como protagonistas de suas estórias. Apesar do pouco alarde, Kingdom é a nova atração da Netflix que se propõe a abranger o tema.
Considerando somente os exemplos citados, o público que já se aventurou pelos respectivos terrenos pode afirmar com convicção que cada qual possui sua mitologia e características distintas que agregam a definição de zumbi. Portanto, o grande questionamento que embasbaca a todos remete ao que uma produção coreana de 2019 distribuída por um serviço de streaming norte-americano consolidado mundialmente pode acrescentar de novo que antes não tenha sido abordado. A resposta, por mais simples que possa parecer, é: muitas coisas. Começando pelo estopim da epidemia, Kingdom, diferentemente de muitas atrações similares, não faz mistério quanto à origem da "doença", o que logo de cara espairece muito sobre o enredo e traça as diretrizes de sua trajetória. (SPOILERS A SEGUIR) Outro ímpar diz respeito ao fato das criaturas "acordarem" somente à noite, o que mantém o clima enervante e as aparições dos monstros ainda mais temidas e emblemáticas. (FIM DOS SPOILERS)
O contexto histórico no qual a narrativa se desdobra é também um aspecto insólito que possibilita grande parte dos espectadores adentrarem um mundo completamente virgem, ou seja, a Dinastia Joseon. Espécie de Coreia medieval, a Dinastia Joseon reveste a trama com uma densa camada política permeada por críticas sociais. À la grandes clássicos do gênero, Kingdom tece lancinantes alfinetadas que remetem principalmente a nobreza, distinção de classes, desigualdade, abuso de poder e corrupção. Por outro lado, o âmbito visual e cenográfico da série é um deleite à parte, visto que figurino, design de produção, maquiagem, caracterização da época, ambientações, cinematografia... tudo é simplesmente lindo e formidável. Enquadramentos, ângulos escolhidos e formas de filmagem, todos as ferramentas são instrumentais para o assistente deslumbrar a beleza de cada frame e extrair o máximo de sentimentos e emoções de cada cena.
A amálgama de gêneros composta pelo entrecho sem o comprometimento de quaisquer de suas vertentes, é mais um dos grandes méritos do programa. Isto é, cada qual é desenvolvido com exatidão e tempo considerável de tela, além da resiliência e transição de gêneros se articular com bastante sutileza e propriedade. No quesito terror, Kingdom se mostra assaz aterrador, seja na confecção de sugestionamentos, como no ramo com maior enfoque visual com destaque para o eficaz uso do gore. No suspense, a série administra como poucas a tensão e apreensão de seu enredo. Já durante as sequências mais ágeis, embora algumas das lutas corpo-a-corpo sofram com múltiplos cortes que as tornam ininteligíveis, as de maiores proporções estampam a exuberância brutal que um épico requer, ou seja, são vistosas e eletrizantes. O senso de jornada e aventura igualmente está presente, assim como pontuais pitadas cômicas e nuances dramáticas que são moldadas pelas disputas e intrigas políticas que aderem complexidade aos personagens.
A concepção das figuras em tela, que se salienta pelo estupendo trabalho interpretativo dos atores, é um dos elementos fundamentais para imersão e envolvimento do público com a trama. Lee Chang, apesar de austero, denota o senso de justiça, altruísmo, liderança e generosidade que um bom príncipe precisa ter; Cho Hak-ju é o vilão maléfico, álgido e imponente determinante de toda boa estória; Moo-young é a persona mais carismática apresentada pelo roteiro; e Cho Beom-il é um personagem fácil de se simpatizar e extremamente enigmático. Não obstante, o modo com que o script ajambra as relações interpessoais daqueles em cena, é mais um ponto que exulta o brilhantismo da série. Exemplificando, a relação entre o príncipe e seu guarda desponta como a mais contagiante e fluida do entrecho, enquanto um subnúcleo de temática pouco envolvente acerca de dois coadjuvantes jamais torna-se fastidioso.
Tocante aos demais recursos narrativos, o uso de flashbacks é sucinto e funcional, e os diálogos expositivos do primeiro episódio melhoram com a crescente qualitativa dos capítulos seguintes. Vale ressaltar as guinadas do último episódio que são mais que chocantes, e o desfecho arrebatador que faz o gancho para a próxima temporada e preza os mistérios necessários para manter o espectador instigado.
Kingdom, em suma, é atmosférica, esteticamente minuciosa e tem um universo rico que acentua o legado dos grandes trabalhos de zumbis ao mesmo tempo em que lhes atribui um bem-vindo frescor.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 25 de janeiro de 2019
Criado por: Kim Eun-hee
Com: Ju Ji-hoon, Bae Doo-na, Ryu Seung-ryong...
País: Coreia do Sul
Gênero: Terror; Épico
Status: Renovada
Duração (aproximadamente): 50 minutos

Sinopse:
O príncipe herdeiro da Dinastia Joseon assume a missão de investigar uma misteriosa epidemia que assolou a população local. Lá, o jovem não demora a perceber que a situação é ainda pior do que ele imaginara. Agora, ele precisa travar a batalha mais violenta de sua vida a fim de proteger seu reino.

Avaliação (1ª Temporada):
IMDb (2019- ): 8,3
Rotten: 89%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Avaliação

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