Ter um filme estrelado pela Lady Gaga entre as
obras mais ovacionadas do ano, é tão peculiar quanto um diretor estreante ser
assiduamente elogiado por seu trabalho. Não obstante, Nasce Uma Estrela compila
estas duas façanhas em uma das melhores produções cinematográficas de 2018.
O pontapé inicial da carreira de Bradley Cooper
no comando de um longa é dado com propriedade. Logo na primeira sequência da
película, o dedo do cineasta, que também é o ator principal (ao lado de Lady
Gaga), se mostra presente na confecção de uma cena de show que,
concomitantemente, imprime genuinidade e intensidade na forma com que é
filmada, adere empolgação e turbulência a atmosfera do espetáculo e, de
prontidão, suscita os problemas de Jackson. Como é perspícuo no respectivo segmento,
Cooper demonstra bastante agilidade ao lidar com os eventos desenvolvidos em
palco, geralmente usufruindo duma câmera manual próxima ao rosto dos
personagens, o que torna tudo muito mais íntimo e permite que o ator/atriz,
estando no centro das atenções, tenha seu momento e possa se doar de corpo e
alma a sua canção e atuação.
Se Bradley merece aplausos por seu comando
meticuloso atrás das câmeras, o mesmo deve ser feito por sua performance. Ao
incorporar um famoso músico alcoólatra, o ator transita com destreza pelas
facetas que permeiam sua história, mostrando virtuosidade ao contrastar seus
dois principais estados: ora cavalheiro, afetuoso e galante quando sóbrio, ora
desnorteado, displicente e impulsivo quando bêbado. Durante os momentos em que o
roteiro requer uma carga mais dramática da figura incorporada, este se porta
com a mesma e admirável proficiência. Lady Gaga, por sua vez, vive
brilhantemente uma mulher meiga e sonhadora, mas de personalidade forte que
precisa enfrentar diariamente conflitos e contratempos. Sua atuação se destaca
por ser verdadeira, sincera e repleta de sentimentos. Já Sam Elliott interpreta
um personagem que, apesar de frequentemente áspero, é tomado por emoções que
procura omitir, e Elliott é bastante verossímil na representação destas.
Ok, mas e o script? Embora o roteiro se
atropele de forma esporádica consoante a expansão dos temas abordados (uma
minissérie talvez fosse o formato ideal para a magnitude de todo o conteúdo
presente no filme), o mesmo explora com primor e complexidade suas duas
principais vertentes: a ascensão de uma estrela e a toxicidade de um
relacionamento amoroso. Tais elementos servem para embasar os principais rostos
do longa e lhe atribuir substância. Isto é, ao passo que o romance central
progride e a carreira da Ally deslancha, o casal vê sua relação reverberar os
traumas de Jackson, este assolado por vícios e um repertório de oscilações.
Neste tópico a película encontra sua veia dramática mais potente, abrangendo
assuntos que debatem o amor, a ruína das drogas, identidade artística, culpa,
arrependimento, inveja e, fundamentalmente, até que ponto estamos realmente
sendo benéficos para nosso companheiro. Além, nestas investidas a obra é assaz
comovente, visto que a química entre o casal central, mais que orgânica e
contagiante, é humana; o espectador torce por eles.
Ainda referente ao embasamento dos
protagonistas, o âmbito familiar de Jackson é muito bem elucidado, sendo que
seu irmão Bobby traz a tona os traumas do passado de ambos. Neste aspecto o
arco da Ally é falho, considerando que a princípio sugere-se certa tensão entre
a personagem e seu pai, o que não ganha textura. O próprio amigo desta tem mais
participações que o necessário, já que suas aparições são avulsas, sem sentido
e não agregam nada à trama.
Conforme a dramaticidade crescente e as
contendas vividas pelos personagens, o filme encontra nas canções um pontual
meio termo que dosa a beleza poética destas a uma catarse emocional das figuras
em tela, visto que as músicas são magníficas e as letras expressam o que as
pessoas têm internalizado.
No mais, Nasce Uma Estrela é uma obra sensível
que deixa seu público maravilhado.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 11
de outubro de 2018
Direção: Bradley Cooper
Elenco: Lady Gaga, Bradley
Cooper, Sam Elliott…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
A jovem cantora Ally ascende ao estrelato
enquanto seu parceiro Jackson Maine, um renomado artista de longa carreira, cai
no esquecimento por problemas com o álcool. Os momentos opostos acabam por
minar o relacionamento amoroso dos dois.
Avaliação:
IMDb:
8,1
Rotten:
90%
Metacritic:
88%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,6/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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