11 de março de 2017

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Manchester à Beira-Mar

Pôster


Filme dramático e baseado em fatos com certeza não foi o que faltou neste Oscar 2017. No entanto, Manchester à Beira-Mar, mesmo seguindo uma linha de contexto similar, se sobressai conforme seu teor característico do gênero que é abordado de forma drástica e da maneira mais depressiva e melancólica possível, assim como, apesar de não ter uma história real como alicerce, poder se encaixar perfeitamente na vida de muitos. Não por acaso, aprofundando-se em meios já bem explorados por longas diversos, a película inova ao desmembrar o seu conteúdo de maneira peculiar que, ao mesmo tempo em que não é original, consegue demonstrar originalidade, sem dúvidas sua conquista na noite do dia 26 (fevereiro) de Melhor Roteiro Original, embora não muito condizente, possa ser justificada.
Prezando uma condução lenta e que pode ser considerada arrastada, mas que dialoga com o ritmo da mesma, a produção possui como uma de suas maiores virtudes a ausência de abrangência do espectador e mantém, desde seu princípio, a mesma cadência em questão, um de seus principais e mais marcantes aspectos que corrobora muito bem com suas propostas acerca de profunda tristeza e amargor, cooperando para que esta se diferencie de longas similares e não sofra os mesmos pecados de trabalhos semelhantes que perdem seu brilho ao não desenvolverem o roteiro da forma devida ao terem de lidar com o fardo do envolvimento do público. Ajustado aos quesitos ressaltados, a película talvez se alongue demais em certas passagens que acabam por serem vistas como desnecessárias, é certo que algumas destas tentam impor algum breve alívio cômico para descontrair a carga densa e nebulosa ou procurem abordar com maior realce algum plot, todavia poderiam tranquilamente ser enxugadas do entrecho sem se perder algo verdadeiramente relevante.
Considerando que o filme valoriza bastante relações complexas, este salienta como primordial o relacionamento entre tio e sobrinho que ao longo da sequência inicial e flashbacks ao correr do enredo transmitem um interessante vínculo de afinidade que no presente não existe. Mais tarde, corrente o recurso citado ainda mais utilizado e certos fatores intrigantes já esclarecidos, fica praticamente obvio os motivos do distanciamento entre os dois, além, claro, da morte iminente do irmão do protagonista que não melhora em nada os ares, ademais de apenas trazer para vida de ambos empecilhos e confrontos de ideais. Similarmente, durante os primeiros minutos do longa, a personalidade de Lee é muito bem exposta, ranzinza, frio, melancólico, impaciente, antipático, características que são brilhantemente interpretadas por Casey Afflek e que, nos devidos momentos, são salpicadas por inesquecíveis vislumbres de uma memorável performance onde seus excessos de tristeza ou algum outro sentimento ou emoção (apenas recorrentes ao longo da trama consoante a massiva textura que pode ser comparada a natureza do Ultrarromantismo) recebem um maior destaque. Perante os primórdios da película, o espectador também se vê frente a uma ambientação gélida que será palco e personagem do entrecho ao ratificar e colaborar com os contextos destrinchados sempre envoltos por uma ácida e incômoda melancolia.
Aproveitando a oportunidade após referir-se à Casey, este entrega seu melhor desempenho da carreira que foi justamente consagrado com o Oscar de Melhor Ator. Responsável por uma das mais excepcionais atuações de 2016, Affleck igualmente foi notório conforme os prêmios conquistados e a vinda de uma acusação do passado acerca de assédio sexual que desencadeou inúmeros debates éticos e morais mediante suas conquistas e aclamação da crítica e de grande parte do público por sua performance. Contudo, o que não se pode negar é que realmente sua interpretação nada foi menos que magistral. Usufruindo do debate alusivo ao desempenho de Casey, a oportunidade do mesmo modo requer uma proeminência a outras belíssimas atuações que similarmente foram lembradas ao serem nomeadas em suas respectivas categorias. Pode-se dizer que Michelle Williams está simplesmente impecável em sua personagem, sem dúvidas um diálogo, estes que são essenciais ao enredo, próximo ao desfecho foi fundamental para a citada indicação. Alternando deslumbrantemente seu papel entre descontração, irritação e desespero em seu pouco tempo de tela, Michelle dá um show de interpretação à parte. Já Lucas Hedges, embora seja ainda muito inexperiente, consegue fornecer um bom trabalho, consentâneo e convincente, mas nada que explique sua nomeação. Como dito de forma semelhante no post de Até o Último Homem (leia aqui), se Lucas Hedges pôde concorrer à estatueta, por que Hugo Weaving não? Igualmente concorrente ao Oscar de Melhor Filme, apesar de muito bom e possuir sua importância e méritos, a vitória não estaria sendo merecidamente atribuída.
Pessimista e realista, niilista e deprimente, o longa em sua essência mantém conciliado fatores que remetem a morte e luto que cooperam para criação de personagens pelos quais não temos afinidade consoante o tom mórbido que lhes cerca. O contexto sentimentalmente exaustivo e abatedor não poupa o espectador, ao fim quem o assiste se encontra abalado, mentalmente instável e interiormente desestabilizado, este não é um filme fácil e de simples absorção. Tratando do seguimento da vida após perdas, a produção ratifica bastante a vida miserável das pessoas, não financeiramente ou outro mal material, porém intimamente. Arrumando tempo ainda para abordar questionamentos referentes ao perdão (tanto para com segundos quanto para si), a película enfatiza as difíceis relações que se estabelecem entre as pessoas corrente algum evento trágico, as consequências psicológicas e traumáticas do mesmo, assim como o destino que não demonstra compaixão para com ninguém e pode, mais de uma vez, ser muito cruel. Relacionado ao último quesito ressaltado, o roteiro traça de maneira admirável uma inteligente linha simultânea entre passado e presente que realça o aspecto citado.
Imprevisível e com um epílogo sobre o qual não se pode reclamar, a condução do longa é ditada por alguns cortes secos que, como sua quase isenta trilha sonora, dialogam com a infelicidade na tela. Manchester à Beira-Mar, apoteótico retrato da melancolia e amargor, com absoluta certeza não é para todo e qualquer paladar e muitos se decepcionarão ao assistirem com expectativas equivocadas, não espere ações frenéticas e adrenalina a alta voltagem, mas sim um filme monótono, diferenciado e que foge do básico e convencional.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se


Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 19 de janeiro de 2017 (2h 18min)
Direção: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Eua

Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten: 96%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários): 4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9

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