O cinema independente é muitas vezes o
principal responsável pela concepção de algumas das melhores obras do ano.
Apesar da forte concorrência financiada pelos milhões de dólares dos grandes
estúdios, os filmes underground geralmente se realçam por conta do
caráter ímpar e a liberdade criativa, prezando primordialmente o contar de uma
boa estória a exacerbados efeitos e CGI. Domando o Destino, segundo longa da diretora Chloé Zhao,
apresenta todas estas características, fazendo jus às produções autônomas no melhor
estilo.
Nomeado pela Sociedade Nacional de Críticos de
Cinema dos Estados Unidos como o Melhor Filme de 2018, Domando o Destino possui uma trama minimalista que se sobressai
pela simplicidade de sua narrativa e uma atuação central calcada no externar
das ínfimas expressividades. Ou seja, a película opta pelo uso dos mais
singelos recursos, como a câmera na mão, cortes secos e uma trilha sonora quase
toda diegética e cantada pelos próprios personagens. No entanto, o filme também
denota invejável esmero na confecção de determinados atributos, como ao
conceber uma linda fotografia que sublinha, aliada a precisos enquadramentos,
as paisagens naturais da comunidade do Sioux na Dakota do Sul, sendo que esta
serve como palco para o desenrolar do enredo. Ademais, a sequência inicial
imprime bastante estilo ao mesclar, de forma subjetiva, planos-detalhe a slow
motion. Isto é, a modéstia predominante do entrecho faz com que os
eventuais momentos de primor técnico e visual ganhem realce.
Domando o Destino, acima de tudo, é sobre a autoaceitação de um
homem a respeito de suas limitações, sobre seguir em frente e se desvencilhar
do passado, mesmo que isso possa causar extrema dor. Para contar esta estória,
o longa utiliza um ritmo paulatino que permite o espectador vivenciar a
angústia da rotina de Brady moldada pelos inúmeros malogros, tentativas falhas
e o martírio consequente. Para tal, são comuns as situações em que Brady é
incitado a fazer o que ama mesmo impossibilitado, ou a presença de fatores que
recordem seu passado triunfante, o que salienta sua atual impotência,
infelicidade e a agonia do público, visto que é muito difícil não se
sensibilizar ou ter empatia pelo drama do personagem.
Sobretudo, muito da eficácia do roteiro se deve
a Brady Jandreau, ator que incorpora majestosamente o protagonista da obra.
Considerando-se que a película é baseada na vida do próprio cineasta que
realmente sofreu um acidente durante um rodeio e teve de passar pelo mesmo
processo cirúrgico na cabeça retratado na produção, Jandreau interpreta a si
mesmo, e, embora isso comumentemente seja visto como algo preguiçoso, no caso
intensifica a verossimilhança da performance, já que o ator praticamente teve
de encenar alguns dos piores momentos de sua vida. Em outras palavras, Brady vive
um cowboy melancólico, frustrado, de caráter austero e solene que reprime e
internaliza suas emoções; é nas pequeninas feições que o ator exprime toda sua
aflição e desalento. No que se refere ao restante do elenco, todos estão bem,
com destaque para Lilly Jandreau, que é autista. Como adendo, vale ressaltar
que o elenco é composto por atores não profissionais, o que torna as
performances ainda mais impressionantes.
No mais, Domando o Destino é um filme simples, honesto, forte, de potente
carga dramática e excelentes atuações.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 13 de
abril de 2018
Direção: Chloé Zhao
Elenco: Brady Jandreau, Tim
Jandreau, Lilly Jandreau…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse:
Brady Jandreau, uma estrela em ascensão do
circuito de rodeio, vê seus dias de competição acabarem depois de sofrer um
trágico acidente de equitação e tenta se adaptar a sua nova vida.
Avaliação:
IMDb:
7,5
Rotten:
97%
Metacritic:
92%
Filmow
(média geral): 3,9
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9,5
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