Filmes com temáticas cíclicas não são novidades
no hodierno circuito cinematográfico de Hollywood. Ainda que não inusitadas,
tramas com características de repetição temporal ou singularidades que tornam
incessantemente a acontecer, sempre chamam a atenção. Isso acontece com
Vivarium, longa dirigido por Lorcan Finnegan que vem causando bastante
burburinho por onde passa.
A priori, vale destacar que, apesar do contexto
em que o entrecho se desenvolve, assistir Vivarium jamais se torna uma
experiência maçante. Isto se deve ao roteiro que nunca se deixa engessar, seja
através da inclusão de elementos enigmáticos, descobertas feitas pelas
personagens e a inserção gradual de mistérios que corroboram a complexidade
holística do enredo. Tendo em vista a imersão de um público ávido por
respostas, acentua-se uma hábil direção responsável pelo equilíbrio tonal com
que o texto se dispõe, fazendo com que o espectador além de intrigado
mantenha-se entretido.
Outrossim, a concepção das personas em tela é
meticulosa. No que diz respeito a Tom e Gemma, a película tece sobre ambos um
contundente estudo comportamental regido pelo marasmo de uma rotina solitária e
continuamente indistinta. Dito isso, o entrecho usufrui do cárcere ambiental
vivido pelas personagens para debater pautas socialmente pertinentes e
alegóricas, tais como isolamento social, rotina, núcleo familiar, maternidade e
paternidade, relacionamento e outras variáveis suscetíveis as mais diversas
interpretações.
Salvo o casal protagonista, todos os semblantes
que passam a integrar a trama ao seu correr são bizarros. Tanto pela fisionomia
quanto pelo modo de agir, estes agregam camadas labirínticas cada vez mais
profundas ao discernimento do enredo, fazendo do filme tão mais confuso quanto
instigante. Convém frisar os sentimentos de angústia e incômodo presente ao
longo da obra, seja pelas semelhanças latentes e não admitidas entre as
realidades acabrunhadas vividas por público e personagens, seja pela identidade
esdrúxula assumida pelo longa desde os minutos incipientes. Sobretudo,
Vivarium, ainda que periodicamente recreativo, visa essencialmente o
desconforto como meio para metaforizar e criticar um padrão de vida.
Por sua vez, os aspectos visuais da produção
não se deixam para trás. Cores vivazes e um cenário onírico delineiam um mundo
inquietantemente perfeito, onde matizes psicodélicos também têm seu espaço e
uma sequência "nonsense" marca parte do clímax da obra.
Por fim, a performance do elenco igualmente
merece nota. Enquanto Jonathan Aris e Eanna Hardwicke incorporam com
brilhantismo as peculiaridades idiossincráticas de suas personas (realce para
Senan Jennings que interpreta com louvor uma detestável e estrambólica
criança), Jesse Eisenberg e Imogen Poots assumem com perfeccionismo a crescente
paranoia de seus papeis, assim como o progressivo cansaço físico e mental
decorrente do martirizante cotidiano enfrentado pelos mesmos.
Em suma, Vivarium é um filme provocativo,
ímpar, enervante e intenso.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (França): 11
de março de 2020
Direção: Lorcan Finnegan
Elenco: Jesse Eisenberg, Imogen
Poots, Jonathan...
Gênero: Suspense
Nacionalidades: Irlanda, Bélgica
e EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Enquanto procuram pela casa ideal para que
possam morar juntos, um casal se vê preso em um complicado labirinto feito de
moradas idênticas entre si. Quando eles percebem que o local não é nada do que
imaginavam, pode ser tarde demais.
Avaliação:
IMDb: 5,8
Rotten: 70%
Metacritic: 64%
Filmow (média geral): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Não gostei do filme, atuações fracas e uma história sem sentindo não agrega nada.
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