Mais de 36 meses depois, Euphoria chega ao seu segundo ano com a missão
de continuar com o acachapante sucesso de sua temporada introdutória.
Infelizmente, o resultado passou bem longe do que era esperado.
Em primeira análise, Euphoria permanece estruturalmente audaciosa, mas
com ressalvas. Isto é, novamente se faz presente cenas que desconstroem a
diegese do programa, brincam com elementos oníricos e se apropriam do fato de
Rue ser a narradora para moldar a trama conforme as intenções da personagem. A
série também se mantém prezando a espetacularização de suas ocorrências em
detrimento da verossimilhança, contudo, diferentemente da primeira temporada,
aqui é inoperante porque não é dosado com equilíbrio. Ademais, vale ressaltar
que há diversas tiradas cômicas fora de tempo e transições de um arco ao outro
que nem sempre ocorrem com organicidade, propiciando ao enredo inconvenientes
engasgos narrativos.
No que diz respeito aos astros da produção, a urdidura atribui ênfase a
alguns rostos com pouco destaque no ano anterior, porém, não os desenvolve ao
ponto de torná-los realmente significativos ao entrecho. Nesse sentido, os
principais expoentes são Ash e Cal. Este último tem um episódio inteiramente
dedicado a si, entretanto, embora o pai de Nate ganhe camadas, ele é simplesmente
descartado após o capítulo e tem o seu retorno efetuado somente para embasar o
núcleo de outra figura. Por sua vez, o irmão de Fezco passa por situação
semelhante, tendo sua estória apresentada durante os minutos incipientes da
temporada e posteriormente voltando ao posto de um mero coadjuvante.
Por outro lado, alguns semblantes com maior realce anteriormente, agora
são simplesmente esnobados. Isso se aplica especialmente a Kat, que possui um plot
interessante, mas não tem progresso, e McKay que, de forma distinta da persona
supracitada, nunca sacramentou seu lugar na série e é acertadamente dispensado
pelo texto. Convém salientar, além do mais, que há dois novos personagens que são
frisados em meio aos demais: Faye e Elliot. Posto isto, Faye, mesmo que
inicialmente tenha uma função a desempenhar, logo se torna um peso desnecessário
à trama, enquanto Elliot existe apenas para compor um fastidioso triângulo
amoroso entre ele, Rue e Jules.
Aproveitando o gancho, triângulos amorosos parecem ter sido a prioridade
de Sam Levinson ao escrever o roteiro. Isto é evidenciado de similar modo através
da subtrama entre Nate, Cassie e Maddy que, mais do que qualquer outra coisa,
lembra o desenrolar clássico de uma novela das oito - e não no bom sentido.
Dito isso, Cassie é subaproveitada e tem somente o seu corpo explorado
repetidas vezes pelo script (chega a ser incômodo), enquanto a
sexualidade de Nate não é trabalhada e o arco de Maddy se resume às idas e
vindas com este e a "tensão" com a possível descoberta do
relacionamento entre sua melhor amiga e Nate; a sua relação com os pais,
brevemente pincelada no primeiro ano, é igualmente subestimada. Cabe enfatizar
que o último episódio é uma bagunça e foca no estopim de toda essa
"apreensão".
Concernente a Rue, Euphoria articula sobre a jovem os seus melhores
momentos. Essa segunda temporada desglamouriza efetivamente o vício e expõe
como tal mazela afeta todos ao redor do usuário. Em face disso, o quinto episódio
se classifica como o mais bem arquitetado ao esmiuçar a jornada de Rue; é intenso
e frenético, conduzido com maestria por Levinson em uma escalada de emoções que
fazem todas as ações até então perpetradas culminarem em uma gigantesca bola de
neve. A perda do pai, o elo com a mãe e os efeitos causados à irmã caçula são
igualmente escrutinados. Entretanto, nada disso seria possível sem a atuação
arrebatadora de Zendaya que, neste episódio, chega ao seu ápice performático.
Em outras palavras, a atriz interpreta com primor a curva dramática de sua
persona; ela vai em poucos segundos de um polo emocional ao outro, apresentando
reações genuínas de raiva, rancor, arrependimento e dependência química.
Por fim, o segundo ano de Euphoria peca em muitos aspectos, inclusive ao
tentar cadenciar arcos com pesos distintos que tornam o enredo discrepante.
Portanto, ainda que sua protagonista evolua, a série se perde em meio a inúmeros
subnúcleos bobos e mal desenvolvidos que atribuem ao programa um caráter de fanfic.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
Comente,
Compartilhe e Siga Nosso Blog
Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 09 de janeiro de 2022
Criada por: Sam Levinson
Com: Zendaya, Hunter Schafer, Sydney Sweeney …
País: EUA
Gênero: Drama
Status: Renovada
Duração (aproximada): 54 - 61 minutos
Sinopse
(Filmow):
O dia-a-dia de um grupo de
estudantes do ensino médio, a medida que eles exploram novos amores e amizades
em um mundo de sexo, drogas, traumas e mídias sociais.
Avaliação (2ª Temporada):
IMDb (2019 - ): 8,5
Rotten: 83%
Metacritic: 74%
Filmow (média geral):
4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 4
Nenhum comentário:
Postar um comentário