Stranger Things, após uma temporada de estreia
excepcional, retorna para seu segundo ano com a difícil tarefa de, se não ao
menos superar, igualar o nível da temporada anterior. Para tal, logo em seu
primeiro episódio o programa já reapresenta os personagens que conquistaram o
público (sem troca de atores, o que é bom) e as características que marcaram e
cativaram o espectador, como a imposição de mistérios, o prezar de uma atmosfera
nostálgica e divertida, comicidade, trilha sonora oitentista e eclética... No
entanto, além da introdução de novos rostos, esta segunda temporada se
qualifica pela ênfase em arcos mais intimistas e individuais, como se observa
no exaltar do plot de Will, este que tem de enfrentar as ridicularizações de
segundos e a superproteção por parte da mãe consoante seu desaparecimento e
suposta morte, o que denota a preocupação do enredo em lidar com o tom
dramático e conflituoso de seus protagonistas, fator que atribui
verossimilhança às figuras em cena. Ainda como forma de realçar as
consequências diretas do ano anterior, Will mais uma vez se vê no centro da
trama sofrendo das cicatrizes deixadas pelos acontecimentos passados, fator que
também demonstra um cuidado preliminar do roteiro em trabalhar com as
pendências do entrecho e compreensão dos desenvolvedores em dar ao espectador o
que ele deseja: respostas, mais enigmas e ação/aventura. (SPOILERS A SEGUIR) Ademais, considerando a maior
frequência em tela de Noah Schnapp, o mesmo aproveita seu tempo com exímio,
interpretando com brilhantismo as várias nuances de um garoto oscilante que,
quando sob controle do Devorador de Mentes, se mostra impassível, incontrolável
e dominado pela ira, ora atormentado pelas visões que o assombram ou assolado
pela angústia da possessão e receios com o futuro, todas situações onde as
expressões e facetas do ator são eloquentes e genuínas. (FIM DOS SPOILERS)
Visto que o âmago das personagens passa a
receber maior sublinho e os episódios iniciais dedicam um ritmo paulatino para
a respectiva evolução, infelizmente o script não é suficientemente equilibrado
para atribuir a mesma atenção a todos, o que acaba por se mostrar discrepante e
incômodo, além de permitir que determinadas figuras se elevem (acredite, não
foi um trocadilho) mais que outras. Por exemplo, grande marco do ano anterior,
Mike tem sua presença diluída a uma modesta companhia emocional de Will e um
apelo sentimental à ausência de Onze, função banal e maçante, um indulto que
procura (mas não consegue) justificar o personagem na temporada. Em
contraparte, Steve, que ganha maior tempo de tela e passa a ter influência
direta na equipe, representa um grande acerto do roteiro ao acentuar uma figura
secundária e introduzi-la naturalmente a trama ao passo que também obtém o
apreço do público. Ademais, como forma de salientar sua relevância, o
personagem adquire seu próprio arco e tem seu lado sensível frisado, o que
acaba por ser bastante subversivo e irônico (afinal, Steve nem sempre esteve
entre os favoritos do espectador). Representando os novos semblantes em
Hawkins, Billy, a princípio de aparente grande importância ao enredo, atende
somente como complemento ao plot de Steve e antagonista humano, mas na maior
parte do tempo rende isoladas passagens descartáveis para temporada, tendo seus
demônios e motivações apenas esboçados. Todavia, apesar da vacilante utilidade
à estória, Billy é interpretado com excelso por Dacre Montgomery, ator que
consegue incorporar com aptidão toda a arrogância, insolência, agressividade e opressão
do personagem.
Outro novo rosto na cidade é Max, garota que se
torna funcional ao entrecho mediante a forma como o público interpreta Stranger
Things, isto é, se o vê como um combate entre forças humanas e sobrenaturais,
Max não será pertinente, mas se o vê como o desenvolver de crianças cercadas
por estranhos fenômenos, a mesma tem sua parcela de significância. Ou seja, Max
serve como incremento das tramas de Lucas e Dustin, principalmente da do Lucas,
enquanto Dustin lida com seus próprios e controversos dilemas. Ainda referente
aos novos personagens, Bobby Newman, vivido pelo icônico Sean Astin de Os
Goonies (Mikey Walsh), inicialmente deslocado na temporada, é muito
carismático, tem seus momentos de contágio sobre o espectador e valorização no
entrecho. Joyce desempenha exatamente o mesmo papel do ano passado, Hopper tem
seu íntimo aprofundado a camadas que anteriormente foram somente pinceladas,
Nancy é aproveitada de forma discutível de opinião e praticamente servil a uma
fração do público e Jonathan não é desvencilhado da sombra da mesma. Já Onze,
um dos pilares da série, também segue por sua jornada individual, uma jornada
que vinha tendo um considerável progresso até o episódio 7 (The Lost Sister), onde
está o principal problema da temporada. Embora forneça algumas respostas, crie
possibilidades para o futuro e permita com que os irmãos Duffer experimentem e
arrisquem, o capítulo destoa completamente do andar frenético e imersivo que o
ano havia imposto em sua segunda metade, conta com figuras caricatas, um roteiro enfadonho e não
convence na consistência individual de Eleven, em outras palavras, gasta muito
tempo com elementos improdutivos, uma resposta a fragilidade do script em lidar
com um plot de maior peso pessoal em desalinho com outros personagens de
notoriedade. Além, visto a relevância de Onze na série e seu menor espaço nesta
temporada, o episódio ganha um ar de obrigação em compensar a mesma pela
inconstância ao correr do ano, um episódio de pouco preparo e quase que de
desespero.
Em refuto, o capítulo posterior (The Mind
Flayer) é o melhor de toda a série, apreensivo, emocionante e comovente,
ademais de sangrento (o que ratifica a tonalidade mais densa e sombria do novo
ano) e enaltecedor do senso de coletividade, aspecto exíguo corrente os
subgrupos que se formam ao longo da temporada, mas que não se perde e se
sustenta pela excelente química entre os personagens. Ainda em foco as
diferenças entre ambos os anos, se destaca a inversão de lado dos cientistas, o
que é interessante de se ver e em ação é bem prático, os efeitos especiais são
mais convincentes e o elenco de apoio é completado com o íntegro Dr. Owens, a
extrovertida irmã do Lucas, Erica, e com o astuto teórico da conspiração Murray
Bauman, todas figuras que, à sua maneira, despertam simpatia no telespectador.
No mais, o desfecho é bem amarrado e agridoce, o grande vilão da vez não é
incorporado e não trava batalhas físicas com os personagens, recurso que prova
a reticência dos desenvolvedores em lidar com um ser de tal magnitude e também
é frustrante ao assistente, bem como o é nas incógnitas que prevalecem sem
vislumbre de respostas acerca do Mundo Invertido desde o princípio do programa.
Concluindo, a 2ª temporada de Stranger Things é
mais grandiosa e ambiciosa que a primeira, tem maior instabilidade e clichês,
mas certamente satisfará os que se contentaram com seu primeiro ano trazendo de
volta o mesmo gancho que fizeram muitos amá-la em 2016.
Matheus J. S. 9
Depois de uma primeira temporada que conquista
um público diverso e surpreende pelo sucesso alcançado, ST volta com a mesma
receita mudando sutilmente a dose dos ingredientes sem comprometer a série,
mantendo o interesse e aumentando a especulação de quais caminhos vai trilhar
até seu término.
Se antes tínhamos uma trama que se movimentava
em volta de um grupo coeso, o mesmo foi dividido em partes para um maior
desenvolvimento de alguns personagens e absorção de outros novos. Tanto que na
maioria dos episódios vemos duplas como Dustin e D’Art, Dustin e Steve, Lucas e
Max, Mike e Will... falando em Will, este continua funcionando como um catalisador
do enredo mantendo a ligação com o Mundo Invertido, que é o palco da odisseia.
Eleven, afastada dos amigos, ganha um episódio onde sua personalidade e
convicções passam por um amadurecimento, enquanto Steve também passa por
transformações se aproximando dos nossos jovens protagonistas atuando em mais
de um momento como um irmão mais velho e legal. O romance também esteve
presente acentuando o sentimento de muitos e mostrando que o elenco infantil se
aproxima da adolescência a cada temporada.
As referências continuam em destaque, porém
mais sutis do que na temporada anterior com algumas exceções, além dos
entretenimentos comuns adentrarem também na tecnologia.
A trama flui como a anterior, contextos
paralelos convergindo para um ponto em comum envolvendo o elenco principal
proporcionando o ápice da temporada nos dois últimos episódios.
Enquanto alguns personagens passam por processo
de evolução, outros consolidam o desempenho passado, por exemplo, Joyce e
Hopper.
Os destaques da temporada ficam por conta do
episódio dois onde Ghostbusters é referenciado com a caracterização dos
personagens que ainda dão uma palinha do tema do filme que também encerra o
episódio, a dança de Hopper em um raro momento de descontração e a presença do
ator Sean Astin, tanto pela referência à filmografia quanto pelo personagem
Bobby, que gradativamente ganha o carisma do espectador e importância para
trama no decorrer da temporada.
A segunda temporada de ST não alcança o mesmo
efeito carismático que a primeira, mas cresce em desenvolvimento de enredo,
deixando a ansiedade pairando no ar para a próxima temporada.
leonejs 8,5
Após uma primeira temporada excelente, a série retorna com qualidade
semelhante à mesma, semelhante porque mesmo sendo muito boa, por diversos
motivos é inferior a inicial. Muitos destes motivos não interferem diretamente
na qualidade da série, mas cria uma grande diferença entre as duas temporadas.
A terceira temporada pode explorar diversas coisas, sendo uma delas
a personagem Kali, que possui poderes psíquicos similares aos de Eleven e
nesta temporada não teve grande participação, com exceção ao sétimo episódio,
que tem certa importância, mas mesmo assim é o pior da temporada. O mais
importante é que sua sequência não continue decaindo como esta fez em relação à
primeira.
Murillo J. S. 8,5
Assista e Kontamine-se
Comente e Siga Nosso Blog
Leia Também:
Ficha Técnica:
Primeiro
episódio: 15 de julho de 2016
Criado
por: Matt Duffer, Ross Duffer
Com: Winona
Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard…
País:
EUA
Gênero
(s): Fantasia; Suspense
Status:
Renovada
Duração
(aproximadamente): 55 minutos
Avaliação:
IMDb
(2016- ): 9,0
Rotten:
94%
Metacritic:
78%
Filmow
(média geral): 4,4
Adoro
Cinema (usuários): 3,9
Kontaminantes (média): 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário