O cinema sueco geralmente é associado ao nome
de Ingmar Bergman (O Sétimo Selo; Morangos Silvestres; Persona...), influente
cineasta conhecido mundialmente e o principal nome do país vinculado ao âmbito
cinematográfico. No entanto, muitos se esquecem que a respectiva nação também é
frutífera em seu cinema contemporâneo, como Um Homem Chamado Ove comprova.
Delicado para com suas mensagens e tocante em
sua confecção, o filme tem como protagonista um idoso amargurado com a vida que
não tem mais lugar no mundo, como é ressaltado durante vários momentos
alegóricos que contrapõem perspectivas de épocas distintas. Considerando que a
partir deste gancho o longa toma rumo e a comicidade se caracteriza como um de
seus marcos, a película faz uma brilhante representação da melancolia nas
inúmeras tentativas de suicídio de Ove, mas atenua as situações com os esforços
sendo sempre hilariantemente falhos, mesclando drama ao lúdico. Ademais, a
melancolia é realçada com o forte sentimento de luto intrínseco ao Ove, este
ratificado pelas constantes visitas ao túmulo de sua mulher e as frequentes
menções a mesma.
Qualificado igualmente pelo desenvolvimento de
relacionamentos, Um Homem Chamado Ove, mediante funcionais flashbacks e uma
narração em voice over do protagonista que esclarece muitas coisas, se
aprofunda nas relações de Ove para com seu pai, sua esposa (que, conforme a
forte presença dela nas lembranças é atribuído um peso maior a sua ausência no
presente) e, no agora, para com os recém-chegados vizinhos. Todas relações que
colaboram para modelar a personalidade de Ove e o influenciam diretamente,
visto que este é um filme sobre um homem turrão e ranzinza consequente de seu
histórico de martírios, o qual muitos dos espectadores irão se identificar, investida
que faz com que o assistente se contagie com o personagem mesmo ele sendo
ruvinhoso. Todavia, também é uma estória de bondade, que acentua conceitos como
amizade e afeição e ratifica que todos merecem uma segunda chance e ser amados.
Ainda referente ao caráter rabugento de Ove,
tais atitudes ranhetas concebem os momentos mais jocosos do longa, estas
desempenhadas com contundência por Rolf Lassgård no presente, enquanto nos
flashbacks Filip Berg se responsabiliza pela interpretação de um Ove mais
tímido e introspectivo. Focando em aspectos técnicos, a maquiagem fez por
merecer sua indicação ao Oscar e as cores vívidas em sintonia com uma trilha
sonora alegre e divertida dialogam com a sensação de esperança mesmo nas
passagens mais trágicas. Por falar em esperança, a transformação de Ove
consoante os novos vizinhos é simplesmente espetacular, a forma como os mesmos
trazem sorrisos de volta a face carrancuda do velho, o deixam ponderar
novamente sobre a felicidade e o fazem encontrar a si mesmo, a película também
é, acima de tudo, sobre um homem e seus demônios, uma jornada de rendição para
consigo mesmo, aceitação e enfrentamento, sutilezas meticulosas do roteiro que
levam o público a refletir sobre a vida e se encarregam de segmentos
enternecedores.
Ao correr do turbilhão de eventos, o enredo
ainda arruma tempo para fazer certa crítica a companhias e empresas privadas, o
que pouco corrobora ao entrecho, se resolve de forma demasiado positiva e não causa impacto, visto que a alfinetada destoa do tom carismático
e intimamente conflituoso que a produção havia imposto. No mais, a trama porta
alguns clichês que, corrente a perspectiva de determinados espectadores, podem
ser frustrantes e diferir duma verossimilhança exigida. Porém, deve-se
enfatizar que, apesar de se apropriar de certos fatores que evocam
autenticidade para com a realidade, o filme não possui como intuito se
compromissar a tais elementos, o que fica a critério do público julgar bom ou
ruim.
Um Homem Chamado Ove é visualmente e
conceitualmente bonito, um filme sensível, emotivo, comovente e cativante, de
caminhada agridoce de seu protagonista e que trabalha importantes questões
sociais e individuais.
Matheus J. S. 9
Muito semelhante em sua composição e contexto
com Minha Vida de Abobrinha (leia aqui), este longa demonstra que trabalhos
espetacularmente simples conseguem explorar temas complexos com genialidade e
profundidade.
Comumente estamos habituados a apreciar e a
consumir entretenimentos que margeiam e ultrapassam a linha do impossível, do
insano, do improvável entre outros adjetivos de mesmo gênero e grau (veja isto
como uma constatação e não uma crítica, afinal, sou um simpatizante da ficção e
fantasia em geral). Quantas vezes viajamos para mundos diversos para poder fugir
da nossa realidade, dos problemas que nos rodeiam e de situações que não
queremos vivenciar. Explorando cada vez mais fundo estes universos que levam
os conceitos e teorias aos seus limites e acabamos por esquecer que o ser
humano e sua humanidade ainda é um dos mistérios mais intrigantes de todos os
tempos, sendo ao mesmo tempo admirável e desprezível. Quantas vezes tentamos e
lutamos para ampliar a nossa visão sobres assuntos de alto teor erudito em
questões de pura filosofia ou de alta tecnologia, que por fim acabam por
embaçar o que está a um passo de distância.
Um Homem Chamado Ove é um filme que trata do
relacionamento de um homem consigo e com os que lhe rodeiam, tendo uma
atmosfera antissocial e suicida, o filme envolve a quem assiste de uma forma
singela e contundente. Com atuações condizentes e convincentes, cada personagem
é uma representação de personalidades que encontramos no mundo real, geralmente
tendo muito mais profundidade e importância do que aparentam. O cenário comum e
cotidiano exalta a mensagem que é transmitida, a trilha sonora instrumental
principal lembra muito as trilhas de cinema mudo em que uma mesma música
carrega o ritmo dramático e cômico.
Cativante e reflexivo, esse é um daqueles
filmes onde o simples é perfeito e qualquer alteração de sua composição final
seria um crime imperdoável.
leonejs 9
Ove é um senhor de idade e um pouco
temperamental, mora em um condomínio com diversas regras a serem seguidas, e
faz de tudo para que estas não sejam desrespeitadas. Este perdeu sua mulher e
está decidido a se suicidar, mas por certos motivos é interrompido, fazendo com
que ele conheça algumas pessoas que vão modificando sua vida diária.
O filme gira em torno deste arco, mostrando
também alguns flashbacks de sua infância e outros momentos de sua vida. O longa
possui como gênero o drama e a comédia, mas a comicidade é abrandada perante a
maior presença dramática.
Um Chamado Ove é muito bom, mas é uma pena que
não seja tão conhecido quanto merece.
Murillo J. S. 10
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 16
de fevereiro de 2017 (1h 56min)
Direção: Hannes Holm
Elenco: Rolf Lassgård, Bahar
Pars, Ida Engvoll…
Gênero: Comédia dramática
Nacionalidade: Suécia
Avaliação:
IMDb:
7,7
Rotten:
90%
Metacritic:
70%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,1/2,0
Kontaminantes (média): 9,5
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