26 de fevereiro de 2017

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Até o Último Homem (2016)



Se há um tipo de filme que não falta no cinema, este é o de guerra. Contudo, mesmo após décadas de lançamentos de longas similares, incontáveis confrontos abordados e perspectivas distintas expostas, Até o Último Homem chega para provar que o gênero sempre terá o que explorar, inovar, compartilhar e relembrar o que de melhor tem a oferecer.
Sendo a película que decreta o retorno triunfal de Mel Gibson às telonas como diretor após 10 anos, não se pode negar que as expectativas eram altas, principalmente pela qualidade apresentada em outros de seus trabalhos e as características próprias que causavam entusiasmo consoante o fato de dirigir um filme sobre a Segunda Guerra Mundial onde estas poderiam ser mais uma vez aplicadas e receber o devido destaque. Como já deve ter ficado óbvio, Mel Gibson não decepcionou.
Com uma sequência inicial extremamente bombástica onde o espectador é apresentado a certas predominâncias do enredo que diz respeito a passagens marcantes que são enfatizadas pela câmera lenta, a guerra em si, referências a Deus e uma musicalidade mais tocante, Até o Último Homem segue uma magistral linha de roteiro dividida em dois atos. No primeiro, destaca-se a figura paternal do protagonista interpretada deslumbrantemente por Hugo Weaving em, talvez, sua melhor atuação da carreira (com certeza merecia uma indicação a Melhor Ator Coadjuvante. Se Mahershala Ali foi nomeado, por que ele não?). Este, que vive atormentado por seu passado, é o responsável pelos principais conflitos familiares desenvolvidos no entrecho e a representação de maior realce dos traumas psicológicos e comportamentais de uma guerra que também afetam segundos. Além, deve-se ressaltar que, apesar das diferenças entre si e seu filho bem exaltadas no longa, é um dos alicerces de toda a trama e possui enorme influência no destino de Desmond.
O primeiro ato igualmente é constituído pela apresentação dos personagens, introdução de subtramas não tão relevantes, mas que possuem sua importância e não atribuem à película um peso desnecessário, e a inclusão de um dos focos do filme, o drama e empecilhos da vida de Doss conforme sua negação de pegar em armas e matar. A primeira metade da produção ratifica bastante este arco que é muito bem expresso por uma cena lastimável e impactante. Como dito pelo próprio Desmond verdadeiro no desfecho do longa, ninguém deveria tentar corromper os ideais e princípios que regem a vida dos outros. A película trabalha exemplarmente esta questão, a luta pelas convicções de um indivíduo corrente sua fé, crenças e preconceito de supostos companheiros, ademais de salientar sua jornada de perseverança, persistência e boa teimosia mesclada a conflitos pessoais e de valores, assim como quesitos referentes à honra e dignidade. Pode-se dizer que, perante estes acontecimentos relacionados ao intuito dos soldados pela desistência de Doss e a sua postura firme e contraditória a vontade dos outros, o filme recorda, sob estes aspectos, a aclamada e hilária animação Kung Fu Panda. Deve-se também levar em consideração a dura e rígida rotina do exército abordada durante a primeira etapa da película.
Já ao longo do segundo ato, o público se vê envolto pelos piores horrores da guerra, bombardeado a todo instante por sequências monstruosamente realistas que refletem o pior do ser humano. Estas são, por vezes, compiladas por passagens absurdamente insanas e memoráveis. Relembrando em determinados quesitos O Resgate do Soldado Ryan, a segunda metade preza o companheirismo durante o confronto e realça as distintas personalidades à prova dos personagens e como estes reagem ao combate iminente, além de expor os sacrifícios que a guerra exige e reclama. Explorando a Batalha de Okinawa, batalha de incomum destaque em longas de similar contexto, esta tem como opositores dos estadunidenses os japoneses, outro fator que comprova a afirmação de que o filme consegue ser original em meio ao expansivo mar de películas semelhantes que, na maioria das vezes, têm os alemães como antagonistas. Da mesma forma, ao correr da batalha Desmond passa a receber maior realce frente a seus parceiros por ser um médico e salvar várias vidas, aspecto que possivelmente nunca antes foi abordado pela sétima-arte, assim como esta verídica história. A relevância de Doss e de seu cargo é muito bem enfatizada no segundo ato, como também a amizade, bondade, respeito e até mesmo reverência que é estabelecida consoante suas ações. Aqui, mais uma vez seus ideais e fé são notórios e preservados mesmo perante provações drásticas. Ratifica-se, similarmente, ao decorrer dos confrontos uma trilha sonora mais carregada de emoções e condizente às passagens na tela.
Brilhantemente característico e visualmente belo, a produção é perfeita em todos os aspectos técnicos, o que lhe concedeu 3 indicações ao Oscar nas respectivas categorias, Melhor Edição, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som. Outras nomeações referentes à Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhores Efeitos Visuais também seriam extremamente condizentes e justas. As excelentes atuações que corroboram com o elenco recheado merecem ser ressaltadas, embora o único concorrente ao prêmio individual por sua performance seja Andrew Garfield que não deva vencer pois, ademais de não apresentar nem mesmo a melhor atuação da película, junto de Ryan Gosling se mostra o mais fragilizado da nomeação em questão, Melhor Ator.
Considerando que o longa é baseado em fatos, não se pode negar que este seja um tanto quanto previsível e caia em certos clichês, mas nada que, de alguma forma, diminua sua qualidade, da mesma maneira que artifícios hollywoodianos improváveis igualmente não o denigrem.
Impactante, tocante e emocionante, esta história contumácia de bravura e heroísmo de um homem que se tornou o primeiro condecorado Opositor Consciente dos EUA por salvar 75 homens sem tocar em armas, é genialmente balanceada e harmonizada por uma direção magistral que dialoga fantasticamente com uma condução impecável que, mesmo se não atribuir a Mel Gibson o Oscar, não será esquecida. Já tendo escrito o nome na história como um dos principais e mais aclamados filmes do gênero, Até o Último Homem, apesar de não ser um dos favoritos ao prêmio mais cobiçado do universo cinematográfico, com certeza merece muito mais do que realmente irá conquistar este domingo (26) e é obrigação para todo aquele que se diz cinéfilo e aprecie uma imprescindível aula de cinema.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Avaliações:
IMDb: 8,3
Rotten: 86%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários): 4,6
Kontaminantes (Matheus J. S. ): 10





Ficha Técnica Resumida (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 26 de janeiro de 2017 (2h 20min)
Direção: Mel Gibson
Elenco: Andrew GarfieldVince VaughnTeresa Palmer
Gêneros: DramaGuerraBiografia
Nacionalidades: AustráliaEua

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