Se há um tipo de filme que não falta no cinema,
este é o de guerra. Contudo, mesmo após décadas de lançamentos de longas similares,
incontáveis confrontos abordados e perspectivas distintas expostas, Até o
Último Homem chega para provar que o gênero sempre terá o que explorar, inovar,
compartilhar e relembrar o que de melhor tem a oferecer.
Sendo a película que decreta o retorno triunfal
de Mel Gibson às telonas como diretor após 10 anos, não se pode negar que as expectativas
eram altas, principalmente pela qualidade apresentada em outros de seus trabalhos
e as características próprias que causavam entusiasmo consoante o fato de
dirigir um filme sobre a Segunda Guerra Mundial onde estas poderiam ser mais
uma vez aplicadas e receber o devido destaque. Como já deve ter ficado óbvio,
Mel Gibson não decepcionou.
Com uma sequência inicial extremamente bombástica
onde o espectador é apresentado a certas predominâncias do enredo que diz respeito
a passagens marcantes que são enfatizadas pela câmera lenta, a guerra em si, referências
a Deus e uma musicalidade mais tocante, Até o Último Homem segue uma magistral linha
de roteiro dividida em dois atos. No primeiro, destaca-se a figura paternal do
protagonista interpretada deslumbrantemente por Hugo Weaving em, talvez, sua
melhor atuação da carreira (com certeza merecia uma indicação a Melhor Ator
Coadjuvante. Se Mahershala Ali foi nomeado, por que ele não?). Este, que vive
atormentado por seu passado, é o responsável pelos principais conflitos familiares
desenvolvidos no entrecho e a representação de maior realce dos traumas
psicológicos e comportamentais de uma guerra que também afetam segundos. Além,
deve-se ressaltar que, apesar das diferenças entre si e seu filho bem exaltadas
no longa, é um dos alicerces de toda a trama e possui enorme influência no destino
de Desmond.
O primeiro ato igualmente é constituído pela
apresentação dos personagens, introdução de subtramas não tão relevantes, mas que
possuem sua importância e não atribuem à película um peso desnecessário, e a
inclusão de um dos focos do filme, o drama e empecilhos da vida de Doss conforme
sua negação de pegar em armas e matar. A primeira metade da produção ratifica bastante
este arco que é muito bem expresso por uma cena lastimável e impactante. Como dito
pelo próprio Desmond verdadeiro no desfecho do longa, ninguém deveria tentar
corromper os ideais e princípios que regem a vida dos outros. A película
trabalha exemplarmente esta questão, a luta pelas convicções de um indivíduo corrente
sua fé, crenças e preconceito de supostos companheiros, ademais de salientar
sua jornada de perseverança, persistência e boa teimosia mesclada a conflitos pessoais
e de valores, assim como quesitos referentes à honra e dignidade. Pode-se dizer
que, perante estes acontecimentos relacionados ao intuito dos soldados pela
desistência de Doss e a sua postura firme e contraditória a vontade dos outros,
o filme recorda, sob estes aspectos, a aclamada e hilária animação Kung Fu
Panda. Deve-se também levar em consideração a dura e rígida rotina do exército
abordada durante a primeira etapa da película.
Já ao longo do segundo ato, o público se vê
envolto pelos piores horrores da guerra, bombardeado a todo instante por sequências
monstruosamente realistas que refletem o pior do ser humano. Estas são, por vezes,
compiladas por passagens absurdamente insanas e memoráveis. Relembrando em
determinados quesitos O Resgate do Soldado Ryan, a segunda metade preza o
companheirismo durante o confronto e realça as distintas personalidades à prova
dos personagens e como estes reagem ao combate iminente, além de expor os
sacrifícios que a guerra exige e reclama. Explorando a Batalha de Okinawa, batalha
de incomum destaque em longas de similar contexto, esta tem como opositores dos
estadunidenses os japoneses, outro fator que comprova a afirmação de que o
filme consegue ser original em meio ao expansivo mar de películas semelhantes
que, na maioria das vezes, têm os alemães como antagonistas. Da mesma forma, ao
correr da batalha Desmond passa a receber maior realce frente a seus parceiros
por ser um médico e salvar várias vidas, aspecto que possivelmente
nunca antes foi abordado pela sétima-arte, assim como esta verídica história. A relevância de Doss e de seu
cargo é muito bem enfatizada no segundo ato, como também a amizade, bondade,
respeito e até mesmo reverência que é estabelecida consoante suas ações. Aqui, mais
uma vez seus ideais e fé são notórios e preservados mesmo perante provações
drásticas. Ratifica-se, similarmente, ao decorrer dos confrontos uma trilha sonora
mais carregada de emoções e condizente às passagens na tela.
Brilhantemente característico e visualmente
belo, a produção é perfeita em todos os aspectos técnicos, o que lhe concedeu 3
indicações ao Oscar nas respectivas categorias, Melhor Edição, Melhor Edição de
Som e Melhor Mixagem de Som. Outras nomeações referentes à Melhor Fotografia,
Melhor Trilha Sonora, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhores Efeitos Visuais também
seriam extremamente condizentes e justas. As excelentes atuações que corroboram
com o elenco recheado merecem ser ressaltadas, embora o único concorrente ao prêmio
individual por sua performance seja Andrew Garfield que não deva vencer pois,
ademais de não apresentar nem mesmo a melhor atuação da película, junto de Ryan
Gosling se mostra o mais fragilizado da nomeação em questão, Melhor Ator.
Considerando que o longa é baseado em fatos,
não se pode negar que este seja um tanto quanto previsível e caia em certos clichês,
mas nada que, de alguma forma, diminua sua qualidade, da mesma maneira que artifícios
hollywoodianos improváveis igualmente não o denigrem.
Impactante, tocante e emocionante, esta história
contumácia de bravura e heroísmo de um homem que se tornou o primeiro condecorado
Opositor Consciente dos EUA por salvar 75 homens sem tocar em armas, é genialmente
balanceada e harmonizada por uma direção magistral que dialoga fantasticamente
com uma condução impecável que, mesmo se não atribuir a Mel Gibson o Oscar, não
será esquecida. Já tendo escrito o nome na história como um dos principais e
mais aclamados filmes do gênero, Até o Último Homem, apesar de não ser um dos
favoritos ao prêmio mais cobiçado do universo cinematográfico, com certeza
merece muito mais do que realmente irá conquistar este domingo (26) e é
obrigação para todo aquele que se diz cinéfilo e aprecie uma imprescindível
aula de cinema.
Matheus
J. S.
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Avaliações:
IMDb: 8,3
Rotten: 86%
Filmow (média geral): 4,0
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários): 4,6
Kontaminantes (Matheus J. S. ):
10
Ficha Técnica Resumida (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 26 de janeiro
de 2017 (2h 20min)
Direção: Mel Gibson
Elenco: Andrew
Garfield, Vince Vaughn, Teresa Palmer…
Gêneros: Drama; Guerra; Biografia
Nacionalidades: Austrália, Eua
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