23 de fevereiro de 2017

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2001 - Uma Odisseia no Espaço



2001 - Uma Odisseia no Espaço é um filme chato, de extrema importância, complexo e confuso. Sim, todos estes adjetivos podem ser atribuídos a esta grande preciosidade do século passado. É certo que nem tudo que é bom seja legal, nem tudo que é relevante seja interessante, e que nem tudo que é belo seja atraente, argumentos devidamente apropriados quando o assunto é o longa em questão. Contudo, primeiramente, para poder divagar e entender um pouco da grandiosidade desta película deve-se compreender o período sob o qual foi produzida.
Considerando que a Guerra Fria, um conflito ocorrido somente no campo diplomático entre as duas maiores superpotências do mundo que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial abrange uma quantidade de aproximadamente 50 anos de confrontos, esta possui em seu currículo uma extensa grade de importantíssimos acontecimentos, como, por exemplo, a Crise de Mísseis de Cuba, a Queda do Muro de Berlim e a icônica Corrida Espacial. Resumindo, esta foi a responsável por levar o homem pela primeira vez a pisar na lua, mais especificamente um astronauta estadunidense. Fato interessante e extremamente controverso, pois os EUA se encontravam atrasados com relação ao conflito em questão, visto que a União Soviética já havia feito com que uma cadela orbitasse a Terra. Desta forma, não se deixando para trás, finalmente o pessoal das terras do Tio Sam obtiveram sucesso na enviada do homem ao satélite natural de nosso planeta, o que basicamente lhes proporcionou a vitória da Corrida Espacial e um gigantesco passo a frente de seu inimigo na própria Guerra Fria em termos de tecnologia e popularidade frente aos olhos do restante do mundo.
Certo, mas o que tudo isto tem a ver com o filme? Como se sabe, consoante as inúmeras reflexões e temas abordados pelo longa, a exploração do espaço é uma delas, o que neste resulta impecáveis e até mesmo inacreditáveis efeitos visuais para a época. Perante isto, levando-se em consideração que o lançamento da película se deu em 1968 e a ida do homem a lua um ano depois, muito se especula a respeito desta ter sido uma farsa arquitetada por Stanley Kubrick (diretor) e o governo dos EUA para estes se consolidarem a frente dos soviéticos na guerra, umas das mais populares e intrigantes teorias da conspiração que muitos alegam ter sido confirmada em outro filme do cineasta, O Iluminado, mas isto é assunto para outra divagação. Da mesma forma, relacionado à similar quesito, o longa é um espelho da ideia que a sociedade da época possuía de como seria o mundo daqui aproximadamente 30 anos em relação à exploração do espaço. Como vimos, acreditavam que já teríamos visitado até mesmo Júpiter. Além, a película se realça ainda mais por conta de seus já citados efeitos visuais (antes nunca vistos e, talvez, sequer imaginados) que revolucionaram drasticamente a sétima arte (não à toa estes lhe renderam um Oscar) e fez com que esta fosse vista sob nova perspectiva, se o cinema é o que é hoje, muito se deve a 2001. Esta obra com certeza está entre umas das mais influentes e revolucionárias da história, ao lado de nomes como Cidadão Kane e Casablanca.
Com uma sequência inicial de aproximadamente 3 minutos de pura escuridão, o que já realça o sentido de mistério e incógnita estabelecido, o longa segue aproximados 20 minutos sem diálogos e seres humanos, somente o foco voltado para primatas e um monólito negro que aparece repentinamente. Pode-se dizer que esta passagem se destaca bastante, não somente por seus acontecimentos e a inclusão do artefato que será notório ao longo de toda a trama, mas por suas reflexões impostas que abrangem desde o desenvolvimento da vida até uma sutil sugestão enigmática a respeito do contato extraterrestre para com a Terra a milhares de anos. Em certos aspectos, o ponto ressaltado me lembra, de certa forma, quesitos do recente A Chegada (leia aqui). Ainda em relação ao contato alienígena, este se mostra imensamente interessante, até porque Kubrick, ao decorrer de suas pesquisas, acabou por ter uma conversa com Carl Sagan a respeito da vida fora do planeta, o que lhe acarretou a informação do próprio que a vida alienígena de qualquer maneira introduzida na tela semelhante a humanos não estaria próxima da verdade, pois, segundo Carl, seria improvável a vida fora do planeta se assimilar a vida terrestre. Toda e qualquer tentativa de uma representação não passaria de mera falsidade e irrealidade. Não se preocupe, isto não é bem um spoiler, apenas um alerta para que não eleve demais as expectativas para a película a espera de aterradores aliens. Igualmente mais pra frente voltaremos a falar do Kubrick.
Após os cruéis, chatos e reflexivos primeiros 19 minutos do filme (ou quase isso), este, em uma das cenas mais clássicas da história do cinema, dá um salto no tempo de mais de 3 mil anos ao fazer uma alegoria a evolução da ferramenta (saltos estes que serão comuns, não de 3 mil anos, mas sim saltos no tempo). Seguindo uma trilha sonora erudita e clássica, prevalecendo um roteiro cuidadoso e bem específico regido simultaneamente por Stanley e Arthur C. Clarke (que na época escrevia o livro homônimo) onde até os mínimos detalhes têm um propósito (o que me recordou Donnie Darko [leia aqui]), 2001 presa reflexões que vão desde a vida e questões existenciais até a evolução desenfreada das máquinas (fator sobre o qual se pode traçar certo paralelo com Ela [leia aqui], longa estrelado por Joaquim Phoenix), além de certas reflexões já ressaltadas.
Relembrando em certos quesitos grandiosas películas como Star Wars (refiro-me aos incríveis efeitos visuais e passagens extraplanetárias), Interestellar (a complexidade se enquadra como aspecto similar) e Contato (digamos que a relação entre alienígenas e humanos seja o fator semelhante), Uma Odisseia no Espaço com certeza não é um filme pra qualquer um e, para assisti-lo, sem dúvida é necessário muita paciência, ademais de seguir um ritmo lento e arrastado com poucos diálogos (o que não o impediu de ser indicado a 4 Oscars). Além, na época de lançamento foi muito criticado, não se tornou um grande sucesso comercial (várias pessoas chegaram a abandonar as salas de cinema) e conquistou o status de incompreensível (o que para muitos ainda o é).
Sendo um dos filmes mais distintos, peculiares e intrigantes do século passado, 2001, um longa muito além de seu tempo que levou cinco anos para ser feito e não recebia apostas de ninguém, gradativamente passou a ser prestigiado e hoje é considerado um dos maiores expoentes do universo cinematográfico, eleito por muitos simplesmente o melhor filme da história. Ademais, com referências históricas e uma passagem na qual uma partida de xadrez se destaca, o longa pode ser dividido em três atos que requerem total atenção até com os mínimos detalhes para uma melhor compreensão de sua essência e propostas. Apesar de não se mostrar extremamente confuso ao seu decorrer, certos aspectos o complicam e o desfecho certamente corrobora com a confusão ao “bugar” toda percepção e plausível entendimento que estava se estabelecendo. Ainda referente ao desfecho, determinadas sequências próximas ao final se ressaltam pela insanidade apresentada e dúvidas deixadas, o que praticamente se resume a um jogo de cores que se realça e aproximados 10 minutos de loucas imagens psicodélicas. Além, a última cena pode ser, facilmente, considerada umas das mais complexas e interrogativas da história do cinema.
Único, clássico, ousado, filosófico e, ao mesmo tempo, atual, realista e futurista, ademais de todos quesitos enfatizados, Uma Odisseia no Espaço similarmente expõe a maestria presente na condução de Kubrick e mais uma vez seu talento e genialidade ao lidar com temas e gêneros distintos. Como este foi o primeiro longa que conferi do diretor, após, em outra produção vista, pude confirmar, com admiração e brilho, a versatilidade do mesmo ao mudar de ares. Repleto de questões interpretativas, a película, segundo o próprio Kubrick e Clarke, teria sido falha se alguém a compreendesse de primeira. Além, ressaltemos que o filme e o livro possuem um sucessor, não renomado, porém que dá continuidade a 2001, assim como um terceiro volume que quase foi adaptado para os cinemas encerrando a trilogia. Outro fator de destaque se enquadra à dita, por muitos, injustiça que o longa teve o desprazer de viver ao não receber o Oscar de Melhor Filme daquele ano. Penso que o equívoco seja comum e normal, pois, como já dito, a película está muito além de seu tempo e levou anos para ser merecidamente reconhecida. Desta forma, imaginemos quantos outros filmes recentes ou que ainda serão lançados passarão batidos e em um futuro não muito distante possam ser produções reputadas e consideradas injustiçadas sob o período concebidas. A perspectiva, o conhecimento e a compreensão mudam com o tempo.
Em suma, 2001 - Uma Odisseia no Espaço não é recomendado se procura diversão, mas sim se deseja se propor um desafio e viajar pela história da sétima-arte e campos antes nunca explorados. Com certeza uma das experiências mais peculiares vividas por mim referente ao expansivo, abrangente e magistral universo cinematográfico.
Matheus J. S.

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Avaliações:
IMDb: 8,3
Rotten: 94%
Fimow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9





Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):

 Estados Unidos / Reino Unido
1968 • Metrocolor • 142 min 
Direção
Stanley Kubrick
Produção
Stanley Kubrick
Roteiro
Stanley Kubrick
Arthur C. Clarke
Elenco
Keir Dullea
Gary Lockwood
William Sylvester
Douglas Rain
Gênero
Ficção Científica
Drama
Cinematografia
Geoffrey Unsworth
Edição
Ray Lovejoy
Companhia(s) produtora(s)
Metro-Goldwyn-Mayer
Stanley Kubrick Productions
Distribuição
UK
Metro-Goldwyn-Mayer

EUA
Metro-Goldwyn-Mayer
Lançamento
UK
2 de abril de 1968 

EUA
2 de abril de 1968
Idioma
Inglês
Orçamento
US$ 10.5 milhões
Receita
US$ 190 milhões

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