A construção de um personagem pode ser
considerado o elemento mais importante de uma boa trama, muitas vezes o mais
marcante e relevante. De mocinhos a vilões, homens a mulheres, crianças a
idosos, vivos a mortos, um personagem se imortaliza perante uma frase icônica,
uma atitude, jeito, peculiaridades ou simplesmente pelo fato de o espectador
possuir apreço, de alguma forma, pelo mesmo, e isto também se repete no
excelente Onde os Fracos Não Têm Vez com o psicopata Anton Chigurh que,
gostando ou não, chama a atenção. Falar sobre o filme sem falar de Anton não é
falar de Onde os Fracos Não Têm Vez, protagonista este tanto do longa quanto
desta divagação.
Iniciando com falas do xerife Ed Tom Bell que,
para alguns, possui suma relevância perante o enredo e o reflexivo fim, além de
ser um personagem extremamente importante considerado pela maioria o principal,
a película logo nos apresenta o familiar cabelo engraçado e expressão imutável
e sinistra de Anton em uma sequência que resume bem o ritmo que esta seguirá,
sangue e mortes. Obviamente o longa não se resume somente a estes dois fatores,
mas pode-se dizer que são constantes durante sua trajetória e caracterizam a
trama.
Podendo ser comparado aos célebres filmes de
Quentin Tarantino (como meu pai bem ressaltou) perante o estilo já citado, o
enredo basicamente foca em uma perseguição sangrenta em busca de uma boa
quantia de dinheiro (premissa que pode parecer batida e comum, mas feita de
forma a se tornar inovadora e surpreendente), sendo conduzido brilhantemente
ora de forma dinâmica, em certos aspectos, ora calma na maior parte do tempo.
Como esta condução nos é apresentada ao decorrer de aproximadamente 120 min.
evidencia o extremo cuidado com todo o conjunto da obra que provém tanto dos
diretores quantos dos outros integrantes que colaboraram com a criação desta
marcante e grandiosa película.
Baseado no livro homônimo (nos EUA) Onde os
Velhos Não Têm Vez (título igualmente considerado de suma relevância adulterado
no Brasil), o filme explora os dois lados de uma fronteira, tanto física quanto
mental e psicológica (se é que me entende), valoriza enriquecidos diálogos
extensos e muitas vezes subjetivos (assim como algumas sutis cenas) e
alegóricos (como um que faz uma interessante alegoria a um boi), embora haja
também momentos completamente ausente destes, além de futuramente poder ser
considerado um expoente do gênero e até mesmo um clássico. Ademais, possui um
desfecho diferenciado que foge do clichê, belas atuações que contribuem com
personagens bem construídos e está sob o comando dos dois grandes renomados irmãos
diretores Coen, longa este por muitos considerado o melhor trabalho de ambos. Claro
que uma produção como esta atraiu olhares e foi merecidamente reconhecida ao
ser indicada a oito Oscar e conquistar quatro, Melhor Filme, Melhor Roteiro
Adaptado, Melhor (es) Diretor (s) e Melhor Ator Coadjuvante (este de forma mais
que justa, por muitos considerada a atuação de Javier Bardem uma das melhores
da história), desbancando, assim, Sangue Negro que foi o grande concorrente da
noite e que, sem dúvida alguma, sem Onde os Fracos Não Têm Vez na disputa teria
conquistado a maioria das categorias.
Retornando ao personagem de Javier Bardem (que
nos recorda Raoul Silva de 007 Skyfall igualmente vivido pelo mesmo), não há
mais o que se falar de sua brilhante e deslumbrante interpretação, então só nos
resta focar novamente no próprio Anton Chigurh. Este, que se imortalizou na
história do cinema com apenas uma arma de ar comprimido, tem sua personalidade
enfatizada em algumas passagens muito bem elaboradas e interessantes, como a
que acontece em uma delegacia, em um mercadinho de conveniência (realce para
esta) e uma na qual atira despretensiosamente sem nenhum propósito relevante em
uma coruja. Representando a banalização do mal e o quê o ser humano é capaz de
fazer por alguns trocados, Anton Chigurh, além, se encontra munido de uma moeda
que utiliza para jogos psicológicos (o que rende memoráveis diálogos) e saída
para assassinatos sádicos a sangue frio e sem culpa e remorso. Moeda utilizada
de maneira a nos recordar o Duas Caras de Batman - O Cavaleiro das Trevas.
Com uma história simples mas muito bem contada,
Onde os Fracos Não Têm Vez deve ser conferido por todo dito cinéfilo que, além
de conter todos elementos que agradam o espectador, possui diversos aspectos
reflexivos e ainda conta com um final bastante discutido. Mais uma obra-prima
que nos faz lembrar porque amamos tanto a sétima arte.
Matheus J. S. 10
Após alguns anos, me deparo novamente com este
título que me foi indicado pela primeira vez pelo colega Jack, o qual tinha
gosto semelhante ao meu sobre filmes e músicas e sempre conversávamos sobre
estes assuntos. Um dos pontos que ele destacou foi o estereotipo do assassino.
Na primeira vez que assisti, não dei muita importância ao que acontecia além
dos tiroteios e do personagem de Bardem, o qual o trabalho não conhecia e ainda
hoje apenas vi mais um, no caso Skyfall. Quanto a Tommy Lee Jones, esse já era
um velho conhecido desde a época de Lua Negra e sempre gostei de suas atuações.
Daquela vez gostei muito do filme e hoje não
foi diferente, apenas observei melhor os contextos em volta da trama.
Primeiramente destaco o título em português que é bem coerente, segundo o modo
dos diálogos referentes a região em que acontece a trama, algum lugar no Texas
na divisa com México, um lugar árido frequentado por traficantes. Local onde
Llewelyn Moss encontra o dinheiro de uma negociação mal sucedida praticamente
sem sobreviventes, vê ali uma oportunidade e não fraqueja diante das adversidades.
Em seu encalço está o personagem de Bardem, assassino altamente perigoso, metódico
e psicopático, em alguns momento me lembra o personagem de Jack Nicholson em
Melhor Impossível. Em seus diálogos apenas diz o necessário e, se obter mais do
que isso como resposta, inicia um jogo mental com quem dialoga, o que lembra um
pouco a conversa de Gandalf e Bilbo em O Hobbit. A atuação de Javier é impecável,
tornando esse personagem icônico.
Encerrando, o filme deixa alguns pontos
nublados, como, por exemplo, a descrição que o xerife faz do seu sonho,
destacando a segunda parte que interpreto como se ele estivesse falando de sua
morte, algo semelhante como se o pai dele estivesse preparando o caminho para
ele. Percebe-se que ele se aposenta porque o mundo em sua compreensão está
tomando um rumo do qual ele não faz parte e quando está com o tempo livre não
tem o que fazer e nem companhia. Continuo a gostar do filme e tenho certeza que
sempre que revê-lo encontrarei algo interessante no xerife, que enriqueça a
mensagem da trama.
leonejs 8,0
Assista e Kontamine-se
Avaliações:
Rotten: 93%
IMDb: 8,1
Adoro Cinema (usuários): 4,2
Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):
Estados Unidos
2007 • cor • 122 min |
|
Direção
|
Ethan Coen
Joel Coen |
Produção
|
Ethan Coen
Joel Coen Scott Rudin |
Roteiro
|
Cormac McCarthy (romance)
Ethan Coen Joel Coen |
Elenco
|
Tommy Lee Jones
Javier Bardem Josh Brolin |
Gênero
|
Drama
Suspense |
Música
|
Carter Burwell
|
Cinematografia
|
Roger Deakins
|
Edição
|
Roderick Jaynes
|
Distribuição
|
Paramount Vantage
Miramax Films |
Lançamento
|
EUA
21 de novembro de 2007
|
Idioma
|
Inglês
|
Orçamento
|
$25.000.000
|
Receita
|
$171,627,166
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