*esta divagação contém spoilers significativos
Nos dias de hoje,
criar uma história somente de selo próprio pode ser complicado. Como já dizia
Antoine Lavoisier: “Nada se cria, tudo se transforma”. Contudo, isto não quer
dizer que enredos deste porte são fracos, muito pelo contrário, muitas vezes são,
de certa forma, superiores as tramas que serviram de base e inspiração. A Casa
dos Sonhos, filme da vez, não chega a ser melhor que suas influências, entretanto
surpreende e envolve o espetador de maneira apreciável.
Excepcional em diversos
aspectos, o longa nos leva a reflexão diante várias questões que abordam tanto
sua história em si quanto a recepção do público “especializado”. Iniciando-se
por este último, é absurdo observar a nota e críticas atribuídas à película dos
que se dizem “especialistas” no assunto que não poupam palavras para massacrar
a mesma. É óbvio que a percepção se distingue de ser para ser, mas é
inadmissível quando uma grande massa que vive para tal critica tão negativamente
um excelente longa que só vejo o público “amador” elogiar, a ponto de lhe
conceder uma miserável aprovação de 6% no tão “conceituado”, “renomado” e
“confiável” Rotten Tomatoes. Claro que detalhes técnicos e derivados têm de ser
levados em consideração, porém um filme é o resultado final de um conjunto de
coisas que o constituem. Argumentos que defendem que a película não passa de
uma mera cópia malfeita de grandes produções podem ser igualmente quebrados com
os ideais já citados acima que defendem o ideal de que, atualmente, em um
planeta com bilhões de anos de existência, já não existe mais nada de autoria
completamente original. Além, não se pode negar que há semelhanças bem
estreitas com outros longas, todavia todo trabalho sempre apresenta uma nova
perspectiva e, de certa forma, inova em determinados quesitos, apresentando-nos
o mesmo de maneira diferenciada. Muitas vezes estes “críticos” me passam a
impressão de que valorizam apenas filmes que de algum jeito os beneficiem (não
sei como) e de que qualquer um o pode se tornar a qualquer momento. Dentre as
muitas lições e aprendizados, A Casa dos Sonhos, na prática, realmente me
ensinou a conferir algo e tirar minhas próprias conclusões.
Agora, referente à trama, esta
propõe interessantes e complexas questões como: o que é real e como o saber? Se
a realidade não pode ser distinguida de nossas próprias fantasias, faz
diferença em vivê-la e aproveitá-la? O que mais vale, uma vida feliz, mas
irreal, ou uma infeliz, contudo liberta e real? O que define quem somos e nossa
personalidade? Questões estas apresentadas ao decorrer do enredo que se inicia
com cenas aparentemente banais, assim como outras ao seu correr, mas que são de
suma importância (tudo na película possui sua relevância). Após, acompanhamos a
chegada de Will (protagonista) a sua nova casa e somos apresentados a sua
família e seu cotidiano, até seu lar começar a ser perturbado por um estranho.
Esta premissa pode parecer básica e clichê, no entanto acabamos por nos
surpreender com um entrecho muito bem elaborado e repleto de reviravoltas. A
princípio pensamos até mesmo se tratar de uma casa “mal-assombrada”.
Prosseguindo, descobre-se que sua moradia foi palco de uma carnificina onde uma
família foi morta e o principal suspeito é o marido. Desta forma, ao perceber
que há algo de errado nesta história, Will começa a investigar e se depara com
uma surpresa indesejada, o grande plot twist do filme (que tive a infelicidade
de o já saber por conta do spoileador trailer), durante meados do longa, que
sua própria família está morta assassinada por suas próprias mãos. Ficara
internado, após o massacre supostamente cometido por ele mesmo, em uma clínica
de reabilitação. Solto, retornou para seu antigo lar e passou a viver inerte em
alucinações (nossa mente é capaz de nos enganar apenas para nos fazer feliz)
ludibriado por seu cérebro e induzido a acreditar ser um assassino.
Considerando
estes acontecimentos a primeira metade da película, algumas das questões
reflexivas já citadas mostram-se evidentes em Will que, consoante um ferimento
na cabeça durante o sangrento evento que o fez perder a memória do ocorrido,
não consegue distinguir realidade de seu mundo fantasioso e tem sua
personalidade moldada e vista pelos outros seguinte a assassinatos atribuídos à
sua pessoa. Ademais, por não conseguir se desapegar de seus entes queridos, alucina
com eles e passa por conflitos psicológicos perante o trauma e para relembrar
do que aconteceu.
Com
a ajuda de uma vizinha (Ann Patterson), amiga dos que morreram, Will busca
respostas sobre a figura que continua a perturbar sua casa. Ao fim, outro plot
twist acontece ao descobrir que Will não é o verdadeiro culpado, e sim um
assassino contratado pelo ex-marido de Ann para matá-la que acabou por entrar
na casa errada. O personagem de Jack (marido) é trabalhado sutilmente ao longo
do filme, assim como sua relação com sua filha e ex-esposa, que justifica suas
ações pelo “amor” à Chloe (filha, que está sob a guarda da mãe) e um evidente
ódio por Ann. Em uma das sequências finais com o homem que perturba a casa
(Boyce, assassino contratado) e Jack no lar de Will, se desenrola um confronto
na tentativa de matar o protagonista e não o deixar expor a verdade que acabou
por descobrir. Durante o conflito, uma passagem se destaca, a que Jack mata
Boyce. Este ato, ligado ao diálogo do momento, revela que Jack culpa Boyce por
suas próprias escolhas tomadas e o assassina por conta do peso nas costas, pois
vê nele a si mesmo, como o monstro que é e seus erros. Outra passagem que
merece realce é quando Libby (esposa morta de Will) influencia o ambiente, deixando-nos
na dúvida se ela é apenas uma criação da mente do protagonista ou um espírito.
Ao desfecho, os dois homens morrem e Will sai vivo e bem de sua antiga moradia
(que estava pegando fogo perante o confronto, por sinal) com Ann (que também
esteve no local) e retoma sua vida com a publicação de seu livro, A Casa dos
Sonhos, que trabalhou durante todo o longa. Livro este que representa para o
personagem de maior destaque um laço que ainda existe entre si e sua família
morta.
Com
esta conclusão não muito feliz e que foge um pouco do convencional, com
excelentes atuações de Daniel Craig e Rachel Waisz, a película nos emerge
brilhantemente na dúvida se Will é o verdadeiro culpado além de explorar sua
busca pela verdade, ademais de nos instigar a descobrir como se encerrará a
trama. Mostrando-nos a consequência de uma atitude egoísta que resultou em um
equívoco de endereço consoante a burrice de um carrasco, um homem sofrer
injustamente e ser levado a crer em algo que não aconteceu, o filme
magistralmente mantém o suspense no ar (a ponto de ser palpável) e trabalha fantasticamente
o psicológico (tanto do espectador quanto dos personagens). Apesar de tudo, alguns
pontos negativos têm de ser ressaltados, uma cena malfeita e até mesmo
engraçada envolvendo uma garotinha e o nome do diretor não aparecer nos
créditos por algum motivo (tire suas próprias conclusões). Contudo, não mancha
o resplandecer deste excelente longa tão injustiçado que merece sim receber uma
chance de todo apreciador de uma boa trama e do gênero. Aparentemente a
injustiça cercou de todas as maneiras esta película.
Matheus J. S. 9
Assisti
ao filme quando já estava de noite, talvez este fato tenha cooperado com o sono
que tive enquanto estava no meio de tal, inclusive tinha acabado de ver o
primeiro plot twist do mesmo que em minha opinião não teve nada de especial. E
quero ressaltar também que é totalmente previsível saber quem mandou matar a
família de Will, e isso igualmente faz com que o longa se torne menos
interessante.
Deixando
de lado as partes da película que não agradaram, posso dizer que o começo do filme
o deixa ansioso para seu restante, não dando pistas para a verdade sobre a
trama. Isto e outros aspectos fazem com que vala a pena assistir ao longa, a
talvez até mesmo se surpreender com o mesmo.
Mesmo
com tudo que disse do filme a respeito de seus quesitos negativos, não o
deixarei de ver novamente quando tiver a oportunidade.
Murillo J. S. 7
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Avaliações:
IMDb: 6,0
Rotten: 6%
Adoro Cinema (usuários): 4,0
Kontaminantes (média): 8
Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):
Estados Unidos/Canadá
2011 • cor • 92 min |
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Direção
|
Jim Sheridan
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Produção
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Jim Sheridan, James G. Robinson, David C. Robinson,
Daniel Bobker, Ehren Kruger
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Roteiro
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David Loucka
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Elenco
|
Daniel Craig, Rachel Weisz, Naomi Watts, Marton Csokas
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Música
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John Debney
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Cinematografia
|
Caleb Deschanel
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Edição
|
Barbara Tulliver
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Companhia(s) produtora(s)
|
Morgan Creek Productions
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Distribuição
|
Warner Bros.
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Lançamento
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30 de setembro de 2011
|
Idioma
|
Inglês
|
Orçamento
|
US$ 50
milhões
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Receita
|
US$ 38.502.340
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