O cinema vive hoje uma era muito curiosa, onde
a originalidade já não se mostra tão evidente e transformações referentes a diversos
conceitos cinematográficos são realçadas, assim como uma recorrência a outros
meios de entretenimento que muitas vezes servem de base para concepções da sétima-arte.
Deste modo, pode-se dizer que nunca antes o universo literário quanto tantos
outros alicerces de produções cinematográficas estiveram tão presentes nas telonas.
Baseado em uma peça de teatro, Um Limite Entre Nós se encaixa neste quesito,
principalmente por conta de sua adaptação bem-sucedida que prova que longas de
similares origens podem render um belo trabalho.
Seguindo o cotidiano de uma família, destacando
os empecilhos da vida de cada um e os confrontos de ideais entre os membros da
mesma, o filme foca principalmente na imagem paternal do núcleo. Este, brilhantemente
interpretado por Denzel Washington (também diretor da película) em um de seus
melhores trabalhos da carreira (o Oscar teria sido justo), representa uma figura
um tanto quanto controversa, mas muito complexa e interessante que reflete
todos os conflitos, amargor, arrependimentos e rancores de um homem da
respectiva idade. Personagem que, apesar de contraditório, é compreensivo e poderia
se enquadrar perfeitamente em vários seguimentos da trajetória de qualquer um. Considerando
as excelentes atuações de todos os atores do longa e a relevância dos
coadjuvantes que são necessários, complementam o enredo, são bem utilizados por
um roteiro conduzido com destreza e versatilidade, além de serem bem complexos e
que, ao menos alguns, demonstram uma contagiante carisma, Viola Davis, vencedora
do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante de 2017 (foi merecido, embora torcesse
pela Naomi Harris), igualmente se sobressai ao desempenhar mais do que um
simples papel secundário onde sua deslumbrante performance conciliada ao seu
protagonismo de suma importância atribui ao filme um dramático, verdadeiro e
sentimental toque de poder, imposição e identidade feminina maternal e domiciliar,
realçando a força, valores e conceitos das mulheres que na época não possuíam
tanta liberdade de expressão. Ainda vinculado ao elenco, destaque para Stephen
Handerson que também faz parte da equipe atuante do premiado Manchester à Beira-Mar (leia aqui).
Salientando de forma a ratificar a personificação
da mais pura complexidade humana na personalidade de Troy, a película se
aprofunda em questões referentes a responsabilidades, conflitos familiares e
pessoais, amizade, níveis de relacionamentos e o teor particular de cada um
destes, todos aspectos que dialogam perfeitamente com uma condução excepcional que
flui naturalmente cooperada a uma direção volúvel e muito bem harmonizada. Prezando
a notoriedade de perspectivas e concepções distintas e individuais, o filme explora
fatores relacionados a costumes e lemas que regem a vida de uma pessoa,
enfatizando principalmente um embate entre pai e filho impulsionado por
divergências de princípios. Levando-se em consideração os valores conservadores
de Troy, o citado embate para com seu filho "liberal" e
"rebelde" se mostra uma das passagens mais interessantes e reflexivas
do longa.
Majestosamente característico, realista, natural
e usufruindo praticamente de um só cenário, Um Limite Entre Nós, ademais de marcado
por uma intensa carga emocional, dramática e psicológica, exalta o poderio e
importância de bons diálogos, estes que geralmente costumam ser os pilares de
um entrecho aceitavelmente desenvolvido e coordenado. Valorizando metáforas
sutis e questionamentos acerca de preconceito e racismo que predominavam até
mesmo meios trabalhistas e esportivos, a produção, ao seguimento de uma rotina
diária e comum, se vê envolta por uma ambientação onde a coloração amarronzada
é realçada e colabora com o contexto de casualidade, mesmo que conflituoso e
árduo. Vale ressaltar o título da película no Brasil, este pouco consentâneo e extremamente
verborrágico. Acentuando similarmente seu cartaz, o dito objeto transmite um
espírito um tanto quanto equivocado a respeito do que o público irá acompanhar.
Aprofundando-se em reflexões que remetem a família
e a vida, uma fala de Troy, que resume bem o longa e nossas trajetórias
matinais, pode ser considerada um slogan do protagonista e é realmente bastante
expressiva, condizente e pode ser aplicada em diferentes estágios de nosso
cotidiano: "É preciso rebater tanto as retas quanto as curvas". Aclamado
pelo público e pela crítica, Um Limite Entre Nós, tendo concorrido às
estatuetas de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado e de forma justa não as conquistado,
possui seus méritos, mas não é um filme marcante, inesquecível, memorável ou
que assistiria de novo, mas vale o apreço do espectador.
Matheus
J. S.
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 2 de
março de 2017 (2h 19min)
Direção: Denzel Washington
Elenco: Denzel Washington, Viola
Davis, Stephen Henderson…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 93%
Filmow (média geral): 3,8
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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