"Eu vim barganhar"
Estrelado pela Feiticeira Branca, Hannibal e
Sherlock Holmes, Doutor Estranho é bem-sucedido em quesitos técnicos e ensaia
uma revigorada do gênero.
2016 foi um bom ano para a Marvel, com grandes
sucessos de público e crítica, longas que, de alguma forma, contribuíram para o
avanço cinematográfico do gênero. Deadpool, distinto e contraventor, foi
agraciado (quer dizer... [leia aqui]) com uma mescla de contextos envoltos pelo
politicamente incorreto, Guerra Civil expandiu ainda mais o universo do estúdio
e tratou com êxito assuntos políticos, enquanto o filme sobre o Dr. Strange não
fez feio em prática com efeitos admiravelmente deslumbrantes e a abordagem do
misticismo. Sendo o principal acerto do filme, este não peca quando o assunto é
o visual (o quê lhe rendeu uma indicação ao Oscar na categoria Melhores Efeitos
Visuais), seja na maquiagem dos personagens ou na constituição das sequências
especiais do mesmo, estas que, muitas vezes, recordam a estética de A Origem.
Munido de bacanas referências (por falar nisto, é bom destacar que o vínculo
com os Vingadores não impede que a película funcione sozinha, além de
justificar o porquê da ausência destes em uma situação de tamanha proporção
como no trabalho em questão), o estilo da mesma, ademais das similaridades para
com a produção sob comando de Nolan, denota até mesmo semelhanças que se
estendem a Matrix, isto é, coincidentes aspectos que se restringem ao
treinamento do protagonista. O longa usufrui de uma plástica cimentada, envidraçada,
metálica e psicodélica que geralmente evoca uma atmosfera surreal e mentecapta,
fator que, perante determinadas perspectivas, pode se tornar explicitamente artificial
e demasiado recursivo. Todavia, a utilização descontraída e glamorosa da magia
rende inúmeros entretidos segmentos insanos que enaltecem tal caráter singular
do mesmo e ratificam a preocupação dos desenvolvedores com o visual, este
extremamente vibrante, frequente e convincente.
Embora seja uma história de origem, a película
não perde tempo em desenrolar sua trama, postura que pode ser considerada um
tanto quanto abrupta, sem a ideal harmonia de ritmo e desenvolvimento.
Certamente funcionará mais para alguns que para outros, no entanto, não se pode
dizer que o filme se trata de uma produção lenta, visto que o frenesi a todo
instante toma conta da tela e possa ser justificado pelas propostas do mesmo.
Apesar de flertar com o dramático, o emocionante e o conflituoso em certos
momentos, as investidas não se realçam acentuadamente, já que o longa funciona
melhor como diversão despretensiosa, se bem que as tentativas possuem o mérito
de humanizar os personagens. Contudo, o enredo não deixa de se tratar de uma
sutil jornada de transformação espiritual acerca do reconhecimento de si que
envolve arrogância, ego, teimosia, ceticismo, fé, sacrifício, humildade e
autossuperação, além da dissociação do físico e o anímico, ademais de reflexões
que remetem aos conceitos de tempo e morte. Em contraparte, alguns coadjuvantes
e arcos adjacentes poderiam enfatizar uma maior sensibilidade de progresso
criativo, eficiente e produtivo. Outro ponto negativo se resume a uma câmera
tremida (por hora), que chega a incomodar.
A comicidade é uma vertente que a película
usufrui muito bem em seu entrecho, coordenando-a as passagens mais modestas de
maneira divertida e como quebra cômica nas sequências de maior tensão. Os
diálogos expositivos funcionam naturalmente, bem como a condução imposta que
não demarca a passagem de tempo, as atuações são aceitáveis (Mads Mikkelsen
poderia salientar a personalidade de seu personagem, o que não acontece, as
motivações deste são plausíveis, porém não são refletidas contundentemente em
sua performance... a atuação é superficial, longe de relembrar seus icônicos e
fabulosos papéis como Hannibal Lecter e Lucas [A Caça]), a trilha sonora
indiferente e as cenas de ação bem dirigidas, isto é, são compreensíveis e
volúveis, nunca maçantes, projetadas de formas diferentes consoante as figuras
em cena e a ambientação. No mais, os antagonistas não são ruins, mas longe de
serem marcantes, enquanto as frases e diálogos de impacto surtem um efeito
completamente oposto e, embora possua alguns clichês, o longa os compensa com
uma resolução de desfecho peculiar, inventivo, inteligente, hilário, intrigante
e satisfatório.
Doutor Estranho, em suma, é um blockbuster
interessante e empolgante gostoso de se assistir que funciona de variáveis
maneiras dependendo do público. Para alguns, serve como passatempo lúdico, para
outros como amplificação do MCU e introdução de um importante e influente
personagem em tal.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 2 de novembro de 2016 (1h
55min)
Direção: Scott Derrickson
Elenco: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Tilda
Swinton…
Gêneros: Fantasia; Aventura
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb:
7,5
Rotten:
90%
Metacritic:
72%
Filmow
(média geral): 4,0
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,5/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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