Mesmo que o western tenha tido o seu
auge durante a segunda metade do século passado, ainda assim, nos dias de hoje,
é possível encontrar títulos que façam jus à era de ouro do gênero. Felizmente,
Os Irmãos Sisters é um desses estimados exemplares.
Introdutoriamente, o filme tem início com um tiroteio
às cegas bastante intrigante, ou seja, sob um completo breu. Ainda que não
aparente, a respectiva sequência diz muito sobre a obra, preterindo a violência
gráfica em prol de um conteúdo mais sofisticado desenvolvido por entrelinhas. Sobretudo,
Os Irmãos Sisters é sobre o progresso, um mundo em evolução e o conflito do
homem civilizado com o arquétipo do pistoleiro do Velho Oeste.
Tal contraste personifica-se através dos protagonistas
Charlie (Joaquin Phoenix) e Eli (John C. Reilly), irmãos de personalidades
completamente antagônicas. Enquanto Charlie é inconsequente, bronco e impulsivo,
o estereótipo do grosseiro caçador de recompensas, Eli é muito mais refinado, polido
e sensato, o reflexo do que - em tese - mais se aproxima do perfil do homem
moderno. Nesse cenário, o longa desmistifica a imagem do cowboy ao rivalizar a racionalidade e a força bruta, ao passo que a
trama caminha para um desfecho inglório em que o poderio de uma arma de fogo é nulificado.
Dito isso, a película dribla muitas das
convenções do gênero e segue por rumos cada vez mais inusitados, revelando-se somente
em meados do segundo ato. Isto é, quando a narrativa aparenta estar perdendo sua
impetuosidade, os diálogos ganham ainda mais força e o espectador começa a compreender
a estória que o filme quer contar. Até lá, este se apropria de detalhes visuais
e a reação das personagens frente aos mesmos para moldar o pano de fundo do
enredo, como quando Eli depara-se entusiasmadamente com uma privada sem nunca ter
visto uma, ou mostra-se intrigado ao ver pela primeira vez alguém escovando os
dentes.
Outrossim, a química que rege a dinâmica entre
a dupla de irmãos é ótima. Mesmo perante as várias divergências idiossincráticas,
Eli e Charlie formam uma aliança fraternal de muito companheirismo e afetividade,
respaldada no respeito que um tem pelo outro e no histórico familiar de conflitos.
Tal laço igualmente destaca-se pela autenticidade impressa, desde os momentos mais
ternos com um cuidando do outro até as discussões mais exasperadas. No entanto,
a eficácia dessa dinâmica se deve em grande parte à performance dos atores.
Joaquin Phoenix, como de praxe, está ótimo na pele do irmão "bad
boy", mas é John C. Reilly quem rouba a cena. Muito mais comedido que
o habitual, a atuação deste é de longe a melhor de sua carreira, na qual vive um
homem sóbrio e ponderado, e nada espalhafatoso como costumeiramente interpreta.
No mais, convém ressaltar o belo trabalho de design
de produção que dá vida a cidades totalmente diferentes uma das outras, cada
qual com suas particularidades e respectivas dimensões. Por sua vez, a direção
de Jacques Audiard mantém-se constante ao correr de todo o longa, encorpando
gradualmente a magnitude do roteiro e os contornos dramáticos que se acentuam
de modo paulatino, o que, em síntese, demonstra um equilíbrio tonal perfeito do
texto em mãos. Contudo, o script, co-escrito por Jacques Audiard e Thomas
Bidegain, peca ao enfatizar uma subtrama envolvendo um xale que jamais é integralmente
desenvolvida.
Os Irmãos Sisters, portanto, é uma obra notória
que passou despercebida do grande público e atribui nova roupagem ao western.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (França): 19
de setembro de 2018
Direção: Jacques Audiard
Elenco: John C. Reilly, Joaquin
Phoenix, Jake Gyllenhaal...
Gênero: Ação
Nacionalidades: França, Espanha,
Romênia, EUA e Bélgica
Sinopse (Adoro Cinema):
Eli (John C. Reilly) e Charlie (Joaquin
Phoenix) Sisters são dois pistoleiros que recebem uma missão complicada:
capturar e eliminar Hermann Kermit Warm (Riz Ahmed), um explorador de minas de
ouro.
Avaliação:
IMDb:
7,0
Rotten:
87%
Metacritic:
78%
Filmow
(média geral): 3,6
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9,5
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