Responsável pelo tão aguardado e icônico
primeiro Oscar da carreira de Leonardo DiCaprio, O Regresso, mais do que um
atribuinte do prêmio mais cobiçado do universo cinematográfico a um dos mais
brilhantes e formidáveis atores da atualidade (e da história, por que não?),
provavelmente está entre os melhores filmes de 2015 e com certeza não será
esquecido tão cedo.
Adentrando em seus primeiros minutos um terreno
impiedoso, brutal e cruel que será predominante ao seu correr, o longa, marcado
por sua violência e sanguinolência, se sobressai, já em seus princípios, por
características que o acompanharão durante toda sua trajetória. Sequências
extensas sem cortes, fotografia exuberante e uma ambientação gélida e inóspita
são alguns dos diversos aspectos que constituem os primórdios da película e já
demonstram a magistral direção sob a qual foi concebida. Conduzido pelas
cuidadosas, hábeis e pontuais mãos de Alejandro González Iñárritu, primeiro
diretor mexicano a ganhar dois Oscars consecutivos (Birdman e O Regresso), seu
impecável e excepcional trabalho é ainda mais realçado consoante a sua
obstinação e determinação ao procurar o melhor resultado possível para o filme,
quesito notável ao se observar os inclementes
locais de gravação e as provações pelas quais os atores tiveram de
passar para poderem desempenhar as suas melhores performances. Tendo de
enfrentar temperaturas extremas e outros dos mais variados empecilhos para se
conseguir naturais, belas, reais e marcantes paisagens para seu longa (o que
justamente concedeu o Oscar respectivo a Emmanuel Lubezki de Melhor Fotografia)
que são, muitas vezes, conciliadas a esplêndidos e fantásticos planos abertos
enaltecidos por uma natural e mágica iluminação, González tem sua genialidade
mais uma vez destacada perante as passagens contínuas que carregam um grau de
maior dificuldade de regência e necessitam de um empenho mais acentuado dos
atores. Ao já ter registrado sua marca em obras-primas como Babel, 21 Gramas,
Amores Brutos e Biutiful, além do já citado Birdman, Iñárritu tem sua destreza
novamente ratificada em O Regresso e prova que não é só mais uma promessa, mas
sim uma das maiores preciosidades do cinema atual que se encontra atrás das
câmeras. Vale ressaltar todos os outros e relevantes membros da equipe técnica
que, sem o apoio dos mesmos, esta admirável produção nunca poderia ser o que é.
Baseado em fatos, o longa explora o absurdo e a
mais pura realidade simultaneamente, deixando o espectador na dúvida, durante
variados momentos, se o que se passa na tela é realmente verídico. Sangrento,
violento e nada misericordioso, O Regresso, salientando os aspectos citados,
presenteia o público com uma insana, acirrada e angustiante luta entre um
humano e um urso, apenas algumas das muitas passagens de semelhante teor e que
se destacam com maior notoriedade. Com certeza um dos pontos altos do filme é
nos fazer sentir pelo personagem, nos apiedarmos de seu sofrimento e angústia,
principalmente, além dos fatores enaltecidos, por conta do relacionamento
protetor e bastante próximo deste para com seu filho que ocasiona muita dor e
revolta. Ainda referente ao protagonista em si, vale ressaltar seus conflitos
pessoais e seu passado que não nos são apresentados à toa. Corroborando à
agonia da tela, a maquiagem e os efeitos visuais não fazem feio, pelo
contrário, enfatizam ainda mais a belíssima plástica do trabalho
cinematográfico e extremamente bem característico. Abordando com sutilidade
questões acerca de preconceito, confrontos entre distintas etnias e disputas
por determinados objetos que também servem como meio de sobrevivência, um pouco
a respeito dos indígenas (que, sob certas perspectivas, podem saturar o texto,
mas nada que chegue a pesar de forma demasiado negativa) e a exploração que
estes sofreram ao longa da história, este entrecho, mais que uma jornada de
vingança, é uma luta pela sobrevivência onde o limite e o íntimo do ser humano
é posto à prova, tudo alavancado por uma implacável perseverança e um intuito
de aço que lhe serve como forte motivação para viver. Falando em motivações,
estas são todas bem consentâneas e convincentes, até mesmo as dos ditos
"vilões".
Sustentado pelas versáteis, grandiosas e
estupendas atuações dos atores, a película exige bastante de seu elenco,
principalmente de DiCaprio que teve de passar por duros sacrifícios (como
todos) para sua consagração, esta mais que justa conforme sua volúvel,
inigualável e extraordinária performance. O nome de Tom Hardy, indicado a
estatueta de Melhor Ator Coadjuvante e igualmente presente em outro premiado e concorrente
filme do ano (Mad Max: Estrada da Fúria), não pode ser esquecido, similarmente
por seu belo desempenho e sua carisma de sempre (mesmo sendo um antagonista um
tanto quanto chato e incrivelmente odiado). Ademais, considerando o vencedor da
respectiva categoria que o desbancou (Mark Rylance [Ponte dos Espiões]), a
vitória de Hardy seria merecida. Englobando não somente estes dois personagens,
o longa realça a importância de todos os coadjuvantes e opositores do
protagonista, sempre impulsionado por um ritmo incansável e frenético. Apesar
da extensa duração, a película, ao mesclar harmonicamente diversos gêneros,
consegue se inovar, não se tornar repetitiva e nem enjoar o espectador. Embora
muitos considerem o terceiro ato arrastado demais, o considero perfeitamente
equilibrado e dosado em todos os sentidos.
Em suma, O Regresso é uma película que se
aventura por um mundo selvagem e hostil, essencialmente confeccionado e
primoroso em todas suas pontuais tentativas, sem dúvidas as 12 indicações ao
Oscar são devidas e a estatueta de Melhor Filme teria sido mais que
justificável.
Matheus
J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 4 de
fevereiro de 2016 (2h 36min)
Direção: Alejandro González
Iñárritu
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom
Hardy, Domhnall Gleeson…
Gêneros: Faroeste; Aventura
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten: 81%
Filmow (média geral): 4,1
Adoro Cinema (usuários): 4,4
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
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