É simplesmente fantástico quando uma junção
inconvencional funciona. Respectivamente, encaixam-se nesta abrangência um
comediante atrelado a um drama, um romance vinculado a ficção científica, Mary
Jane num caso com o próprio Hulk e a Rose, de Titanic, enrolada numa relação
conturbada para com o hobbit Frodo Bolseiro.
Aclamado pelo público e pela crítica, o filme
possui como grande mérito a simplicidade com a qual aborda distintos âmbitos,
isto é, não se precipita a vertentes que de alguma forma o comprometam, o longa
encontra-se ciente de si mesmo e consegue atingir seus objetivos
satisfatoriamente com a modéstia e o rústico. Contudo, isto não quer dizer que
Brilho Eterno... é uma película ambientada em um único cenário e de um só
personagem, pelo contrário, usufrui de uma quantidade significativa de figuras
diversas e múltiplos palcos para o desenvolver do entrecho, no entanto, não
utiliza demasiadamente de efeitos desnecessários ou outros recursos supérfluos
de maneira exacerbada e improdutiva. Para um filme de tamanha ambição
intelectual, é admirável a sutileza demonstrada pelos desenvolvedores ao
dosarem com cautela e sabedoria a importância atribuída a cada segmento,
procurando sempre enfatizar aspectos de suma pertinência para o enredo.
Consoante os primeiros minutos do longa, a
película realça bem suas propostas em trabalhar com o rudimentar, algo que pode
até mesmo transmitir um ar de displicência, considerando que os mesmos não
refletem o caráter reflexivo e peculiar característico do trabalho cinematográfico
em questão posteriormente introduzido. Porém, conforme o passar da película e a
drástica inversão de atmosfera amortecida pela gloriosa direção, descobre-se
que as pioneiras sequências possuem relevância e foram propositalmente impostas
num formato não linear, ademais de exaltarem uma equivocada percepção do que
será assistido.
Enquanto muito do sci-fi aposta em viagens no
tempo, expedições planetárias ou em conceitos praticamente impossíveis, Brilho
Eterno... prefere manter sua concentração num recurso mais plausível a
atualidade e o desenfreado avanço da tecnologia de hoje, baseando-se no
seguinte questionamento: o que você faria se pudesse apagar da sua mente uma
pessoa que de alguma forma lhe causa sofrimento? Embora aparentemente a
resposta seja óbvia, o filme foca nas consequências desta ação, levando o
espectador a ponderar o peso deste ato para sua vida, além de se aprofundar em
questões éticas e reflexões que remetem as sequelas de conclusões precipitadas
e irracionais perante emoções e sentimentos momentâneos, mudanças de
perspectiva frente a distintas situações, vivência na ignorância, a importância
das lembranças na constituição de personalidade e identidade de um indivíduo,
maneira de se lidar com o martírio, o medo de se recordar e a tecnologia como
influência nas decisões do cotidiano do ser humano, ademais de ser um longa bem
íntimo sobre a persona de Joel, podendo ser considerado um estudo de personagem
e uma jornada de autoconhecimento. Sobretudo, o longa também se destaca
corrente suas revelações derradeiras e a realista e pessimista maneira com a
qual explora o relacionamento amoroso, enaltecendo a maioria de suas
complicações, atritos, tédios e incertezas que flertam com sugestivas acerca do
destino.
Igualmente notório pela concepção de
personagens conflituosos, onde até mesmo os coadjuvantes possuem dilemas e se
mostram de extrema relevância para a trama, a película, apesar dos contextos de
maior densidade, é envolta pela comicidade, assim como, em sua odisseia pela
mente humana, brinca com o surreal e o onirismo. Complexidade é outra palavra
que se adequa bem à produção, ressaltando o desfecho que pode ser uma incógnita
e quesitos ao correr da mesma que podem gerar certa confusão de compreensão.
Sob condução de Michel Gondry (provavelmente o maior acerto de sua carreira), o
filme ainda conta com o reputado roteirista Charlie Kaufman (famoso por criar
roteiros que prezam teses sobre a expansão do consciente humano, identificado pela revista Premiere como uma das
100 pessoas mais influentes de Hollywood e o grande nome por trás de Brilho
Eterno...), um elenco de gigantes (Mark Ruffalo, Kirsten Dunst, Elijah Wood,
David Cross...) e consegue ratificar a
eficácia de Jim Carrey com uma excelente performance, como comprovado ao atuar
longe de sua zona de conforto (comédias) e desempenhar com glamour seu papel,
versatilidade muito bem salientada no também dramático Número 23. Em relação à
Kate Winslet, ela mais uma vez está simplesmente perfeita.
Eleito pelo The New York Times o 24º melhor
filme do século 21 e recomendado por especialistas da Unesp e da
consultoria de recrutamento Hays, o premiado longa, vencedor do Oscar de Melhor
Roteiro Original em 2005 (ponto para Kaufman, a primeira estatueta dourada de
sua carreira em parceria com Gondry, diretor e co-roteirista), que talvez
receba uma nova versão para a televisão, imortaliza-se, seja consoante suas
frases marcantes, roteiro incomum ou eficiência reflexiva e entretenimento na
certa garantido.
Matheus
J. S.
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 23 de julho de 2004 (1h
48min)
Direção: Michel Gondry
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst…
Gêneros: Comédia dramática; Ficção científica
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb: 8,3
Rotten: 93%
Metacritic: 89%
Filmow (média
geral): 4,3
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 4,5/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
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