Animações francesas têm se destacado durante os
últimos anos. Tendo como principal expoente o longa-metragem Minha Vida de Abobrinha (2016), o país da Torre Eiffel chega, três anos mais tarde, com mais
uma animação a ser notada. Distribuída mundialmente pelo serviço de streaming
da Netflix, Perdi Meu Corpo é uma produção bela e sensível.
Em primeiro lugar, vale frisar que Perdi Meu
Corpo é um filme simples, mas de grande apuro cinematográfico e uma premissa
instigante e engenhosa. Dito isso, o foco da película não está no porquê das
coisas ou em suas resoluções, mas sim no modo com que estas acontecem, em
outras palavras, muito mais que verbal, esta é uma obra em que as imagens
contam a estória, sem a interferência de explicações baratas ou exposições dialógicas.
Ainda que tal incursão se abstenha de diretrizes mais concretas para uma
efetiva compreensão do roteiro, o brilhantismo do longa centra-se na
subjetividade de seu enredo, na contenção muda de emoções e na utilização
minimalista de recursos narrativos.
Nesse sentido, o filme se respalda em um
entrecho modesto incrementado com elementos estruturais menos pragmáticos. A
opção por uma estória não linear torna a película recreativamente mais
entusiástica, além de alinhá-la temporalmente para que os eventos culminem de
acordo com as intenções do script. Os flashbacks em preto e
branco permitem o assistente discernir a época em que tais ocorrências se
passam, e o implemento de planos-detalhe atribuem uma sutileza charmosa
adicional ao longa. Por sua vez, a trilha é concisa e atmosférica, e o filme,
usuário frequente de aspectos tradicionais de thrillers, articula com
primor a tensão de segmentos que poderiam ser meramente concebidos nas mãos de
um cineasta menos qualificado. Ademais, a ausência de colorações fulgurosas e a
recorrência de chuvas na trama realçam o caráter macambúzio da mesma e de seu
protagonista: Naoufel.
Outrossim, é sobre esta persona que a película molda suas principais empreitadas, desenhando, concomitantemente, um mundo
frustrante, amargo, frio e grosseiro onde todas as pessoas são rudes e
apáticas. Dessa forma, é fácil para o longa fazer com que gestos gentis,
semblantes bondosos e situações singelas ganhem ênfase, como uma conversa por
interfone, o voo de uma mosca e o toque de um piano. Por conseguinte,
acentua-se o fato que uma mão demonstra mais emoções que os próprios seres
humanos, sendo esta uma escolha assaz curiosa para condução do filme, levando o
público a indagações mais amplas que o fazem se questionar o porquê da escolha
de tal membro. Independente da resposta e por mais interpretativa que ela seja,
é inegável que a singularidade supracitada vale o ingresso por si só.
No mais, o importante não é sobre o que a
película discorre, mas sim o fato de que Perdi Meu Corpo é uma obra linda,
arguta e despojada que parte de uma premissa inventiva o suficiente para fazer
com que o espectador simplesmente aproveite a experiência.
Matheus J. S.
Assista e
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (França): 6 de
novembro de 2019
Direção: Jérémy Clapin
Elenco: Dev Patel, Victoire Du
Bois, Patrick d'Assumçao...
Gênero: Animação
Nacionalidade: França
Sinopse (Adoro Cinema):
Uma mão decepada escapa do laboratório de
dissecação no qual estava presa durante os últimos meses. Com a fuga ela possui
um só objetivo: retornar para o restante de seu corpo e voltar a fazer parte de
um organismo completo. Enquanto ela vaga pelos arredores de Paris, se lembra
dos tempos de quando era apenas uma jovem mão no corpo de um apaixonado rapaz.
Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 96%
Metacritic: 80%
Filmow (média geral): 3,8
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
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