Filme dramático e baseado em fatos com certeza
não foi o que faltou neste Oscar 2017. No entanto, Manchester à Beira-Mar,
mesmo seguindo uma linha de contexto similar, se sobressai conforme seu teor
característico do gênero que é abordado de forma drástica e da maneira mais
depressiva e melancólica possível, assim como, apesar de não ter uma história
real como alicerce, poder se encaixar perfeitamente na vida de muitos. Não por
acaso, aprofundando-se em meios já bem explorados por longas diversos, a película
inova ao desmembrar o seu conteúdo de maneira peculiar que, ao mesmo tempo em
que não é original, consegue demonstrar originalidade, sem dúvidas sua
conquista na noite do dia 26 (fevereiro) de Melhor Roteiro Original, embora não
muito condizente, possa ser justificada.
Prezando uma condução lenta e que pode ser
considerada arrastada, mas que dialoga com o ritmo da mesma, a produção possui
como uma de suas maiores virtudes a ausência de abrangência do espectador e
mantém, desde seu princípio, a mesma cadência em questão, um de seus principais
e mais marcantes aspectos que corrobora muito bem com suas propostas acerca de
profunda tristeza e amargor, cooperando para que esta se diferencie de longas
similares e não sofra os mesmos pecados de trabalhos semelhantes que perdem seu
brilho ao não desenvolverem o roteiro da forma devida ao terem de lidar com o
fardo do envolvimento do público. Ajustado aos quesitos ressaltados, a película
talvez se alongue demais em certas passagens que acabam por serem vistas como desnecessárias,
é certo que algumas destas tentam impor algum breve alívio cômico para
descontrair a carga densa e nebulosa ou procurem abordar com maior realce algum
plot, todavia poderiam tranquilamente ser enxugadas do entrecho sem se perder
algo verdadeiramente relevante.
Considerando que o filme valoriza bastante
relações complexas, este salienta como primordial o relacionamento entre tio e
sobrinho que ao longo da sequência inicial e flashbacks ao correr do enredo
transmitem um interessante vínculo de afinidade que no presente não existe.
Mais tarde, corrente o recurso citado ainda mais utilizado e certos fatores
intrigantes já esclarecidos, fica praticamente obvio os motivos do
distanciamento entre os dois, além, claro, da morte iminente do irmão do protagonista
que não melhora em nada os ares, ademais de apenas trazer para vida de ambos
empecilhos e confrontos de ideais. Similarmente, durante os primeiros minutos
do longa, a personalidade de Lee é muito bem exposta, ranzinza, frio,
melancólico, impaciente, antipático, características que são brilhantemente
interpretadas por Casey Afflek e que, nos devidos momentos, são salpicadas por
inesquecíveis vislumbres de uma memorável performance onde seus excessos de
tristeza ou algum outro sentimento ou emoção (apenas recorrentes ao longo da
trama consoante a massiva textura que pode ser comparada a natureza do
Ultrarromantismo) recebem um maior destaque. Perante os primórdios da película,
o espectador também se vê frente a uma ambientação gélida que será palco e
personagem do entrecho ao ratificar e colaborar com os contextos destrinchados
sempre envoltos por uma ácida e incômoda melancolia.
Aproveitando a oportunidade após referir-se à
Casey, este entrega seu melhor desempenho da carreira que foi justamente consagrado
com o Oscar de Melhor Ator. Responsável por uma das mais excepcionais atuações
de 2016, Affleck igualmente foi notório conforme os prêmios conquistados e a
vinda de uma acusação do passado acerca de assédio sexual que desencadeou
inúmeros debates éticos e morais mediante suas conquistas e aclamação da
crítica e de grande parte do público por sua performance. Contudo, o que não se
pode negar é que realmente sua interpretação nada foi menos que magistral.
Usufruindo do debate alusivo ao desempenho de Casey, a oportunidade do mesmo
modo requer uma proeminência a outras belíssimas atuações que similarmente
foram lembradas ao serem nomeadas em suas respectivas categorias. Pode-se dizer
que Michelle Williams está simplesmente impecável em sua personagem, sem
dúvidas um diálogo, estes que são essenciais ao enredo, próximo ao desfecho foi
fundamental para a citada indicação. Alternando deslumbrantemente seu papel
entre descontração, irritação e desespero em seu pouco tempo de tela, Michelle
dá um show de interpretação à parte. Já Lucas Hedges, embora seja ainda muito
inexperiente, consegue fornecer um bom trabalho, consentâneo e convincente, mas
nada que explique sua nomeação. Como dito de forma semelhante no post de Até o
Último Homem (leia aqui), se Lucas Hedges pôde concorrer à estatueta, por que Hugo Weaving
não? Igualmente concorrente ao Oscar de Melhor Filme, apesar de muito bom e
possuir sua importância e méritos, a vitória não estaria sendo merecidamente
atribuída.
Pessimista e realista, niilista e deprimente, o
longa em sua essência mantém conciliado fatores que remetem a morte e luto que
cooperam para criação de personagens pelos quais não temos afinidade consoante
o tom mórbido que lhes cerca. O contexto sentimentalmente exaustivo e abatedor
não poupa o espectador, ao fim quem o assiste se encontra abalado, mentalmente
instável e interiormente desestabilizado, este não é um filme fácil e de
simples absorção. Tratando do seguimento da vida após perdas, a produção
ratifica bastante a vida miserável das pessoas, não financeiramente ou outro
mal material, porém intimamente. Arrumando tempo ainda para abordar
questionamentos referentes ao perdão (tanto para com segundos quanto para si),
a película enfatiza as difíceis relações que se estabelecem entre as pessoas corrente
algum evento trágico, as consequências psicológicas e traumáticas do mesmo,
assim como o destino que não demonstra compaixão para com ninguém e pode, mais
de uma vez, ser muito cruel. Relacionado ao último quesito ressaltado, o
roteiro traça de maneira admirável uma inteligente linha simultânea entre
passado e presente que realça o aspecto citado.
Imprevisível e com um epílogo sobre o qual não
se pode reclamar, a condução do longa é ditada por alguns cortes secos que,
como sua quase isenta trilha sonora, dialogam com a infelicidade na tela.
Manchester à Beira-Mar, apoteótico retrato da melancolia e amargor, com
absoluta certeza não é para todo e qualquer paladar e muitos se decepcionarão
ao assistirem com expectativas equivocadas, não espere ações frenéticas e
adrenalina a alta voltagem, mas sim um filme monótono, diferenciado e que foge
do básico e convencional.
Matheus
J. S.
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Leia Também:
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 19
de janeiro de 2017 (2h 18min)
Direção: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Michelle
Williams, Kyle Chandler…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Eua
Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten: 96%
Rotten: 96%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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