No mesmo patamar de vampiros, lobisomens e
bruxas, os zumbis se encontram entre uma das criaturas fictícias mais
exploradas pelo universo geek. Guerra Mundial Z, Resident Evil, The
Walking Dead... são inúmeros os filmes, livros, séries e jogos que utilizam os
mortos-vivos como protagonistas de suas estórias. Apesar do pouco alarde,
Kingdom é a nova atração da Netflix que se propõe a abranger o tema.
Considerando somente os exemplos citados, o
público que já se aventurou pelos respectivos terrenos pode afirmar com
convicção que cada qual possui sua mitologia e características distintas que
agregam a definição de zumbi. Portanto, o grande questionamento que embasbaca a
todos remete ao que uma produção coreana de 2019 distribuída por um serviço de streaming
norte-americano consolidado mundialmente pode acrescentar de novo que antes não
tenha sido abordado. A resposta, por mais simples que possa parecer, é: muitas
coisas. Começando pelo estopim da epidemia, Kingdom, diferentemente de muitas
atrações similares, não faz mistério quanto à origem da "doença", o
que logo de cara espairece muito sobre o enredo e traça as diretrizes de sua
trajetória. (SPOILERS A SEGUIR) Outro ímpar diz
respeito ao fato das criaturas "acordarem" somente à noite, o que
mantém o clima enervante e as aparições dos monstros ainda mais temidas e
emblemáticas. (FIM DOS SPOILERS)
O contexto histórico no qual a narrativa se
desdobra é também um aspecto insólito que possibilita grande parte dos
espectadores adentrarem um mundo completamente virgem, ou seja, a Dinastia
Joseon. Espécie de Coreia medieval, a Dinastia Joseon reveste a trama com uma
densa camada política permeada por críticas sociais. À la grandes clássicos do
gênero, Kingdom tece lancinantes alfinetadas que remetem principalmente a nobreza,
distinção de classes, desigualdade, abuso de poder e corrupção. Por outro lado,
o âmbito visual e cenográfico da série é um deleite à parte, visto que
figurino, design de produção, maquiagem, caracterização da época,
ambientações, cinematografia... tudo é simplesmente lindo e formidável.
Enquadramentos, ângulos escolhidos e formas de filmagem, todos as ferramentas
são instrumentais para o assistente deslumbrar a beleza de cada frame e
extrair o máximo de sentimentos e emoções de cada cena.
A amálgama de gêneros composta pelo entrecho
sem o comprometimento de quaisquer de suas vertentes, é mais um dos grandes
méritos do programa. Isto é, cada qual é desenvolvido com exatidão e tempo
considerável de tela, além da resiliência e transição de gêneros se articular
com bastante sutileza e propriedade. No quesito terror, Kingdom se mostra assaz
aterrador, seja na confecção de sugestionamentos, como no ramo com maior
enfoque visual com destaque para o eficaz uso do gore. No suspense, a
série administra como poucas a tensão e apreensão de seu enredo. Já durante as
sequências mais ágeis, embora algumas das lutas corpo-a-corpo sofram com
múltiplos cortes que as tornam ininteligíveis, as de maiores proporções
estampam a exuberância brutal que um épico requer, ou seja, são vistosas e
eletrizantes. O senso de jornada e aventura igualmente está presente, assim
como pontuais pitadas cômicas e nuances dramáticas que são moldadas pelas
disputas e intrigas políticas que aderem complexidade aos personagens.
A concepção das figuras em tela, que se
salienta pelo estupendo trabalho interpretativo dos atores, é um dos elementos
fundamentais para imersão e envolvimento do público com a trama. Lee Chang,
apesar de austero, denota o senso de justiça, altruísmo, liderança e generosidade
que um bom príncipe precisa ter; Cho Hak-ju é o vilão maléfico, álgido e
imponente determinante de toda boa estória; Moo-young é a persona mais
carismática apresentada pelo roteiro; e Cho Beom-il é um personagem fácil de se
simpatizar e extremamente enigmático. Não obstante, o modo com que o script
ajambra as relações interpessoais daqueles em cena, é mais um ponto que exulta
o brilhantismo da série. Exemplificando, a relação entre o príncipe e seu
guarda desponta como a mais contagiante e fluida do entrecho, enquanto um
subnúcleo de temática pouco envolvente acerca de dois coadjuvantes jamais
torna-se fastidioso.
Tocante aos demais recursos narrativos, o uso
de flashbacks é sucinto e funcional, e os diálogos expositivos do
primeiro episódio melhoram com a crescente qualitativa dos capítulos seguintes.
Vale ressaltar as guinadas do último episódio que são mais que chocantes, e o
desfecho arrebatador que faz o gancho para a próxima temporada e preza os
mistérios necessários para manter o espectador instigado.
Kingdom, em suma, é atmosférica, esteticamente
minuciosa e tem um universo rico que acentua o legado dos grandes trabalhos de
zumbis ao mesmo tempo em que lhes atribui um bem-vindo frescor.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 25 de janeiro
de 2019
Criado por: Kim Eun-hee
Com: Ju Ji-hoon, Bae Doo-na, Ryu
Seung-ryong...
País: Coreia do Sul
Gênero: Terror; Épico
Status: Renovada
Duração (aproximadamente): 50
minutos
Sinopse:
O príncipe herdeiro da Dinastia Joseon assume a
missão de investigar uma misteriosa epidemia que assolou a população local. Lá,
o jovem não demora a perceber que a situação é ainda pior do que ele imaginara.
Agora, ele precisa travar a batalha mais violenta de sua vida a fim de proteger
seu reino.
Avaliação (1ª Temporada):
IMDb
(2019- ): 8,3
Rotten:
89%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.):
9,5
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