Filmes que abordam temáticas relacionadas ao abuso sexual feminino têm
ganhado cada vez mais destaque nos dias de hoje. Extremamente atuais e
pertinentes, tais obras abrangem, cada qual à sua maneira, estórias de mulheres
vítimas da opressão masculina na sociedade atual. Desde o precursor A Vingança
de Jennifer, passando pelo polêmico Dead Girl até o mais recente e famigerado
Bela Vingança, não são poucas as produções que se apossam da pauta para
criticar e alfinetar valores antiquados que ainda se enraízam na mente das
pessoas. Posto isto, surge Violation, um excruciante retrato desse mal social.
Dirigido por Madeleine Sims-Fewer e Dusty Mancinelli, Violation é, antes
de tudo, uma película autoral. O segmento de abertura, que enfatiza um lobo com a presa
entre as garras, é alegórico e pode ser interpretado de diversas formas pelo espectador,
beneficiando-se do contraste de perspectivas que surge entre quem está vendo a
obra pela primeira vez e quem está reassistindo. Nesse sentido, os diretores
apostam em uma seleção curiosa de imagens para traçar engenhosos paralelos com
os densos temas destrinchados, procurando mexer com o imaginário do público
e criar uma experiência muito mais sensitiva do que concreta.
Destarte,
Madeleine e Dusty visam fugir do obvio a todo instante, seja através do uso de recursos
que lhes competem definir ou pela determinação de ferramentas adjacentes que
contribuirão para o resultado final. Em outras palavras, o enredo se desenvolve
de modo paulatino, com as sequências crescendo organicamente ao passo que as emoções dos personagens se
intensificam. Ademais, destaca-se a montagem com intervenções sempre criativas e
o uso de planos-detalhe objetivando acentuar o tom sugestivo proposto.
Outrossim,
a harmonização entre os aspectos visuais e sonoros do longa é estabelecida com o
intuito de criar um cenário inquietante para a recepção do assistente. Muitos trechos são concebidos de forma
minimalista, sem permitir que o espectador tenha um panorama completo sobre o
que está havendo
e possa apenas especular a partir dos sons escutados. É uma maneira eficaz de
desorientar o público e manipular a perspectiva deste em prol de uma narrativa que
desconstrói
muitas convenções de gênero.
Por sua
vez, a utilização de características insólitas possibilita que o entrecho progrida repleto de
imprevisibilidades. Dito isso, a não linearidade da trama, mais que um artifício despretensioso, é usada como meio de
instaurar surpresas e cadenciar o ritmo. Corroborando, a trilha, aliada a um
soturno filtro azul, se encarrega de atender as demandas do texto no que diz
respeito a confecção atmosférica, haja visto que as faixas escolhidas são enervantes e
imprimem uma sensação astrosa no ar.
Outro
elemento que a película trabalha com primazia é o modo impudico com que esta aborda a violência e a nudez de seu script.
As cenas mais viscerais são cruas, além de não exagerarem na sanguinolência, o que as torna críveis e chocantes. Já o nu frontal, longe de ser gratuito, é predominantemente masculino e explícito, quebrando
paradigmas da indústria. Em adendo, cabe ressaltar que a produção é bastante hábil ao explorar a reação silenciosa das
personagens diante dos eventos que se apresentam; é uma forma inteligente
de alcançar
o âmago
delas com sutileza e perspicácia.
No
entanto, este não é um filme perfeito, posto que algumas informações para o desenrolar
do plot central são dadas de maneira demasiado expositiva. Por outro lado, o longa obtém maior sucesso quando
opta por não fornecer resposta a todas as situações que ocorrem, deixando questões em aberto à mercê da interpretação de seus assistentes.
Violation,
em suma, é uma obra imprevisível e violenta que constantemente desafia seu espectador.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Canadá): 28 de novembro de
2020
Direção: Madeleine Sims-Fewer e Dusty
Mancinelli
Elenco: Madeleine Sims-Fewer, Anna Maguire,
Jesse LaVercombe...
Gênero: Suspense
Nacionalidade: Canadá
Sinopse
(Adoro Cinema):
Em Violation, uma mulher
problemática, à beira do divórcio, volta para casa da sua irmã mais nova depois
de anos separadas. Quando sua irmã e seu cunhado traem sua confiança, ela
embarca em uma cruel cruzada de vingança.
Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 87%
Metacritic: 70%
Filmow (média geral):
3,2
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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