5 de março de 2017

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Lion: Uma Jornada Para Casa



Realmente vive-se hoje em um mundo de injustiças, e a prova disto é a indicação de Lion à Melhor Filme. Se Amy Adams, A Criada e Elle não conseguiram ser nomeados em suas respectivas categorias, como Uma Jornada Para Casa pôde ser indicado ao prêmio mais cobiçado do Oscar? Certamente determinadas coisas não possuem explicações plausíveis.
Podendo ser dividido em dois atos, o primeiro caracteriza-se pela introdução dos personagens e a impulsão do arco inicial, ou seja, o drama que é vivido pelo protagonista perante seu desaparecimento e os confrontos pelos quais tem de passar em sua jornada solo pelas bem caracterizadas terras da Índia. Absortos pelo carisma e fofura do ator mirim intérprete de Saroo, o público, durante a primeira etapa do longa, se vê frente as relações drasticamente e involuntariamente cortadas deste para com sua família e a vida difícil que passa a levar e complicações pelas quais acaba por vivenciar, provações que tem de subjugar e o enfrentamento para com o mundo só o qual não pode escapar. As lutas e perigos os quais tem de lidar basicamente se resumem a fome, falta de um abrigo decente e estável e bandidos e comerciantes ilegais que tudo fazem para sequestrá-lo. Vale ressaltar que seu desaparecimento sofre uma sutil influência do cotidiano árduo e miserável de seus familiares (quem já assistiu a película entenderá). Ademais, a primeira metade do filme (ou quase isso) também é marcada pela inclusão de Saroo a uma nova vida, cultura e costumes conforme sua adoção por um casal de australianos, além do início de relacionamentos que virão a ter sua importância na vida do indiano. Ainda referente ao dito plot, seus pais adotivos igualmente tomam sob sua tutela outra filho, este que é a mais pura, real, sofrida e dolorosa personificação dos traumas e feridas deixadas por todos os confrontos que uma criança da cuja idade mínima tem de passar até o respectivo momento e como estes são extremamente impactantes e influentes de forma maléfica para o resto de sua vida.
Já o segundo ato, quando Saroo se encontra adulto perante um salto no tempo (estes que são comuns no entrecho, mas não pesam e somente o complementam) de 20 anos, é notório pelos conflitos pessoais que passa consoante o dilema acerca de seu saudosismo, dilema muito bem incorporado e que muitas pessoas com uma história similar enfrentam. Ademais, sua crise emocional engloba deslumbrantemente todos seus medos, receios e atritos em relações para com pessoas de seu círculo íntimo. Marcado por uma carga dramática e psicológica bem alta na qual a complexidade de cada personagem se realça mais, o ato em questão exige bastante dos atores, estes que conseguem convincentemente entregar uma excelente performance sentimental e empenhada onde o ápice de suas atuações são ditadas por emoções condizentes e passagens as quais a doída dramatização chega a ser palpável e contaminante, não à toa Dev Patel (que levou o BAFTA de Melhor Ator Coadjuvante) e Nicole Kidman conseguiram justas indicações em suas respectivas categorias. Provavelmente o diálogo de maior destaque se encontra em uma sequência quando ambos os personagens interpretados pelos nomeados ao Oscar discutem a respeito do motivo da adoção do protagonista e seu "irmão", diálogo que se sobressai conforme as reflexivas e conscientes justificativas.
Durante a metade final do longa, flashbacks e lembranças passam a ser utilizados pelo roteiro, estes que enfatizam a boa, amigável e fluida relação fraternal do intérprete de Patel para com seu irmão biológico, vínculo que não funciona entre os adotados. Recurso muito bem utilizado que ratifica o que o protagonista deixou para trás em sua antiga vida e agora lhe serve como estímulo para o reencontro familiar, além de salientar o drama que é reforçado ao longo de toda nova tentativa falha ao não ter seu foco concretizado. Neste segundo seguimento da película, a trama impõe como aliada de Saroo a tecnologia, método para se chegar ao seu objetivo que merece ser destacado, afinal, quantos no passado não poderiam ter tido seu desejo realizado tendo a internet como companheira?
Emocionante e tocante, Lion pode se vangloriar de sua admirável trilha sonora que dialoga exemplarmente com seu teor corrente (outra justa indicação ao Oscar) que igualmente possui o dom, sem se tornar um fardo, de se alterar bem e de tal maneira harmônica consoante a situação, ademais da bela e exuberante fotografia (que lhe rendeu mais uma nomeação plausível) e iluminação que são bem coordernadas ao correr do enredo, assim como a boa escolha de atores consentânea que condiz com os aspectos originários de cada povo explorado na produção. Além, algo que deve ser lembrado é o curioso título do filme, este que é autoexplicado ao desfecho do mesmo.
Todavia, nem só de rosas Uma Jornada Para Casa é constituído. Baseado em fatos, o longa não inova referente ao contexto abordado, apesar da bela história de perseverança, sonhos, superação... este cai em diversos clichês e não apresenta ousadia quando tem a oportunidade, você já conhece o que vê na tela. É certo que possui como fonte de inspiração acontecimentos verídicos, porém a trama não tem de ser 100% voltada para estes. Além, tem sua maior falha presente na passagem do primeiro para o segundo ato que é abordada sem a sutileza necessária, o espectador se vê diante de um ritmo entrecortado de forma drástica e sem a preparação sensata, poderia funcionar, mas faltou competência do diretor, cadência, versatilidade, destreza, um desenvolvimento de maior cuidado, apreço, sutileza e sensibilidade pelo diamante bruto que tinha em suas mãos. Enfim, as fragilidades do roteiro ofuscam grande parte do brilho que poderia ser bem mais resplandecente.
Em suma, considerando que tinha grandes expectativas para o filme, creio que tenha deixado minhas expectativas se elevarem demais e, perante o esperado não encontrado, o amargor tenha sido demasiado desgostoso. No mais, Lion pode ser um bom filme, mas não é necessário e logo será esquecido.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 16 de fevereiro de 2017 (1h 58min)
Direção: Garth Davis
Elenco: Dev Patel, Rooney Mara, Nicole Kidman…
Gêneros: Biografia; Drama; Aventura
Nacionalidades: Eua, Austrália, Reino unido


Avaliação:
IMDb: 8,1
Rotten: 86%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 4,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8

2 comentários:

  1. Lion é relevante por explorar tópicos de interesse de nossos tempos, como a evolução tecnológica. Convida o espectador a pensar e promove boas discussões sobre a globalização e sincretismo cultural. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que os filmes baseados em fatos reais são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Também gostei muito de Dunkirk, não conhecia a história e realmente gostei. Parece surpreendente que esta história tenha sido real, considero que outro fator que fez deste um grande filme foi a atuação do ator Tom Hardy, seu talento é impressionante.

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    1. Oi Emma, obrigado pelo comentário. Apesar de não ter gostado de Lion, reconheço que o filme possui algumas vertentes reflexivas que podem ser aproveitadas. Referente à Dunkirk, não curti o longa pelo tom abordado o qual o diretor optou por tratar o enredo, apesar de ter gostado bastante do Tom Hardy, em minha opinião, um dos melhores atores dessa geração. Segue a seguir o link da divagação de Dunkirk:
      https://kontaminantes.blogspot.com/2017/12/dunkirk.html

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