10 de abril de 2021

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Bela Vingança


Ao se ligar a televisão, é comum ouvir-se notícias que remetam à violência contra o sexo feminino. Desde agressões domésticas a assédio sexual e estupros, diariamente se escuta falar sobre uma infinidade de casos que denunciam algum tipo de ataque contra a mulher. Desse modo, Bela Vingança, primeira produção cinematográfica da carreira de Emerald Fennell, se realça como uma obra que visa dar voz a esse tipo de crime e apregoar sua nota de repúdio.
Introdutoriamente, é pertinente frisar que o filme, apesar da premissa entusiasmante, jamais é tão mordaz quanto poderia. Detentor de um posicionamento forte, este, contudo, tenta firmá-lo sendo politicamente correto, o que torna muitos eventos propulsores da trama inverossímeis e até bobos, além de enfraquecer a mensagem final sob uma perspectiva holística. A partir de então, o longa se aproveita de uma série de conveniências e facilitações narrativas que exigem uma incrível suspensão de descrença por parte do público.
A representação do semblante masculino aqui é outro ponto de destaque. Praticamente todos os homens que integram o enredo são predadores sexuais, o que, apesar de ser uma visão genérica da classe escarnecida, faz sentido dentro da proposta da película. Para tal, o filme utiliza alguns planos-detalhe que exaltam essa selvageria em cada gesto e movimento destes. Em contraparte, Emerald perde o tato em alguns planos que sexualizam a atriz Carey Mulligan, o que é contraditório e extremamente bizarro considerando o escopo do roteiro.
Ademais, o romance entre Cassie e Ryan é hediondo. Embora o arco saliente uma parcela das angústias da protagonista atinentes à relacionamentos amorosos e o tormento oriundo do trauma que sua melhor amiga vivenciou, este toma rumos patentes e manipulativos. A cena em que ela dança com o namorado na farmácia ao som de "Stars Are Blind" (Paris Hilton) com os momentos mais felizes do casal passando em tela, é formulaica, boba e sentimentalmente coerciva. Aproveitando o gancho, a trilha é majoritariamente intrusiva e repleta de escolhas obvias, invadindo passagens que obteriam maior êxito apenas com a parcimônia do silêncio e saturando trechos que exigiam somente uma breve e sutil musicalidade ao fundo.
Entretanto, Bela Vingança não é de todo ruim. O terceiro ato, que manifesta o pico do longa, é tragicamente hilário; há segmentos que usufruem de um ácido humor negro que provocam gargalhadas assim como estimulam a culpa no assistente por rir da desgraça alheia. Dessa maneira, Joe, personagem que dá as caras apenas ao fim do entrecho, é, para todos os efeitos, o grande alívio cômico da obra.
(SPOILERS A SEGUIR) Contudo, o principal momento da parte final se dá quando Cassie é assassinada. Nesse quesito, a diretora constrói uma sequência extremamente aflitiva, seja através de sua longa duração, iluminação sombria, música soturna e, exponencialmente, através da perversidade brutalmente retratada. (FIM DOS SPOILERS) Mais adiante, a película é certeira ao brincar com as expectativas do espectador acerca do que irá ocorrer, fornecendo, por fim, um desfecho satisfatório e surpreendente; o charme não está no que acontece, mas em como o script se desenrola até chegar lá.
No mais, é imprescindível enaltecer o desempenho cênico de Carey Mulligan. Pontuada pela volatilidade de seu estado de espírito, a atuação de Carey transita por polos emocionais que tecem o contraste entre quem ela finge ser e quem realmente é. Posto isto, sua persona convence tanto estando "embriagada" quanto sóbria, conseguindo transparecer perspicácia e convicção ao passo que internamente luta contra uma culpa pungente. Por sua vez, o elenco de apoio contempla performances ordinárias em papeis medíocres, tendo ênfase, todavia, a mãe da protagonista como uma personagem extremamente afetada e burlesca. Como adendo, vale mencionar a cinematografia marcada pelo uso de tonalidades extravagantes que, de certa forma, servem de contraponto à densidade dos temas pautados.
Mesmo com seus problemas, Bela Vingança é um filme que, a partir do momento que o público compra a ideia proposta, torna-se fácil de assistir. A atuação central de Carey Mulligan é notável, e a concepção de um terceiro ato poderoso corrobora para que uma boa impressão seja deixada.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 22 de abril de 2021
Direção: Emerald Fennell
Elenco: Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie...
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
 
Sinopse (Adoro Cinema):
Em Bela Vingança, Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal-intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la.
 
Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 90%
Metacritic: 72%
Filmow (média geral): 3,9
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5

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