24 de dezembro de 2016

Kontaminantes ☣ , Filth , Filmes ,

Filth


Baseado no livro homônimo do escocês Irvine Welsh (o mesmo escritor de Trainspotting, igualmente adaptado para os cinemas), Filth já se mostra um tanto diferenciado e denso em sua sinopse que resumidamente apresenta um policial ninfomaníaco bipolar viciado em cocaína que, durante uma disputa para promoção de inspetor, faz de tudo para consegui-la e, com a vitória, reconquistar o afeto de sua filha e esposa que o abandonaram. Somente por estas palavras já fica claro que não iremos acompanhar um longa comum, longa que pode ser até mesmo, em determinados aspectos, de difícil compreensão.
Repleto de drogas, sexo e podendo ser constrangedor para alguns (com certeza o será na presença dos pais), o filme, além de entreter e gerar boas risadas possui um roteiro adaptado inteiramente original e envolvente, não à toa ao seu decorrer cada vez mais nos surpreendemos e nos sentimos completamente envoltos em sua trama impactante e reflexiva.
Hilário, o filme brilhantemente aborda os conflitos pessoais vividos por todos em um personagem que, ademais de muito exótico, pode ser definido como o espelho da sociedade. Neste, observamos um homem arrogante, egoísta, trapaceiro e manipulador que vive a vida como se fosse um jogo, usa todos como meio de alcançar seus objetivos e, muitas vezes, apenas por diversão ou como demonstração de poder. Contudo, no fundo, se encontra atormentado pelo seu passado e toma atitudes em prol de sua defesa, cria objetivos impossíveis e toma atitudes como meio de encobrir a verdade, interiormente, apenas sofre como todas as pessoas. Este entrecho aparenta se aplicar a uma película comum, não fosse algumas peculiaridades já citadas e a condução magnífica e o deslumbrante desenvolvimento do protagonista que engrandece ainda mais a mesma, e seu inesperado e bombástico plot twist. Os primeiros 15 minutos já transmitem uma boa ideia do que iremos acompanhar, mas ao longo do filme, consoante à incrível performance de James McAvoy, nos aprofundamos imperceptivelmente em uma jornada psicológica e de redenção, acabamos enredados sem perceber em um enredo genialmente cada vez mais profundo e reflexivo. Vale ressaltar algumas bizarrices que nele se encontram e viagens até mesmo por alucinações.
Imprevisível, com uma excelente trilha sonora que em sua emotiva sequência final conta com Creep do Radiohead (a letra se encaixa perfeitamente com o contexto), um bom e convincente elenco (assim como suas atuações), Filth não para um segundo sequer em sua narrativa frenética sob a percepção de Bruce. Além, outra personagem também rouba a cena e tem seus momentos de narração, Carol, ex-esposa do protagonista. Esta nos deixa muitas dúvidas ao correr do longa e chega a causar certo estranhamento e equívocos até as revelações finais. Retornando ao Bruce, uma das passagens iniciais se destaca quando este narra seu passado e, após, em uma sala com seus concorrentes ao cargo de inspetor, faz uma análise ofensiva e direta de cada um, explorando seus pontos fracos e a maneira que irá conseguir atingi-los para determinado propósito. Entretanto, este não é de todo ruim. Em certo momento da película, somos apresentados a um Bruce que ainda não conhecíamos, um Bruce que faz de tudo para salvar a vida de um homem desconhecido no meio da rua. Em contrapartida, atos cruéis sobram de sua parte ao decorrer do filme, mas esta simples e generosa ação só serve para demonstrar o quanto Bruce é um ser emocionalmente instável, psicologicamente abalado e atormentado por seu passado que a todo custo tenta esconder e mascarar. Realce para os momentos altos e baixos do personagem interpretados magistralmente por, talvez, simplesmente a melhor atuação da carreira de James McAvoy.
Se aprofundando em distintas personalidades, o quanto estas podem e são todas canalhas em sua essência, porém igualmente conflituosas consoante os empecilhos da vida, e as relações complexas destas umas para com as outras que, no fundo, são apenas frutos de jogos gananciosos e beneficamente próprios, o longa se passa durante o período natalino (embora mantenha a data somente como pano de fundo para seu enredo principal) e faz uma referência ao clássico 2001 - Uma Odisseia no Espaço, ademais de, em certas cenas, aparentar quebrar a quarta parede sob a perspectiva de Bruce e, sutilmente, tratar do abuso do poder exercido pelos que deveriam ser os representantes da lei e justiça.
Tendo sido uma excelente surpresa para mim perante a recomendação do mesmo, Filth certamente foge dos padrões convencionais apresentando uma trama crítica e ao mesmo tempo cômica, sendo obrigação para fãs do gênero policial, comédia e drama.
"É a regra do jogo".
Matheus J. S.


Assista e Kontamine-se


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Avaliações:
Rotten: 64%
IMDb: 7,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5





Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):

Dirigido por
Jon S Baird
Produzido por
          
            Jon S. Baird
            Mark Amin
            Christian Angermayer
            Will Clarke
            Stephen Mao
            Ken Marshall
            Jens Meurer
            Celine Rattray
            Trudie Styler
Roteiro por
Jon S. Baird
Baseado em
Filth
Por Irvine Welsh
Estrelando
            James McAvoy
            Jamie Bell
            Joanne Froggatt
            Imogen Poots
            Eddie Marsan
            Jim Broadbent
Música por
Clint Mansell
Cinematografia
Matthew Jensen
Editado por
Mark Eckersley
Produção
Companhia
Steel Mill Imagens
            Filme em Väst
Distribuído por
Lionsgate (Reino Unido)
Datas de lançamento
            27 de setembro de 2013 (Escócia)
            30 de maio de 2014 (EUA)
Tempo de execução
97 minutos 
País
Reino Unido
Língua
Inglês
Bilheteria
US $ 9,1 milhões 

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