3 de maio de 2021

Kontaminantes ☣ , Apples , Drama-filme , Filmes ,

Apples


Conhecida como "Greek Weird Wave", a nova onda de filmes do cinema grego surgiu aproximadamente dez anos atrás como uma resposta intuitiva à crise socioeconômica enfrentada pelo país. Em face disso, alguns diretores conseguiram alavancar seus nomes com a criação de obras insólitas, tais como Yorgos Lanthimos (Dente Canino, O Lagosta), Alexandros Avranas (Miss Violence) e Ektoras Lygizos (O Garoto que Come Alpiste). Voltando os olhos para um cenário mais atual, o nome de Christos Nikou salta aos holofotes com Apples, nova produção a integrar a leva de longas supracitada.
A priori, a película tem início com a apresentação de elementos que subitamente remetem às características dos filmes citados acima. Isto é, a roupagem estrambólica se destaca de forma incipiente por intermédio do comportamento do protagonista Aris, e dos detalhes que moldam o mundo fictício da trama. Não são aspectos que emergem de modo gritante e tampouco chamam a atenção pela suposta extravagância gráfica de um item ou outro, mas sim minúcias que se articulam através de uma situação ímpar ou uma circunstância tão banal que simplesmente não seria filmada em um longa comum.
Dito isso, o roteiro opta por um forte senso de rotina em conciliação a um ritmo vagaroso que o possibilita estabelecer parâmetros da realidade representada sem pressa, e desenvolver camadas de seu personagem central que estão intimamente vinculadas a esse tom cotidiano. Nesse sentido, Nikou demonstra preferência por uma abordagem mais sutil sedimentada na escolha singular de recursos diegéticos, tais como o formato de tela 3:4, a cinematografia marcada pela apatia da cor branca e a simbologia de distintos traços visuais. Sobretudo, é por meio da trivialidade de acontecimentos que o texto desperta a curiosidade do público, fazendo-o se embasbacar com o porquê da exibição de tal evento e se indagar a respeito do uso das técnicas utilizadas.
Tendo como premissa a influência da memória na vida das pessoas, a trama, em contraparte, decide se aprofundar na jornada de um homem que finge ter amnésia para conseguir a oportunidade de recomeço através de um programa do governo. É uma escolha curiosa de estória a se contar considerando o imenso potencial temático do longa, o que funciona durante um tempo discutindo pautas como solidão, angústia existencial e o vazio das relações sociais. Entretanto, o script erra a mão quando repentinamente decide abraçar questões que antes não haviam sido sequer mencionadas, embaralhando uma variedade de assuntos sem estabelecer um foco narrativo e sem maturar qualquer das vertentes propostas. Por sua vez, o debate acerca da perda da memória acaba subjugado ao plot insípido de coadjuvantes sem importância.
Apples é propositadamente estranho, tem uma direção competente e flerta com temáticas socialmente relevantes, mas se perde no caminho e tem o seu potencial subaproveitado.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Grécia): 13 de novembro de 2020
Direção: Christos Nikou
Elenco: Aris Servetalis, Sofia Georgovassili, Alexandra Aidini...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Grécia
 
Sinopse (Filmow):
Em meio a uma pandemia mundial que causa amnésia repentina, Aris, um homem de meia-idade, se encontra em um programa de recuperação criado para ajudar pacientes a construir novas identidades.

Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 97%
Metacritic: 81%
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6

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