Um dos filmes mais elogiados de 2016, A
Qualquer Custo surpreendeu muitos consoante diversos aspectos. Mas o que
realmente torna o longa especial?
Abordando sutilmente questões como a podridão
da exploração bancária e das grandes empresas e a colonização sobre os índios,
este faroeste moderno, mesmo seguindo uma história comum e sem muitas
inovações, consegue ser perfeito em sua condução, fantástico em sua direção (o
que não foi suficiente para a Academia eleger como um dos candidatos a Melhor
Diretor David Mackenzie) e magistral ao que se propõe. Não espere cenas
impossíveis ou sangue por toda parte, mas sim um simples, realista e esplêndido
roteiro brilhantemente desenvolvido como há muito não se via.
Instigante do início ao fim, incansável e
envolvente, A Qualquer Custo abrange, em meio ao seu cerco principal voltado
para roubos de bancos e uma investigação e perseguição corrente, a luta pelos
direitos civis (talvez este não seja o termo correto, mas creio que me
expressei de forma condizente) e relações aprofundadas de certa maneira a
complementarem e engrandecerem o enredo. Ressaltemos, primeiramente, o amistoso
e protetor relacionamento dos dois irmãos que, além de bem conduzido,
praticamente opõe duas personalidades completamente distintas que se corroboram
entre si, uma obstinada e radical, outra mais precavida, reservada e prudente.
Vale ressaltar que os dois possuem seus conflitos pessoais e, em determinadas
passagens, o vínculo e afeição fraternal de ambos se mostra evidente. A
dinâmica do delegado e seu parceiro que estão no encalço dos irmãos igualmente
é bem estabelecida e nos faz criar um laço com a amizade que acompanhamos na
tela, amizade esta responsável pela maioria das risadas dos espectadores, assim
como o personagem do Tanner Howard (Ben Foster) em si. Pode-se dizer que,
perante as duas agradáveis e bem construídas relações, nos apegamos tanto aos
ladrões quanto aos policiais e acabamos, conforme os fatos da película,
questionando se os bandidos merecem mesmo serem detidos, assim como as motivações
destes que nos faz pensar se são realmente justificáveis, sobre o sistema que
nos cerca e a respeito dos muitos criminosos que na verdade são mais uma vítima
da legislação que deveria nos proteger e favorecer (refiro-me a uma certa turba
que não passa de pessoas injustiçadas e as atitudes tomadas consoante o fato,
da mesma forma que não estou as defendendo, mas sim refletindo acerca de suas
ações e a vida um tanto injusta que todos levamos).
Seguindo uma trilha sonora característica
coordenada belamente com as áridas e quentes terras do Texas realçadas por suas
cores fortes e marcantes, o filme, além do roteiro brilhantemente conduzido
como já citado, ainda consegue nos surpreender perante certas passagens
inesperadas e secas, ademais de fornecer um desfecho convincente. Estrelando um elenco
de rostos conhecidos (Chris Pine, Jeff Bridges, Ben Foster, Gil Birmingham)
cooperado com excelentes atuações o que rendeu a Bridges, conforme seu
personagem carismático e muito bem interpretado, uma indicação a Melhor Ator
Coadjuvante (embora não creio que conquistará a estatueta), o longa pode ser
comparado, em determinados quesitos, com outra preciosidade do gênero, Onde os
Fracos Não Têm Vez (leia aqui). Além dos aspectos semelhantes que são praticamente óbvios
(pelo menos para quem assistiu as duas películas), estas se assemelham também
referente ao fator relacionado aos delegados (no caso do filme dos irmãos Coen,
xerife), considerando que ambos encontram-se em fim de carreira e já não estão
mais aptos ao mundo atual. Ressaltemos, similarmente, que os dois, em ambos os
longas, vivem uma última missão frente à aposentadoria iminente.
A Qualquer Custo realmente não é uma produção
que se vê todo dia, uma raridade do cinema contemporâneo, um longa que foge dos
padrões de grandes filmes similares do século passado ao reinventar o gênero e
conseguir em seu roteiro ainda introduzir questões reflexivas e críticas. Não à
toa foi indicado a Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, nomeações
extremamente justas e condizentes, todavia penso que não serão recompensadas
(não nos esqueçamos também da indicação a Melhor Edição). Possivelmente um
futuro clássico, A Qualquer Custo é uma experiência obrigatória para todo
adepto do gênero, cinéfilo de plantão e espectadores apenas a procura de um bom
filme. Serve como passatempo, mas igualmente serve como meio de reflexão e
prova de que tudo sempre pode ser inovado.
Matheus
J. S.
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Avaliações:
IMDb: 7,7
IMDb: 7,7
Rotten: 98%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):
Estados Unidos
2016 • cor • 102 min |
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Direção
|
David Mackenzie
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Produção
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Sidney Kimmel
Peter Berg Carla Hacken Julie Yorn Gigi Pritzker Rachel Shane |
Roteiro
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Taylor Sheridan
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Elenco
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Jeff Bridges
Chris Pine Ben Foster Gil Birmingham |
Música
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Nick Cave
Warren Ellis |
Cinematografia
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Giles Nuttgens
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Companhia(s) produtora(s)
|
Sidney Kimmel Entertainment
OddLot Entertainment Film 44 LBI Entertainment |
Distribuição
|
CBS Films
Lionsgate |
Lançamento
|
12 de agosto de 2016
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