7 de março de 2021

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Os 7 de Chicago


Cenário dos mais diversos filmes e séries, a Guerra do Vietnã mais uma vez se apresenta como protagonista de um longa que, para todos os efeitos, é um forte candidato ao Oscar. Dirigido por Aaron Sorkin e distribuído mundialmente pela Netflix, Os 7 de Chicago é a mais nova obra a criticar o famigerado conflito armado e sua repercussão.
A priori, vale ressaltar que a película se articula como uma típica produção hollywoodiana. Isto é, com uma breve pesquisa histórica, constata-se uma modificação dos eventos em prol da construção de um roteiro partidário e desprovido de imparcialidade, o que culmina em personagens unilaterais e muitos momentos inverossímeis. Nesse quesito, destacam-se o juiz Hoffman, como uma persona caricata, e o agente federal Richard, como um adversário engessado e insosso das figuras centrais da trama. Ademais, cabe frisar a patética sequência final que, ao som de uma música edificante e a vibração de uma plateia tola, compõe o que deveria ser o segmento mais emocionante do filme, mas soa apenas como algo irreal e sentimentalmente manipulativo. 
Outrossim, nem todas as personas em tela possuem uma função no entrecho, acarretando um desequilíbrio cênico incômodo aos olhos de quem assiste. Por outro lado, aqueles com maior realce jamais recebem o aprofundamento devido, ilustrando como, nesse caso, tempo de tela não corresponde necessariamente à desenvolvimento de personagem. É pertinente salientar, também, os atritos que moldam a relação do grupo e auxiliam o espectador a compreender melhor as motivações e valores de cada membro. No entanto, o texto novamente peca ao florear em demasia o fecho de alguns arcos, como, princialmente, o plot entre Abbie e Tom.
Atinente à direção, Aaron Sorkin cadencia muito bem o tom do entrecho, prezando, inicialmente, por uma jocosidade narrativa que gradualmente torna-se mais densa. Essa face burlesca do longa manifesta-se especialmente na pele de Abbie e Jerry, além do juiz Hoffman que, ainda que inautêntico, funciona remotamente como crítica escrachada à postura execrável e tendenciosa de si mesmo. Por sua vez, a montagem, extremamente hábil e dinâmica, tem seu ápice ao entrelaçar trechos distintos sob um mesmo contexto, no qual um personagem, após um abrupto corte, "termina" a frase do outro e gera um sentido diferente para o que se pretendia dizer; é hilário e sagaz.
Um dos principais pontos a grifar da obra de Sorkin é, indiscutivelmente, a temática que respalda todo o desenrolar do enredo. Em face disso, comuns são as alfinetadas direcionadas aos impactos socioculturais oriundos da Guerra Vietnã, além de críticas ao âmbito político, racismo, violência policial e violação da democracia, assuntos que, em linhas gerais, dialogam intimamente com a realidade atual da América. Nesse sentido, para o progresso e compreensão unânime do texto, a película opta por uma abordagem mais didática que, ainda que operante, por vezes é demasiado expositiva.
Por fim, é válido exaltar a utilização de flashbacks para integração do assistente com os fatos ocorridos, usufruindo da mescla de imagens dos acontecimentos reais e outras concebidas para o próprio filme. É importante evidenciar que o uso do recurso supracitado, apesar de ensejar a criação de uma tensão atmosférica, não é suficiente para o longa atingir todo o seu potencial de abalo, limitando-se à incursões mais brandas que garantem a classificação indicativa mais baixa.
Em suma, Os 7 de Chicago é uma produção proficiente em ambientar seu público acerca da relevância de um dos mais notórios eventos da contemporaneidade americana, mas peca na concepção de um roteiro coercivo que, sobretudo, nunca alcança seu apogeu.
Matheus J. S.


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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 16 de outubro de 2020
Direção: Aaron Sorkin
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Sacha Baron Cohen, Joseph Gordon-Levitt...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):
Baseado em uma história real, o longa Os 7 de Chicago acompanha a manifestação contra a guerra do Vietnã que interrompeu o congresso do partido Democrata em 1968. Ocorreram diversos confrontos entre a polícia e os participantes. No total, dezesseis pessoas foram indiciadas pelo ato.

Avaliação:
IMDb: 7,8
Rotten: 90%
Metacritic: 77%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5


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