Como é possível que um livrinho de 64 páginas
contenha material suficiente para o desenvolvimento de cinco filmes?
Provavelmente esta seja uma pergunta de resposta insondável, porém a indagação
mais importante a fazer é se a J. K. Rowling, roteirista do longa, conseguiu
adaptar com coesão a pequenina obra literária que ela mesma escreveu.
Animais Fantásticos e Onde Habitam é uma
produção de personalidade. Apesar da película se passar no mesmo universo de
Harry Potter, esta não possui vínculos diretos com as obras do bruxinho e nem
tem a pretensão de possuir, muito pelo contrário, Animais Fantásticos e Onde
Habitam é um filme autêntico e emancipado. Mesmo que haja pequenas menções a um
personagem ou feitiço já conhecido pelo espectador através da franquia de oito
longas-metragens, a produção só o faz quando há extrema necessidade, sem jamais
se aproveitar de aspectos marcantes da saga ou autorreferências
despropositadas. Sobretudo, a película demonstra audácia ao expandir a
mitologia até então sob conhecimento do público.
A começar pela cenografia, toda a trama se
desenvolve em ambientações urbanas estadunidenses, distante das terras britânicas e de
Hogwarts que servem de palco narrativo para a cinessérie estrelada por Daniel
Radcliffe. Alguns aspectos burocráticos e ideológicos do mundo bruxo
norte-americano são expostos, novos conceitos mágicos apresentados e os
conflitos históricos do respectivo universo abordados. A fotografia
amarronzada, preta e cinzenta caracteriza a Nova York dos anos 20, além de
contrastar com as cores exuberantes dos seres fantásticos e permitir com que o
visual destes se sobressaia ainda mais.
Tais criaturas, citadas no próprio título da
produção, desempenham papel de destaque. Todo animal está agregado de maneira
relevante e orgânica ao enredo, possui carisma e singularidades próprias, usufrui
considerável tempo em tela e é detentor de ímpar e formosa beleza estética. O
ladrão de brilhantes dá um show à parte: astuto e sagaz, o bichinho compõe os
momentos mais lúdicos do entrecho. O CGI
que confecciona os seres mágicos é convincente, contudo há ressalvas que se
referem a alguns específicos indivíduos concebidos de forma um tanto quanto
artificial. Como adendo, os efeitos visuais dos feitiços e derivados são bons,
entretanto certas sequências de maior frenesi são praticamente ininteligíveis.
Dentre os personagens humanos, o principal
realce fica por conta do Kowalski, figura hilária e espontânea que mantém o tom
recreativo do roteiro e concebe com a Queenie o relacionamento mais contagiante
da película. Ambos os atores responsáveis pelos papeis mencionados se encontram
bem à vontade. Já Newt Scamander e Porpentina, embora seus intérpretes
transmitam com consentaneidade a essência das personas, são articulados de modo
insulso pelo texto. Do outro lado, Graves e Credence moldam um arco sombrio que
destoa (no bom sentido) do ritmo tonal estabelecido e serve para deixar o
assistente com uma pulga atrás da orelha e lembrá-lo que nem tudo são animais
fofos e radiantes. Respectivamente, Colin Farrell é o Colin Farrell com que
todos estão habituados e Ezha Miller entrega a melhor performance da obra
incorporando habilmente um jovem enrustido e problemático. Vale ressaltar que o
Johnny Depp só tem uma pontinha no filme, e que seu personagem Grindelwald, até
então, apresentou somente ideias formulaicas tipicamente vilanescas que merecem
posteriormente ser mais bem trabalhadas.
Animais Fantásticos e Onde Habitam é um longa
de cadenciamento narrativo inteligente e bastante ágil, visto a rápida
contextualização inicial do público, a forma fluida com que os personagens se
conhecem e passam a interagir, bem como a justificativa plausível usada para
que o Scamander integre o plot do Credence que vai muito além de puro heroísmo.
No mais, a trilha sonora é constante e atmosférica, e a produção, apesar dos
ganchos para as futuras películas, praticamente não deixa pontas soltas e
funciona muito bem como obra autônoma.
Em suma, Animais Fantásticos e Onde Habitam
inicia bem a franquia; é divertido, cômico e autoral.
Matheus J. S. 7,5
Sendo o primeiro título da franquia a
conquistar o mais cobiçado prêmio do mundo cinematográfico, Animais Fantásticos
e Onde Habitam tem uma missão muito mais importante que ganhar prêmios e
arrecadar mais alguns milhões para seus criadores.
Harry Potter sem dúvida é uma das sagas mais
bem sucedidas da história, tanto com os livros quanto com os filmes, que formou
uma legião de fãs ao redor do mundo desde o lançamento do primeiro romance em
1997 até a estreia do último filme em 2011. Fãs estes que hoje são jovens
adultos, adultos ou jovens senhores que metaforicamente ficaram órfãos com o
fim da estória do bruxinho e viram suas esperanças se reavivarem com o anúncio
desta nova saga onde podem voltar à ficção fantástica do universo criado por J.
K. Rowling, e esse é o maior compromisso desta nova etapa, o respeito e
dedicação com os seus seguidores.
Animais Fantásticos e Onde Habitam foi criado
originalmente como livro extra da saga, com a função de ser igual o seu
homônimo da ficção, nada mais que uma fonte de informações sobre as criaturas
que habitam o mundo dos bruxos. Podendo ser apenas um produto de exploração
comercial, acabou por cair nas graças do público. Hoje, após seu lançamento
cinematográfico, com uma trama que se desenvolve 70 anos antes de HP, contando
a trajetória de Newt Scamander (o autor fictício do livro também fictício e suas
aventuras em busca das criaturas), todos têm a ganhar, fãs, escritora,
produtores e outros.
Iniciando já com o pé direito, o filme se
destaca por não comprometer a estória de seu antecessor e trazer uma nova trama
que explora os elementos que mais contribuíram para o sucesso de HP, magia e
criaturas que a partir de a Ordem da Fênix acabaram por perder espaço. Como
agora o enredo é um pouco mais voltado para um público mais velho, os
personagens principais são adultos, e entre eles podemos destacar Jacob
Kowalski que, em poucos minutos de tela e na pele de um ser humano comum,
consegue ganhar a simpatia de quem assiste ao longa. Kowalski tem uma função
semelhante à de Jorge e Fred Weasley no passado e que talvez não tenha tanto
impacto neste primeiro momento.
O elenco feminino pouco brilha, mas a
personagem que lê mentes consegue chamar a atenção em alguns momentos.
Scamander, interpretado por Eddie Redmayne, passa uma imagem de um defensor
dos animais meio maluco que desperta pouco afeto inicialmente. O maior destaque
fica por conta dos animais fantásticos e os efeitos visuais para sua
construção, e as realizações mágicas não decepcionam.
Enfim, o filme me agradou e, como a trama vai
se desenvolver em mais quatro filmes que também serão lançados em livros, torço
para que a saga cresça consecutivamente.
leonejs. 7
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 17
de novembro de 2016
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine
Waterston, Dan Fogler…
Gênero: Aventura
Nacionalidades: EUA e Reino Unido
Sinopse (Google):
Um excêntrico magizoologista carrega uma maleta
cheia de animais mágicos coletados durante suas viagens pelo mundo. As
criaturas acabam saindo de sua mala em Nova York, e agora ele precisa usar suas
habilidades para capturá-las.
Avaliação:
IMDb:
7,3
Rotten:
74%
Metacritic:
66%
Filmow
(média geral): 4,1
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,5/4,0
Kontaminantes (média): 7
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