Baseado no livro homônimo do escocês Irvine
Welsh (o mesmo escritor de Trainspotting, igualmente adaptado para os cinemas),
Filth já se mostra um tanto diferenciado e denso em sua sinopse que resumidamente
apresenta um policial ninfomaníaco bipolar viciado em cocaína que, durante uma
disputa para promoção de inspetor, faz de tudo para consegui-la e, com a vitória,
reconquistar o afeto de sua filha e esposa que o abandonaram. Somente por estas
palavras já fica claro que não iremos acompanhar um longa comum, longa que pode
ser até mesmo, em determinados aspectos, de difícil compreensão.
Repleto de drogas, sexo e podendo ser
constrangedor para alguns (com certeza o será na presença dos pais), o filme,
além de entreter e gerar boas risadas possui um roteiro adaptado inteiramente
original e envolvente, não à toa ao seu decorrer cada vez mais nos
surpreendemos e nos sentimos completamente envoltos em sua trama impactante e reflexiva.
Hilário, o filme brilhantemente aborda os
conflitos pessoais vividos por todos em um personagem que, ademais de muito
exótico, pode ser definido como o espelho da sociedade. Neste, observamos um
homem arrogante, egoísta, trapaceiro e manipulador que vive a vida como se
fosse um jogo, usa todos como meio de alcançar seus objetivos e, muitas vezes,
apenas por diversão ou como demonstração de poder. Contudo, no fundo, se encontra
atormentado pelo seu passado e toma atitudes em prol de sua defesa, cria
objetivos impossíveis e toma atitudes como meio de encobrir a verdade,
interiormente, apenas sofre como todas as pessoas. Este entrecho aparenta se
aplicar a uma película comum, não fosse algumas peculiaridades já citadas e a
condução magnífica e o deslumbrante desenvolvimento do protagonista que engrandece
ainda mais a mesma, e seu inesperado e bombástico plot twist. Os primeiros 15
minutos já transmitem uma boa ideia do que iremos acompanhar, mas ao longo do
filme, consoante à incrível performance de James McAvoy, nos aprofundamos imperceptivelmente
em uma jornada psicológica e de redenção, acabamos enredados sem perceber em um
enredo genialmente cada vez mais profundo e reflexivo. Vale ressaltar algumas
bizarrices que nele se encontram e viagens até mesmo por alucinações.
Imprevisível, com uma excelente trilha sonora
que em sua emotiva sequência final conta com Creep do Radiohead (a letra se
encaixa perfeitamente com o contexto), um bom e convincente elenco (assim como suas
atuações), Filth não para um segundo sequer em sua narrativa frenética sob a percepção
de Bruce. Além, outra personagem também rouba a cena e tem seus momentos de narração,
Carol, ex-esposa do protagonista. Esta nos deixa muitas dúvidas ao correr do longa
e chega a causar certo estranhamento e equívocos até as revelações finais.
Retornando ao Bruce, uma das passagens iniciais se destaca quando este narra seu
passado e, após, em uma sala com seus concorrentes ao cargo de inspetor, faz
uma análise ofensiva e direta de cada um, explorando seus pontos fracos e a
maneira que irá conseguir atingi-los para determinado propósito. Entretanto, este
não é de todo ruim. Em certo momento da película, somos apresentados a um Bruce
que ainda não conhecíamos, um Bruce que faz de tudo para salvar a vida de um
homem desconhecido no meio da rua. Em contrapartida, atos cruéis sobram de sua
parte ao decorrer do filme, mas esta simples e generosa ação só serve para
demonstrar o quanto Bruce é um ser emocionalmente instável, psicologicamente
abalado e atormentado por seu passado que a todo custo tenta esconder e mascarar.
Realce para os momentos altos e baixos do personagem interpretados magistralmente
por, talvez, simplesmente a melhor atuação da carreira de James McAvoy.
Se aprofundando em distintas personalidades, o
quanto estas podem e são todas canalhas em sua essência, porém igualmente
conflituosas consoante os empecilhos da vida, e as relações complexas destas
umas para com as outras que, no fundo, são apenas frutos de jogos gananciosos e
beneficamente próprios, o longa se passa durante o período natalino (embora
mantenha a data somente como pano de fundo para seu enredo principal) e faz uma
referência ao clássico 2001 - Uma Odisseia no Espaço, ademais de, em certas cenas,
aparentar quebrar a quarta parede sob a perspectiva de Bruce e, sutilmente,
tratar do abuso do poder exercido pelos que deveriam ser os representantes da
lei e justiça.
Tendo sido uma excelente surpresa para mim perante
a recomendação do mesmo, Filth certamente foge dos padrões convencionais
apresentando uma trama crítica e ao mesmo tempo cômica, sendo obrigação para fãs
do gênero policial, comédia e drama.
"É a regra do jogo".
Matheus
J. S.
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Avaliações:
Rotten:
64%
IMDb: 7,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Ficha Técnica Resumida
(Wikipédia):
Dirigido por
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Jon S Baird
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Produzido por
|
Jon S. Baird
Mark Amin
Christian Angermayer
Will Clarke
Stephen Mao
Ken Marshall
Jens Meurer
Celine Rattray
Trudie Styler
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Roteiro por
|
Jon S. Baird
|
Baseado em
|
Filth
Por Irvine Welsh |
Estrelando
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James McAvoy
Jamie Bell
Joanne Froggatt
Imogen Poots
Eddie Marsan
Jim Broadbent
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Música por
|
Clint Mansell
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Cinematografia
|
Matthew Jensen
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Editado por
|
Mark Eckersley
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Produção
Companhia |
Steel Mill Imagens
Filme em Väst
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Distribuído por
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Lionsgate (Reino Unido)
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Datas de lançamento
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27 de setembro de 2013 (Escócia)
30 de maio de 2014 (EUA)
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Tempo de execução
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97 minutos
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País
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Reino Unido
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Língua
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Inglês
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Bilheteria
|
US $ 9,1 milhões
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