16 de fevereiro de 2021

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Capitão Fantástico

 

 
O questionamento da própria realidade muitas vezes pode ser algo assustador para as pessoas. Contestar práticas e costumes transmitidos de geração em geração certamente não é algo fácil, contudo é exatamente isso o que Capitão Fantástico faz, levando o espectador a uma viagem fílmica que o faz indagar dogmas até então tidos como axiomas sociais.
Introdutoriamente, Capitão Fantástico se inicia com uma típica apresentação de personagens. Mais do que isso, os primeiros minutos do longa dedicam-se a introduzir o público dentro do cotidiano da família principal, expondo a rotina de seus membros e hábitos conjuntos que fazem de tal seara um núcleo tão particular. Dito isso, é comum o assistente estranhar as práticas costumeiramente exercidas por Ben e seus filhos, haja visto que o roteiro articula tal empreitada visando alfinetar o espectador e suas mais inexoráveis verdades. Em outras palavras, Capitão Fantástico é, acima de tudo, uma estória sobre tolerância, tanto dentro do mundo fictício criado por Matt Ross (diretor), quanto por parte do próprio público.
Outrossim, a jornada guiada pelas personagens, além do enriquecimento pessoal ministrado acerca do plot de cada um, ressignifica conceitos - tais como educação, entretenimento, alimentação e trabalho - e desconstrói paradigmas responsáveis por moldar o que chamamos de sociedade. Ou seja, não raro a película pauta temas como a toxicidade do capitalismo, o consumo desenfreado e o marasmo da vida urbana hodierna, sobretudo de forma orgânica e extrovertida. Ademais, o filme quebra tabus e rompe o limiar das convenções sociais, seja quando Ben arquiteta um roubo tendo seus filhos como cúmplices, ou quando este expõe ao pequeno Nai as definições de estupro e sexo.
No que diz respeito ao primeiro contato dos personagens com o mundo afora, o roteiro demonstra assaz proficiência ao engendrar tal choque entre realidades. Enquanto Ben e seus filhos têm de lidar com o preconceito e os diversos obstáculos impostos por uma comunidade tão divergente de seus ideais, o vasto universo que os espera reserva desafios que os obrigarão a rever conceitos e se readaptar as normas de um mundo até então jamais desbravado; em suma, é uma experiência de mútuas descobertas e reinvenções. Por outro lado, ainda que o fascinante desenvolvimento intelectual dos personagens seja constantemente frisado, realça-se, em contraponto, uma forte inaptidão interpessoal fruto da inexistência de laços coletivos consequente da vida isolada que os mesmos sempre tiveram. Isto é, infere-se que independente da formação ou quão inteligente uma pessoa possa ser, nada substitui a integridade de genuínos relacionamentos sociais.
Nesse sentido, encontra-se Ben ao centro da trama. Muito mais que uma simples figura paternal, este é quem rege todos os âmbitos da vida dos filhos, o que propicia a criação de um ambiente domiciliar estrito, homogêneo e isento de pensamentos e opiniões adversas. Posto isto, a viagem que os personagens são impelidos a realizar desperta conflitos e interesses que Ben sempre tentou enrustir, levando-o a uma jornada de reconstituição pessoal, na qual ele aprende a escutar os filhos e respeitar suas escolhas e vontades. Em síntese, o enredo tece uma odisseia completa, ensinando o seu herói a ouvir a diversidade, assim como este anseia ser aceito por seus valores e princípios.
Tocante aos aspectos técnicos, a aptidão da produção é a mesma. A trilha, por sua vez, cadencia com eficácia a gradação tonal do entrecho, atribuindo vigor aos momentos mais entusiásticos e emoção as passagens mais belas. Já a fotografia, vívida e imaculada, realça a ambientação bucólica que serve de casa aos personagens, enfatizando principalmente a coloração verde e suas derivadas.
Por fim, é imprescindível enaltecer a hipnótica performance de Viggo Mortensen. Pontuado por imane sobriedade e circunspecção, o desempenho do ator trilha com consentaneidade os passos da persona interpretada, seja defendendo ferrenhamente suas convicções, seja aprendendo com os próprios erros. O amor e o zelo pelos filhos também deve ser grifado, sendo este o arco onde Viggo pode melhor expressar sua versatilidade cênica ao trabalhar com sentimentos e emoções. É igualmente válido ressaltar as atuações de Nicholas Hamilton, como o rebelde Rellian, e George MacKay, como o socialmente canhestro Bo.
No mais, Capitão Fantástico é uma obra bela, sensível e divertida que, ao invés de proferir julgamentos, instrui seu público e personagens a abraçar as diferenças.
Matheus J. S.

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 8 de dezembro de 2016
Direção: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, Frank Langella, George MacKay…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
Nas florestas do estado de Washington, um pai cria seus seis filhos longe da civilização, em uma rígida rotina de aventuras. Ele é forçado a deixar o isolamento e leva sua família para encarar o mundo, desafiando sua ideia do que significa ser pai.

Avaliação:
IMDb: 7,9
Rotten: 83%
Metacritic: 72%
Filmow (média geral): 4,4
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,5/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10


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