9 de abril de 2018

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The Leftovers (1ª Temporada)

Tv


Sinônimo de qualidade, em 2014 a HBO apresentava The Leftovers ao mundo, infelizmente com menor repercussão do que deveria, afinal sua temporada de estreia já justificava a reputação da emissora.
Uma série que tem como princípio o repentino desaparecimento de 2% da população mundial já é intrigante por si só, pois o que aconteceu com essas pessoas? Para onde elas foram? Por que elas? No entanto, The Leftovers deixa estas questões em segundo plano e trata como prioridade os seres humanos deixados para trás, empreitada inteligente que permite com que o espectador trabalhe sua imaginação e a série caminhe com os pés no chão. Em meio a este cenário, o programa opta por um ritmo mais lento que possibilita uma natural compreensão e afeiçoamento do assistente para com os personagens e seus dilemas, além de paulatinamente o permitir apresentar as consequências propiciadas pelo fatídico dia, sejam pessoal ou socialmente falando. Ao invés de estampá-las todas de uma vez em um único episódio, a sutilidade com que o roteiro as dispõe adere imensa espontaneidade diegética, seja no nascer de um culto aqui, de uma religião ali, de uma profissão lá ou de aspectos burocráticos acolá. Embora a princípio confusas, tais mudanças de costumes sociais e culturais não são explicadas ao público e basta ao mesmo se habituar e compilar as informações que gradativamente lhe são dadas, muitas até contraditórias e questionáveis, mas são estes fatores que fazem da série tão real. Entretanto, por outro lado, determinadas pendências acabam por ser frustrantes. Vamos entender.
(SPOILERS A SEGUIR) Wayne, personagem de grande realce na temporada, é o principal impulsor do arco do Tom, mas não por isso ele tanto se destaca, mas sim pelos mistérios que rondam sua idiossincrasia. Supostamente capaz de curar a dor das pessoas, de hábitos estranhos, frases e planos ainda mais esquisitos, a icônica figura alavanca eventos de suma relevância sempre acercados por diversas dúvidas que jamais se esclarecem. É insatisfatório, decepcionante, você acaba por acompanhar toda a jornada de um personagem que em seu desfecho não faz sentido e não lhe fornece sequer uma resposta, fica a impressão de que os produtores não souberam o que fazer dos respectivos plots e simplesmente deixaram questões no ar para criar um falso senso de mistério. O mesmo acontece com o arco do Kevin referente à sua sugestiva paranoia, arco que jamais toma um rumo concreto e se vê permeado por aspectos oníricos e simbólicos extremamente complexos e confusos, sem falar do constante flerte da série com o sobrenatural que também nunca se espairece. Muitos personagens igualmente não têm a duração em tela justificada, como Aimee, Meg, Dean e o Kevin pai, personas frequentemente sublinhadas que não correspondem ao tempo em cena com que são beneficiadas. Pior ainda ocorre com Nora e Matt que são privilegiados cada um com um episódio individual que na completude da temporada se veem deslocados em comparação a outras figuras - pode-se usar como desculpa a importância a ambos atribuída na temporada seguinte, como se este primeiro ano servisse para semear o terreno, mas que de qualquer maneira, analisando esta 1ª temporada como material único, não funcionou -, sendo que tais episódios se mostram inorgânicos a cadência até então imposta. 
Em contraparte, os Remanescentes Culpados - culto mais popular do programa - ao longo de toda a temporada se responsabiliza por marcantes eventos e enigmas, muitos respondidos e outros não, como o próprio nascimento, hierarquia do grupo e determinados métodos de rotina. Todavia, o que o diferencia dos nomes citados mais acima, é que a essência, o propósito dos mesmos se desvela e vem a desempenhar um importante papel. 'Se lembrar' é o objetivo deles, se lembrar dos que partiram e enfrentar a perda, o que contrasta com os ideais da população em geral que só quer se esquecer do que aconteceu e seguir em frente, mesmo que impossível. (FIM DOS SPOILERS) É esta vertente a qual The Leftovers trabalha com primor, a crescente dramaticidade de sua estória e de seus personagens, como é nítido ao correr do episódio “The Garveys at Their Best” que explora suas figuras centrais anteriormente ao dia 14 e expõe todas suas contendas, deixando claro que as pessoas sempre tiveram conflitos e o terrível acontecimento só serviu para acentuar o que elas já sentiam: culpa, remorso, ódio, infelicidade e um incessante vazio. Este vazio chega a ser palpável em Jill, possivelmente a personagem mais melancólica da série que, em contraposição aos fatores ressaltados, reflete a perda da inocência frente ao desalento dum iminente e implacável abatimento emocional e procura refúgio nas odisseias do mundo adolescente. A atuação de sua intérprete Margaret Qualley também merece nota, visto que, embora de primeira vista esteja bem apática, logo se percebe que a performance corrobora totalmente à personalidade proposta,  sem falar que a atriz é magnífica e prova todo seu talento aos céticos no filme Noviciado de 2017.
No mais, The Leftovers se encarrega duma boa trilha sonora eclética e uma veia cômica cumeada pelo círculo de colegas da Jill, especialmente os gêmeos Scott e Adam que rendem momentos hilários sempre bem-vindos a destoar do caráter pessimista da jovem moça.
A 1ª temporada de The Leftovers, em suma, é bastante humana, exige muita paciência, faz muitas acometidas, porém nem todas dão certo, realiza mais perguntas do que as responde e propõe interessantes reflexões.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 29 de junho de 2014
Episódio final: 4 de junho de 2017
Criado por: Damon Lindelof e Tom Perrotta (2014)
Com: Justin Theroux, Amy Brenneman, Christopher Eccleston…
País: EUA
Gênero: Drama
Status: Finalizada
Duração (aproximadamente): 60 minutos 

Sinopse:
Durante um dia aparentemente comum, repentinamente 2% da população mundial desaparece. 

Avaliação (1ª Temporada):
IMDb (2014-2017): 8,2
Rotten: 81%
Metacritic: 65%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 3,7
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5
Avaliação

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