Quarta versão cinematográfica do Homem-Aranha
em menos de duas décadas, só que agora como animação. Eis a questão: o que será
que o novo longa tem a oferecer?
Homem-Aranha: No Aranhaverso é um filme que,
apesar dos deslizes, também possui méritos. Um deles é o tom lúdico que a
película adota desde as sequências iniciais ao apresentar um Homem-Aranha e seu
repertório, em primeira pessoa, de modo completamente recreativo, fazendo
referências aos outros Cabeças de Teia já personificados nas telonas e até
brincando com as galhofagens do terceiro longa estrelado por Tobey Maguire. É
um método despretensioso, mas eficaz, que permite o espectador se
contextualizar com a história de cada novo Aranha inoculado à trama.
Os inúmeros easter-eggs e menções à figura
do Homem-Aranha em si e suas diversas facetas ao longo de 57 anos de existência,
são pontos recorrentes que não estão no filme com o simples intuito de
entreter, afinal, Homem-Aranha: No Aranhaverso é, acima de tudo, uma homenagem
ao super-herói criado por Stan Lee em 1962. A linguagem visual marcada por iconografias
cartunescas, uma montagem frenética e colorações vibrantes salientam o preito e
moldam uma estética ímpar que reverencia o mundo dos quadrinhos. Além, a junção
de inimigos do Teioso, a desconstrução de componentes genéricos inveterados e a
reinvenção de cenas clássicas servem, ao mesmo tempo, como agraciamento do
personagem e intermédio para concepção de uma identidade própria a partir de
elementos nostálgicos.
Entretanto, deve-se ressaltar que o frenesi
narrativo em concílio à imagem saturada, por vezes torna determinados segmentos
pouco inteligíveis. A película também falha na transformação de seu protagonista
que se dá de forma abrupta e insensível, visto que num momento ele é um jovem
desengonçado que não sabe manipular as próprias habilidades, e no outro já é um
herói meticuloso que usa os poderes com invejável destreza; fica difícil para o
público comprar essa ideia.
Miles Morales, embora seja o astro do longa,
nem de longe é a persona mais cativante ou com plot mais bem
desenvolvido, considerando que seu arco gira em torno de tópicos óbvios a
respeito de autodescobertas e superação. Referente aos demais Aranhas, alguns são
mais entusiásticos que outros, porém todos possuem uma mesma espécie de subnúcleo
superficial, ademais do script utilizar as características em comum destes
da maneira mais preguiçosa possível e nem sequer espreitar as potenciais
variáveis de suas diferenças. Contudo, tais aspectos não se aplicam ao Peter
Parker (Terra-616), já que, além de carismático e mentor de Miles, o personagem
tem a subtrama mais contagiante e conflituosa que se tece nas sutilezas plantadas ao
correr do enredo.
Outro grande problema do filme é que este nunca
aborda com afinco as alas dramáticas de seu texto. Por exemplo, o âmbito
familiar de Morales, apesar de enfaticamente destacado, não ganha camadas; seu relacionamento
com o tio - personagem intrigante que merecia maior tempo de tela - se estagna
no raso; e o antagonista Wilson Fisk, embora robusto, imponente e atemorizante,
tem uma motivação clichê que deveria ter muito mais textura. Isto é,
Homem-Aranha: No Aranhaverso poderia pautar diversos temas, mas não se
aprofunda e se acomoda com um roteiro que não tem uma mensagem a transmitir.
No mais, a comicidade provém principalmente dos
trechos em que a previsibilidade de alguma circunstância é satirizada. No
entanto, a película não se abstém de um humor infantil que, ainda que menos
inteligente, geralmente funciona. Como adendo, a trilha sonora cadencia muito
bem o entrecho à base de empolgantes canções do hip hop.
Homem-Aranha: No Aranhaverso, em suma, diverte,
serve como tributo e é graficamente bastante ousado, mas peca em demasia e em seu
cerne não tem nada a dizer.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 10
de janeiro de 2019
Direção: Bob Persichetti, Peter
Ramsey e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson
(XVI), Hailee Steinfeld…
Gênero: Animação
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Miles Morales é um jovem negro do Brooklyn que
se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker, já falecido.
Entretanto, ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, ele é
surpreendido com a presença do próprio Peter, vestindo o traje do herói
aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre
que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do
Homem-Aranha.
Avaliação:
IMDb: 8,7
Rotten:
97%
Metacritic:
87%
Filmow
(média geral): 4,5
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,5/4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 6,5
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