11 de setembro de 2018

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Guerra ao Terror

Pôster


Além de ostentar em seu currículo um dos Oscar de Melhor Filme mais controversos da história, Guerra ao Terror também pode se vangloriar por ser a única produção já feita dirigida por uma mulher a levar para casa a estatueta de Melhor Direção, o que igualmente gera repercussões até hoje pertinentes a qualidade de seu trabalho. Agora, será que todo o alarde em torno das respectivas premiações é justificado, ou Guerra ao Terror é realmente uma obra superestimada pela Academia?
Curto e brusco, Guerra ao Terror está longe de ser uma obra-prima. Discorrendo primeiramente sobre o cenário em que se passam os acontecimentos, o longa peca ao não efetuar, em momento algum, uma contextualização sobre o porquê de soldados estadunidenses estarem heroicamente desarmando bombas no Iraque. Claro que na época de lançamento (2008) esta pudesse ser uma questão bem óbvia, mas o roteirista tinha de estar ciente que a produção envelheceria e que todo tipo de público teria contato com esta, desde leigos a assistentes mais bem informados, o que torna necessário ao menos um breve espairecimento histórico e político a respeito.
A confecção individual dos personagens também é falha, calcada em estereótipos unidimensionais do gênero que moldam o típico trio popular do cinema: James é obstinado, impávido e inconsequente (o líder e mais carismático aos olhos do espectador), Sanborn já é mais precavido e austero (aquele que o assistente tende a desgostar consoante a personalidade sensata e pragmática), enquanto Eldridge é bastante inseguro e temerário (o "covarde" do grupo que é visto com indiferença por todos). Contanto, embora a película ensaie tentativas de atribuir camadas principalmente a James e Sanborn durante o terceiro ato, a arremetida é equívoca, pois é demasiado tardia e não possibilita um imarcescível desenvolvimento de personagens que poderia se articular tranquilamente ao longo das duas horas e onze minutos de filme.
O mesmo acontece com a enfática frase inicial do longa que só vem a reverberar em seus instantes derradeiros, o que, consequentemente, não surte efeito, transparece um trabalho mal-ajambrado que não soube lidar com suas próprias mensagens e que decidiu por anexar ao seu fim, de modo apressado, algumas cenas só para justificar a tal frase. Até mesmo os sutis elementos sugestivos que a película introduz ao seu correr, não são suficientes para embasar o desfecho apinhado de exposição conceitual barata que, até então, somente fora suscitado; torna-se discrepante.
Guerra ao Terror, contudo, não deixa de possuir proficiências. A começar pela fantástica e verossímil ambientação, o filme é brilhante na composição de seus cenários áridos, poeirentos e escaldantes, bem como na caracterização incômoda das figuras em tela agasalhadas por camadas de tecidos e equipamentos que realçam a atmosfera extremamente quente e abafada enfrentada pelos soldados, visto que estes se encontram sob impiedosos céus ensolarados. Corroborando, destaca-se o suor e a sujeira que se impregna em suas peles, bem como a indesejável presença de insetos voadores que excepcionalmente lhes visitam. São estes detalhes, em harmonia com o tom documental ratificado pelo uso da câmera manual, cenas freneticamente movimentadas e entrecortadas, que fazem de Guerra ao Terror uma obra cinematograficamente bastante genuína, isto sem falar da abordagem lenta e minuciosa das missões que agregam a mesma um caráter de elevado realismo que difere dos convencionais parâmetros hollywoodianos.
Todavia, nada disso seria possível sem a boa performance dos atores. Todos os três cumprem bem os rótulos a si designados citados mais acima, além de corresponderem bem à transição de clima que o filme imprime a suas personas, como nas sequências de maior angústia, anseio, descontração e até exaustão física. Individualmente falando, Jeremy Renner convence como um impulsivo profissional acostumado a lidar com bombas, Anthony Mackie incorpora com consentaneidade um sisudo soldado que tem seus momentos de catarse emocional, e Brian Geraghty está bem como um militar "chorão" que a todo segundo receia pela própria vida.
Guerra ao Terror, sobretudo, também é uma produção bastante apreensiva. Exaltando a magistral direção de Kathryn Bigelow, a cineasta esbanja aptidão ao conceber os palcos narrativos visando ilustrar a tensão inerente ao trabalho exercido pelos soldados estadunidenses, considerando que estes se encontram em território desconhecido, onde se fala uma língua distinta e qualquer um pode ser um detonador, o que se enaltece pelo estratégico enfoque da câmera em cidadãos aleatórios que faz de todos supostos suspeitos. Ademais, os cenários pós-explosão demonstram o mesmo senso apreensivo ao frisar abrupto caos visual e repentino e fúnebre silêncio aliado a outros imprevisíveis, potenciais e mortais infortúnios, além da execução, em concílio, dos magistrais efeitos práticos ao representar explosões e habitações detonadas, e da maquiagem na confecção de corpos mutilados e dilacerados. Entretanto, Kathryn erra ao criar presunçosos segmentos em slow motion que nada têm a dizer e nem esteticamente funcionam; acabam por ser simplesmente estranhos e anticlimáticos.
Em suma, Guerra ao Terror é quase que tecnicamente irretocável, porém comete deslizes em seu roteiro e na tecelagem de seus personagens.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 5 de fevereiro de 2010 (2h 04min)
Direção: Kathryn Bigelow
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty…
Gêneros: Guerra; Ação; Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
O sargento William James, sargento J.T. Sanborn e o especialista Owen Eldridge são membros do esquadrão antibombas do exército norte-americano em Bagdá. Quando o fim de sua missão se aproxima, o número de situações perigosas aumenta, fazendo com que qualquer um deles possa perder sua vida em um piscar de olhos.

Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 97%
Metacritic: 94%
Filmow (média geral): 3,5
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,7/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
Avaliação

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