Considerado por muitos o maior gângster da
história dos Estados Unidos, Al Capone sempre foi alvo da indústria do
entretenimento. Após emblemáticas participações em filmes e séries, o mafioso
mais uma vez se vê na mira do imaginário cinematográfico, dessa vez em um longa
com proposta ímpar sob o comando do controverso Josh Trank.
Ao focar em um período inglório da vida de
Alphonse Capone, a película logo de cara desglamouriza a imagem que o espectador
tem do famoso criminoso, apresentando um homem velho e debilitado. Nesse quesito,
Tom Hardy, encarregado do papel, interpreta um “Scarface” (como era chamado) desconfiado, paranoico e desorientado
que compactua com a ideia de fragilidade física e mental imposta pelo texto. Entretanto,
em certos momentos a atuação deste beira à canastrice, o que não se pode
afirmar ser culpa do ator ou do próprio roteiro.
Outro fator que também tão logo chama a atenção
é a maquiagem do personagem. Embora esta pouco se assimile à fisionomia real da
pessoa retratada, a mesma, por outro lado, dá um tom incômodo e quase
aterrorizante à persona que acaba fazendo jus à reputação que a precede. Dito
isso, o filme é hábil ao traçar o perfil de um homem infame por seus atos
atrozes sem jamais mostrá-los ao público, o que é reiterado com os trechos de
rádio ouvidos pelos personagens em que Capone integra algum tipo de novela ou
similar.
No que diz respeito à instabilidade mental
supracitada, o longa trabalha tal aspecto ora com muito humor, ora com lugubridade,
porém, a todo instante, fazendo o assistente questionar o que é ou não real. Por
suas facetas mais tênues, a película arranca risadas mediante os hilários ataques
do personagem, o que se resume a muitos resmungos, devaneios e evacuações indesejadas.
Já em seus âmbitos soturnos, a obra flerta com o horror e constitui sequências
alucinatórias dantescas como reflexo dos demônios que assombram o passado de
Al. Nesse sentido, vale ressaltar a inserção da trilha como uma ferramenta
atmosférica que tem seu auge em meio às divagações do mesmo.
Visualmente, Capone é um filme sofisticado. O design
de produção e o figurino transparecem a opulência da vida do personagem,
enquanto a cenografia reconstrói os anos 40 com muito esmero e detalhismo. Por
sua vez, a violência, com forte apelo gráfico, escancara a visceralidade do
mundo que moldou a personalidade de Alphonse, ao passo que a paleta de cores
sombria - atrelada ao subnúcleo dos agentes responsáveis pela investigação de
Al - atribui ao longa um caráter noir.
No mais, se, por um lado, a película omite informações
que seriam narrativamente importantes para contextualizar o público, por outro
o faz se interessar pela história e pesquisar mais por conta própria. Mesmo
assim, a figura de "Fonzo" articula-se como a força motriz do enredo,
e quando este não se encontra em cena, ainda que a obra se mantenha, esta não apresenta
o mesmo vigor. Ademais, convém frisar os semblantes periféricos que igualmente
sofrem pelas condições da persona central, o que, todavia, não impede que o
arco de Johnny (Matt Dillon) seja mal-ajambrado.
Embora imperfeito, Capone foge aos tradicionais
moldes biográficos hollywoodianos, apresenta uma performance singular de Tom Hardy
e possui uma estória inusitada o suficiente para manter o espectador engajado até
o seu fim.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 12 de
maio de 2020
Direção: Josh Trank
Elenco: Tom Hardy, Matt Dillon,
Linda Cardellini…
Gênero: Policial
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Filmow):
Al Capone é um homem diferente dez anos após
sair da prisão. Porém, não necessariamente melhor. Aos 47 anos, o gângster
começa a sentir os efeitos da demência. E os danos psicológicos da doença são
intensificados pelo passado violento do Inimigo Público Nº1 dos Estados Unidos.
Avaliação:
IMDb:
4,9
Rotten:
42%
Metacritic:
46%
Filmow
(média geral): 2,5
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9
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