Conhecida como "Greek Weird Wave", a nova onda de filmes do
cinema grego surgiu aproximadamente dez anos atrás como uma resposta intuitiva à
crise socioeconômica enfrentada pelo país. Em face disso, alguns diretores
conseguiram alavancar seus nomes com a criação de obras insólitas, tais como
Yorgos Lanthimos (Dente Canino, O Lagosta), Alexandros Avranas (Miss Violence)
e Ektoras Lygizos (O Garoto que Come Alpiste). Voltando os olhos para um cenário
mais atual, o nome de Christos Nikou salta aos holofotes com Apples, nova
produção a integrar a leva de longas supracitada.
A priori, a película tem início com a apresentação de elementos que
subitamente remetem às características dos filmes citados acima. Isto é, a
roupagem estrambólica se destaca de forma incipiente por intermédio do
comportamento do protagonista Aris, e dos detalhes que moldam o mundo fictício
da trama. Não são aspectos que emergem de modo gritante e tampouco chamam a
atenção pela suposta extravagância gráfica de um item ou outro, mas sim minúcias
que se articulam através de uma situação ímpar ou uma circunstância tão banal
que simplesmente não seria filmada em um longa comum.
Dito isso, o roteiro opta por um forte senso de rotina em conciliação a
um ritmo vagaroso que o possibilita estabelecer parâmetros da realidade
representada sem pressa, e desenvolver camadas de seu personagem central que
estão intimamente vinculadas a esse tom cotidiano. Nesse sentido, Nikou
demonstra preferência por uma abordagem mais sutil sedimentada na escolha
singular de recursos diegéticos, tais como o formato de tela 3:4, a
cinematografia marcada pela apatia da cor branca e a simbologia de distintos
traços visuais. Sobretudo, é por meio da trivialidade de acontecimentos que o
texto desperta a curiosidade do público, fazendo-o se embasbacar com o porquê da
exibição de tal evento e se indagar a respeito do uso das técnicas utilizadas.
Tendo como premissa a influência da memória na vida das pessoas, a
trama, em contraparte, decide se aprofundar na jornada de um homem que finge
ter amnésia para conseguir a oportunidade de recomeço através de um programa do
governo. É uma escolha curiosa de estória a se contar considerando o imenso
potencial temático do longa, o que funciona durante um tempo discutindo pautas
como solidão, angústia existencial e o vazio das relações sociais. Entretanto,
o script erra a mão quando repentinamente decide abraçar questões que
antes não haviam sido sequer mencionadas, embaralhando uma variedade de
assuntos sem estabelecer um foco narrativo e sem maturar qualquer das vertentes
propostas. Por sua vez, o debate acerca da perda da memória acaba subjugado ao plot
insípido de coadjuvantes sem importância.
Apples é propositadamente estranho, tem uma direção competente e flerta
com temáticas socialmente relevantes, mas se perde no caminho e tem o seu
potencial subaproveitado.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Grécia): 13 de novembro de
2020
Direção: Christos Nikou
Elenco: Aris Servetalis, Sofia Georgovassili, Alexandra
Aidini...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Grécia
Sinopse
(Filmow):
Em meio a uma pandemia
mundial que causa amnésia repentina, Aris, um homem de meia-idade, se encontra
em um programa de recuperação criado para ajudar pacientes a construir novas
identidades.
Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 97%
Metacritic: 81%
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6
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