14 de novembro de 2018

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Em Pedaços

Pôster




Longe dos holofotes hollywoodianos e distante dos critérios qualitativos do mercado americano, há uma expansão de filmes que clamam por realce. Uma excelente oportunidade para o grande público estabelecer contato com produções mais alternativas, é pelo Festival de Cannes. Além de ser a porta de entrada ao ramo cinematográfico para muitos cineastas de renome da atualidade e não possuir restrições quanto à variedade de nacionalidades participantes, o festival, em 2017, também foi o responsável por promover ao mundo a obra alemã Em Pedaços.
Em Pedaços é uma película formalmente segmentada. Com início, meio e fim caracteristicamente divididos em capítulos, os atos do longa contam estórias individuais que se complementam em uma extensa jornada de dor, injustiça e redenção. O primeiro ato, calcado no destrinchar do luto, apesar de ágil ao estabelecer sua diretriz, é o mais lento dos três ao respaldar o calvário da protagonista. Tal ritmo paulatino reflete de maneira genuína o martírio da personagem e sua perspectiva amargurada da vida. Corroborando, a ambientação álgida e chuvosa, trilha sonora a base de toques instrumentais melancólicos, colorações alvas que salientam o vazio emocional de Katja e contrastam com os tons escuros que exprimem a lugubridade vigente, realçam a atmosfera lutuosa e funesta.
O segundo ato, desenvolvido praticamente todo em palco jurídico, é assaz inteligente e apreensivo. Neste estão concentrados alguns diálogos e embates intelectuais, entre dois advogados, bastante críveis e perspicazes que denotam invejável destreza da direção. Ambos bacharéis são astutos e as argumentações destes plausíveis e persuasivas, enquanto se acentua o senso de emergencial justiça e o medo cada vez mais real de uma possível absolvição dos réus; tudo é imbuído por um acabrunhado e cáustico caráter realista. As chuvas cessam, a trilha sonora ganha requintes graves, se usa o slow motion para frisar a tensão dos segmentos, os detalhes que envolvem o atentado são aprofundados e a fotografia, em auxílio ao tribunal que serve de cenário, se alterna predominantemente entre tonalidades pretas e brancas.
Já no terceiro ato, as cores são mundanas e as sequências contemplativas. Katja atinge seu abismo pessoal, lacerada pelo desamparo e pelo furor reprimido, e o fecho da estória, em concordância a tudo até então apresentado, é ao mesmo tempo catártico e desesperançoso. Aproveitando o gancho, o desalento e a ânsia de Katja por represália são brilhantemente incorporados por Diane Krueger, atriz premiada por sua performance durante o mesmo Festival de Cannes aqui já citado. A cineasta transparece, em sua proficiente maleabilidade de minuciosas expressividades, o afeto por sua família, o sofrimento corrente involuntárias e dolorosas recordações, aflição e indignação perante decisões injustas, o torpor do luto etc.
A película, ademais de todos os aspectos técnicos ressaltados, igualmente demonstra habilidade em sua confecção de passagem do tempo. As de maior período são feitas de modo orgânico e praticamente imperceptível, enquanto aquelas que abrangem um espaço mais curto são induzidas por cortes secos que mostram um mesmo evento momentos depois sob outros parâmetros; é uma estratégia eficaz e funcional que não permite o enredo sequer flertar com a monotonia. Em contraparte, o uso de flashbacks é um demérito do filme, visto que a função destes, no longa, é expor a família unida e feliz como método para reiterar o laço entre os membros, porém torna-se algo desnecessário e redundante, o espectador já compreendeu o imenso amor que permeava aquele núcleo familiar conforme todo o pesar de Katja com a morte dos entes queridos.
Como adendo, a produção alicerça todo seu entrecho em relevantes e atuais críticas sociais voltadas ao preconceito, discurso de ódio e nazismo, valores retrógrados que, revoltantemente, ainda exercem poder sobre os dias de hoje.
Em Pedaços é uma obra inquietante, pertinente, ácida e de difícil digestão que cobra tanto de seus personagens como de seu público.
Matheus J. S.  9,5

Fora do círculo hollywoodiano é possível encontrar produções interessantes e de qualidade, porém dificultoso é se libertar das armadilhas criadas pelas grandes empresas de cinema que compõem o cartel de Hollywood. Altos investimentos, profissionais contratados a peso de ouro, mega eventos para premiar a eles mesmos, milhões empregados em publicidade e outros artifícios para que estejam impregnados nas mentes de suas vítimas e assim criar um público fiel que continue financiando a máquina. Máquina esta que muitas vezes empurra verdadeiras porcarias ao espectador apenas na intenção de obter lucro (estou falando de filmes e seu mundo de ficção, qualquer semelhança com eleições é mera coincidência). Como toda regra tem sua exceção, há aqueles que quebram os grilhões do cativeiro e encontram novos horizontes e outros que nascem livres e nos apresentam novas perspectivas.
Em Pedaços é uma produção que apresenta um panorama geopolítico que é desconhecido da grande maioria, assim em seus primeiros minutos ela abre inúmeras possibilidades para a condução da trama que pode dar uma guinada a qualquer momento, fazendo com que o espectador fique envolvido em uma atmosfera de curiosidade até o último momento. Sua construção é simples, porém pertinente e minuciosa. Quando foca em algo que já foi apresentado inúmeras vezes e de diversas formas, a obra consegue inovar e agradar com uma visão diferenciada, efeitos conseguidos por uma câmera bem trabalhada, uma frase ou um momento comum que quase sempre é negligenciado em muitos filmes.
Sem equívocos, dois personagens e seus respectivos intérpretes se destacam imensuravelmente na trama, a protagonista e o antagonista intelectual (Haberbeck). Com tempo de tela bem diferenciado, ambos praticamente compartilham dos eventos primordiais do enredo e convencem e agradam em suas performances.
Cenários comuns, um elenco praticamente desconhecido, narrativa precisa e trama envolvente garantem um ótimo entretenimento para os apreciadores de um trabalho bem elaborado e desenvolvido, ciente do que quer e aonde quer chegar.
leonejs.  8

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 8 de fevereiro de 2018
Direção: Fatih Akin
Elenco: Diane Kruger, Denis Moschitto, Numan Acar…
Gênero: Drama
Nacionalidades: Alemanha e França

Sinopse (Google):
Após cumprir pena por tráfico de drogas, o turco Nuri Sekerci leva uma vida amorosa e tranquila com a esposa Katja Sekerci e o filho Rocco na Alemanha. Certo dia, ele e o menino estão no escritório e morrem vítimas de uma explosão criminosa, tragédia que deixa Katja arrasada. Ela batalha na justiça pela punição dos culpados, um casal neonazista, e, insatisfeita com o desenrolar do caso, decide pela vingança com as próprias mãos.

Avaliação:
IMDb: 7,1
Rotten: 76%
Metacritic: 65%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,9/4,0
Kontaminantes (média): 8,5
Avaliação

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