13 de agosto de 2019

Kontaminantes ☣ , Nós , Filmes , TerrorHorror-filme ,

Nós

Pôster


Após o estardalhaço que Jordan Peele causou em Hollywood com o famigerado Corra!, o diretor, dois anos mais tarde, retorna aos holofotes da indústria cinematográfica com Nós. Será que o novo longa corresponde as entusiásticas críticas que vem recebendo?
Dentre todos os adjetivos que podem ser atribuídos a Nós, nenhum se encaixa tão perfeitamente quanto provocativo. Mais instigante que Corra!, a nova obra de Peele se apropria de uma narrativa esdrúxula calcada em importantes comentários sociais que, divergente de seu trabalho anterior, não se limita a furtar ideias de outras produções. Dito isso, cabe realçar o fato, mediante certas ressalvas, do roteiro pouco se importar com a capacidade de compreensão geral dos espectadores e usufruir de uma série de singularidades para contar sua estória, o que permite uma total liberdade criativa e poupa o mesmo de procurar artifícios para tornar o texto mais palatável. Entretanto, embora seja apreciável que o cineasta tenha aprendido com alguns dos erros de outrora, Peele continua a pecar no que concerne à vertente cômica.
Comediante de longa data, Jordan não se contém e, assim como em Corra!, permanece enxertando piadas fora de tempo que fomentam um desequilíbrio tonal. Nesse quesito, Gabe é o principal responsável pelos relapsos climáticos do enredo, visto que sua função na película nada mais é que vestir a máscara caricata de um pai apalermado. Em contraparte, uma das maiores virtudes de Nós está na maneira minimalista que o filme encontra para imprimir tensão, ou seja, esta descende da ênfase em pequeninos detalhes, de discretos e enervantes toques ao fundo de uma cena e do silêncio especulativo e inquietante. Ademais, a utilização de planos mais extensos que o habitual e de lentos e apreensivos travellings em 360° corroboram a atmosfera vigente.
Outrossim, reiterando que o glamour do longa em grande parte provém do subjetivismo de seu texto e das perspectivas diversas que este possibilita, convém ressaltar alguns percalços que tomam a forma de trechos expositivos que elucidam elementos que alavancariam maiores debates sem serem mastigados para o público. Por outro lado, as metáforas ilustradas por simbologias denotam imane eficácia e sutileza, tendo em vista que elas se acoplam quase que imperceptivelmente aos cenários e às cenas. Desse modo, acentua-se a meticulosa construção cenográfica articulada pela direção, considerando que Peele insere propositalmente objetos específicos durante momentos-chave do script com o único intuito de incitar o assistente. Até mesmo breves sequências televisivas diegéticas exercem significância perante as diretrizes tomadas pelo entrecho.
O figurino característico, a trilha composta por músicas populares e os enigmáticos minutos incipientes também são passíveis de múltiplas interpretações. Contudo, determinadas críticas do roteiro são perspícuas, estas vinculadas ao tratamento desumano que se dá popularmente para com pessoas marginalizadas, discrepâncias entre camadas sociais e a nulidade do convívio entre semelhantes, ademais da película fornecer uma abordagem ímpar a respeito das metodologias utilizadas por campanhas sociais sob uma ótica incisiva e irônica. Logo, desenvolve-se uma reviravolta final que, apesar de a princípio aparentemente "forçada", mostra-se, em síntese, contextualmente pertinente, além de compactuar as pautas até então fomentadas. Todavia, enquanto a película esbanja-se assaz arrojada em âmbitos que objetivam incomodar o espectador, o mesmo não pode ser dito da concepção dos personagens, estes que, embora desconstruam o arquétipo de burro disseminado no gênero, são unilaterais, fúteis e singelos algoritmos complementares do arco da Adelaide, única que foge à regra e possui um sólido e intrigante plot individual.
Referente à performance cênica dos atores, todos demonstram competência e versatilidade, especialmente ao incorporarem os doppelgängers da trama e suas personalidades contrastantes. No entanto, atores de renome, como a Elizabeth Moss, são desperdiçados em papeis pequenos e pouco exigentes com ínfima relevância no enredo. Porém, ao passo que a produção não sabe aproveitar seu elenco ostensivo, a mesma goza com proficiência de seus recursos narrativos, tais como o uso de sucintos e funcionais flashbacks organicamente impostos. No mais, certas conveniências do script destacam-se, visto que estas têm a exclusiva finalidade de facilitar a vida das figuras em tela sem agregar nada profícuo ao desenvolvimento do longa.
Em suma, Nós, ainda que imperfeito, é um filme angustiante, sugestivo, autoral e desafiante.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 21 de março de 2019
Direção: Jordan Peele
Elenco: Lupita Nyong'o, Winston Duke, Elisabeth Moss...
Gênero: Terror
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
Adelaide e Gabe levam a família para passar um fim de semana na praia e descansar. Eles começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seres com aparências iguais às suas.

Avaliação:
IMDb: 7,0
Rotten: 94%
Metacritic: 81%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,3/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5
Avaliação

Nenhum comentário:

Postar um comentário