Após o imenso sucesso do Snyder Cut no início do ano, o controverso
diretor volta aos holofotes com Army of the Dead. Retornando as suas origens,
essa é a primeira vez desde Madrugada dos Mortos, filme de estreia da carreira,
que o cineasta volta a lidar com zumbis. Será que a nova empreitada foi bem-sucedida?
Dentre as obras que preenchem seu currículo, pode-se dizer que Army of
the Dead é a produção menos "snyderiana" de Zack. Claro, as sequências
em slow motion estão lá, mas em menor quantidade, assim como a trilha
bem mais moderada do que costuma ser. O grande diferencial fica por conta da
fotografia que, diferente dos tons saturados habitualmente usados pelo diretor,
desta vez os aspectos visuais se enquadram mais aos padrões convencionais da
indústria. A exceção diz respeito ao trecho de abertura, onde destacam-se os créditos
em garrafais letras rosas. Vale ressaltar que esta é uma sequência assaz
eficiente, haja visto que o longa apresenta agilmente seus personagens e o vínculo
que há entre alguns deles, tudo sem haver sequer um diálogo.
Outrossim, o principal realce fica por conta das cenas de ação.
Extremamente enérgicos, tais segmentos ditam o compasso rítmico da obra e são
os responsáveis por fazer que a extensa duração desta não pese sobre os
assistentes. Ademais, tais blocos constituem uma amálgama de gêneros que
equilibra em similar escala as doses de tensão, horror e euforia. Dito isso,
cabe enfatizar que a película igualmente trabalha muito bem as nuances labirínticas
de sua estória. A cena inicial, por exemplo, tem ênfase com a imposição de um
elemento intrigante que instantaneamente capta o interesse do público, assim
como a permanência de incógnitas ao término da produção que ensejam a
possibilidade de expansão desse universo.
Por sua vez, a veia dramática do filme não possui a mesma eficiência das
abordagens adjacentes do enredo. Isto é, os personagens são superficiais e as
guinadas do entrecho que exigem um pilar narrativo sofrem com a ausência de uma
estrutura mais sólida. Nesse sentido, o arco da Kate é inconsistente, haja
visto que a forma que o entrecho encontra para torná-la parte da trama é mal-ajambrada,
e as atitudes desta ao correr do longa são estúpidas e servem apenas como meio
de intensificar a emoção vigente. Entretanto, convém salientar que Army of the
Dead não tem a pretensão de criar grandes curvas dramáticas, o que também não o
impede de subverter as expectativas dos espectadores em certos momentos e criar
um plot competente, como bem frisa o subnúcleo familiar entre Scott e
Kate.
Com relação aos personagens, a princípio a equipe aparenta estar um
tanto quanto saturada, porém com o tempo cada persona demonstra sua importância
dentro do roteiro. O mesmo pode ser dito das piadas, considerando que primordialmente
elas não exercem efeito, mas passam a ter maior eficácia quando os assistentes
já estão familiarizados com a dinâmica do grupo. Por parte dos antagonistas, o script
tece grande parte de sua criatividade. Em outras palavras, os zumbis,
diferentemente dos tipos popularizados na cultura pop, são organizados,
misteriosos e chegam até a ter sentimentos. Acima de tudo, são fatores que
estimulam a curiosidade do público e atribuem camadas a seara de vilões, além
de corroborarem a concepção das particularidades desse universo tão singular.
Por fim, Snyder comete alguns outros deslizes, estes principalmente no
terceiro ato. Ou seja, apesar do ritmo veemente que contempla os contornos do
enredo, o bloco final da película é inchado, enquanto o desfecho em si é demasiado
abrupto e algumas pontas que mereciam uma conclusão não são amarradas. No mais,
vale dizer que a produção, sob uma visão holística, procura traçar paralelo com
a realidade do coronavírus que o mundo enfrenta a mais de um ano, fazendo, sobretudo,
críticas a corrupção, tirania e abuso de poder. Em linhas gerais, não é o foco
do texto, mas ainda assim este tem certo mérito na construção de suas
analogias.
Army of the Dead, em suma, não é um filme transgressor e tampouco se
propõe a ser, podendo ser elencado, em contraparte, como um entretenimento
escapista e momentâneo que diverte tanto quanto empolga seus espectadores.
Matheus J. S.
Assista e
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 21 de maio de 2021
Direção: Zack Snyder
Elenco: Dave Bautista, Ella Purnell, Omari
Hardwick…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Filmow):
Um grupo de mercenários
decidem se arriscar para realizar o maior assalto da história ao se aventurar
numa zona em quarentena em Las Vegas, durante um apocalipse zumbi.
Avaliação:
IMDb: 5,9
Rotten: 69%
Metacritic: 57%
Filmow (média geral):
2,9
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,0/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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