O clichê com certeza é um vício que acaba por
estragar muitas produções, seja pela preguiça do roteiro, por ser a única
escapatória visível ou, muito provavelmente, por ser algo que algum outro filme
já fez sem o próprio diretor saber, afinal, este mundo é gigantesco. No
entanto, é simplesmente admirável quando um longa consegue fugir do previsível
e apresentar uma proposta empolgante que surpreende e incita reflexões ao
espectador, e Sam Was Here o faz com maestria.
Arrojada e peculiar, a película não se limita a
explicações e se caracteriza, principalmente, por sua magistral execução de
mistérios. Para se compreender, o magnífico trabalho na construção de
ambientações e cenários deve ser ressaltado, ou seja, Sam Was Here é
brilhantemente imersivo na confecção de suas desérticas paisagens ariscas e
calorosas reiteradas com tons amarronzados e o enfoque mediante planos gerais
que ratificam a percepção da vastidão de isolamento e inospitalidade, o que é
acentuado com a ênfase em casas abandonadas e dispersas, mas refutado com a
atenção voltada a locais de aparente ocupação que se mostram, no momento,
curiosamente devolutos, todos fatores que convergem para confecção de seu
instigante suspense, arrebatadora tensão e estimulantes questionamentos sobre o
público.
Visto que a trama é inteiramente interpretativa
e subjetiva, destacam-se determinados objetos que corroboram a estranheza do
enredo, mas é de indiferente percepção de Sam, como o urso que o mesmo mantém
como passageiro e leva sempre consigo ou o fato dos personagens que
gradativamente aparecem estarem sempre mascarados e o protagonista não
demonstrar interesse pela identidade das respectivas figuras ou diligência com
o porquê das faces ocultas. Tais incógnitas atribuem certo caráter onírico ao
entrecho que se vê corroborada com uma surreal e constante luz vermelha
fluorescente no céu e a música-tema que eleva a atmosfera psicodélica.
A opção de não dar rosto e falas a maioria dos
personagens cria um envolvente clima enervante que se perde com a aparição de uma
senhora tagarela e de rosto nu que também quebra grande parte da apreensão que havia
se criado, ademais de seu contínuo lamurio ser um tanto quanto caricato e forçado.
Felizmente os 10 minutos finais retomam a crescente sensação de inquietação e
enigmas que começava a se diluir, sendo estes os detentores dos momentos mais
bizarros, aterradores e intrigantes do filme.
Minimalista, de baixo orçamento, curta duração
(75min) e elenco reduzido, o longa usufrui com exemplar sabedoria dos recursos
disponíveis, dentre estes e o mais importante, Rusty Joiner, o Sam da estória.
Único ator a ter sua face descoberta (claro, além da velha sacal), o longa se
sustenta em grande parcela de seu talento e expressividades, conseguindo a
simpatia do público e sendo versátil nas facetas receptivas, confusas,
assustadas, atônitas e inflexíveis de seu personagem. Aliás, as lutas físicas
que o mesmo tem de enfrentar para sobreviver merecem realce, já que o ator mais
uma vez é bastante consentâneo em sua performance e o roteiro se mostra eficaz
ao deslanchar toda sua agressividade nas horas devidas, provando que esta é sim
é uma película violenta de assuntos densos e, acima de tudo, um sangrento
labirinto que pode ser interpretado como uma jornada de justiça e
autodescobertas.
Sam Was Here é inventivo, complexo, provocativo
e inteligente, uma boa pedida para o fim de semana e que te fará pensar.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (mundial): 9 de setembro de 2016
(75min)
Direção: Christophe Deroo
Elenco: Rusty Joiner, Sigrid La Chapelle, Rhoda Pell…
Gêneros: Mistério; Terror; Thriller
Nacionalidades: EUA e França
Avaliação:
IMDb:
4,5
Rotten
(audience score): 15%
Filmow
(média geral): 2,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8
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