Joaquin Phoenix nunca decepciona em suas performances.
No entanto, será que o enredo de You Were Never Really Here colabora?
Sendo chamado de o "Taxi Driver do século
XXI", é impossível discutir sobre You Were Never Really Here e não perceber
as obvias similaridades. Desde o protagonista psicologicamente instável e de
forte convicção até o envolvimento com crianças, o filme da vez poderia facilmente
se apropriar dos trunfos de um dos longas mais aclamados da história e ok, mas
as semelhanças param por aí, e são exatamente os atributos singulares que podem
torná-lo tão indigesto para o grande público. Expliquemos.
You Were Never Really Here não é uma película
fácil. De ritmo lento, complexo entendimento e uma narrativa pouco verbalizada
que só deslancha mesmo a partir de meados do segundo ato, You Were Never Really
Here é o típico filme que você entra sabendo pouco e sai sabendo menos ainda. Todavia,
isto não necessariamente o caracteriza como uma produção ruim, afinal, pensar é
sempre bom e o trajeto muitas vezes é mais enriquecedor que o destino. Ademais,
é importante ressaltar que, apesar do enfoque especulativo do longa, seu cerne
se espairece e tem como âmago o abuso infantil, seja em sua própria premissa
acerca do rapto de crianças para prostituição, seja em seus cogitativos
flashbacks sobre - supostamente - a infância conturbada e violenta de seu protagonista.
O vínculo entre Joe e sua mãe é outro ponto a realçar, visto que o mesmo não
segue exatamente padrões convencionais e se relaciona com a idiossincrasia obscura
do personagem interpretada com magnificência por Joaquin Phoenix.
O eterno Imperador de Roma incorpora com magistralidade
todas camadas de um homem endurecido pela vida, de personalidade abalada e introspectiva
que não tem suas motivações esclarecidas, mas que transparece toda astúcia,
fúria e selvageria apenas com seu intimidante olhar, bem como, simultaneamente,
a dor e o pesar de um percurso árduo e sangrento. Tal imponente postura se ratifica
até mesmo pela maneira com que o personagem caminha, de modo paciente, porém
extremamente ameaçador. Embora nada mais que sutis insinuações possam ser formadas sobre o passado de Joe, os demônios que lhe acompanham são nítidos, estes
que tomam forma nos métodos brutais usados pelo protagonista que, apesar desta não
ser uma película absurdamente agressiva, é sugestivamente inquietante em suas acometidas
de trabalhar o imaginário ao invés de expor vísceras a troco de coisa nenhuma.
Corroborando, destaca-se a trilha sonora em crescente cacofonia enervante que
se mostra primordial a criar a atmosfera de constante paranoia no ar.
Considerando que a produção não demonstra
preocupação em ceder respostas, mas sim em ser apreciada, falta um melhor
desenvolvimento no contágio e engajamento do espectador que é afetado pelo cadenciamento
vagaroso do entrecho que muitas vezes extrapola e chega a se tornar modorrento.
Outra nequice diz respeito aos meandros que o enredo utiliza para lidar com seu
arco principal, demora a estabelecer uma diretriz e não se aproveita das
potenciais vertentes reflexivas.
You Were Never Really Here tem seus erros e
acertos, é provocativo, intrigante, abstruso e tem como grande mérito sua estupenda
atuação central, entretanto está muito longe de se equiparar a obra-prima de
Martin Scorsese.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Leia Também:
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (França): 8 de
novembro de 2017 (1h 30min)
Direção: Lynne Ramsay
Elenco: Joaquin Phoenix,
Ekaterina Samsonov, John Doman...
Gêneros: Suspense; Drama
Nacionalidades: Reino Unido,
França e EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Um homem, veterano de guerra, ganha a vida
resgatando mulheres presas em cativeiros trabalhando como escravas sexuais.
Após uma missão mal sucedida em um bordel de Manhattan, a opinião pública se volta contra ele e uma onda de violência se abate na região.
Avaliação:
IMDb:
7,1
Rotten:
87%
Metacritic:
84%
Filmow
(média geral): 3,7
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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