26 de janeiro de 2019

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O Primeiro Homem

Pôster


Além de ser um dos momentos mais fatídicos da História, a ida à Lua representou, mais que um gigantesco salto para a humanidade, o auge de um confronto entre duas supernações, incontáveis avanços tecnológicos e uma forma distinta e mais íntima do homem enxergar o universo. Embora o planeta esteja ciente da relevância deste evento e de toda sua representatividade, os diversos meios do entretenimento constantemente o utilizam como princípio de suas estórias. O Primeiro Homem é mais um desta leva, comprometendo-se a abordar de maneira imparcial e verossímil a vida daquele que foi o primeiro a pisar no satélite natural da Terra.
Dirigido por Damien Chazelle, o filme é o primeiro do cineasta que não possui vínculo com o ramo da música, pelo contrário, trata-se da cinebiografia de um dos mais importantes astronautas da história do planeta: Neil Armstrong. Ao optar por explorar oito anos da jornada do homem que foi o primeiro a tocar os pés em solo lunar, o diretor faz uma escolha bastante acertada que o permite abranger uma expansão de momentos marcantes da vida de Neil sem que a narrativa entre em marasmo. Sobretudo, a empreitada em instante algum se mostra corrida ou atropelada, considerando que a forma usada para as circunstâncias e os personagens se desenvolverem é totalmente orgânica. Ademais, o ritmo ágil do longa não dá brecha para arrastadas explicações físico matemáticas, o que possibilita o enredo fornecer ao assistente apenas conceitos mitigados que, além de inteligíveis, jamais subestimam o público.
A concepção atmosférica e cenográfica é um dos principais aspectos de O Primeiro Homem. O espectador se sente dentro das naves, seja consoante a mixagem de som assustadoramente tangível que abarca a confecção de ruídos e barulhos metálicos, os movimentos de câmera caóticos que emulam as movimentações instáveis dos veículos aéreos e as ambientações claustrofóbicas que, aliadas a primeiríssimos planos e planos-detalhe, salientam a tensão dos respectivos segmentos e o desconforto dos pilotos. O figurino característico e o design de produção meticuloso são outros fatores que corroboram para imersão do público; também vale ressaltar a trilha sonora épica que faz dos momentos icônicos ainda mais emblemáticos. Em contraparte, Chazelle, periodicamente, abusa de zooms desconexos que não fazem sentido técnico ou exercem qualquer tipo de pertinência dentro do entrecho.
Apesar do elenco gigantesco, nenhum ator além do Ryan Gosling (e da Claire Foy) usufrui um tempo considerável em tela. Portanto, é comum que o assistente estabeleça um vínculo compacto com o personagem, o que se acentua pelo percurso penoso deste e sua convicção que é um importante elemento impulsor da trama. Igualmente é perspícuo que o embasamento da persona é fundamental para a empatia do público, e o roteiro é assaz cauteloso neste âmbito. Ao utilizar o luto como cerne da odisseia de Neil, o script desenvolve seu protagonista a partir de uma perca central e consecutivas infelicidades funestas que cercam-lhe rotineiramente, o que gradativamente o endurecem, deixam-no amargurado e criam um processo de introspecção que o faz encontrar no trabalho seu único subterfúgio; para Armstrong, ir à Lua não era nenhum tipo de honra ou ato patriótico, mas sim um débito que tinha consigo motivado pelo passado lúgubre. Tais investidas tornam extremamente agonizantes as sucessivas falhas de realização do projeto, tanto para o personagem quanto para o espectador, fazendo da chegada à Lua algo ainda mais grandioso e um bem-vindo refrigério.
(SPOILERS A SEGUIR) Como adendo, o plot de Neil tem um desfecho demasiado repentino após seu retorno da Apollo 11. Teria sido profícuo analisar como a conclusão de sua trajetória espacial o influenciaria dali em diante tendo em vista todos os seus traumas e conflitos. (FIM DOS SPOILERS)
Jason Clarke, um dos nomes a integrar o mencionado elenco estelar, tem uma boa participação e desempenha um papel que, exclusos Neil e Janet, conquista a simpatia do público (ele é um rosto que seria interessante ter pouco mais de tempo em cena). Aproveitando o gancho, Janet, mulher do Neil, representa o eixo estável do núcleo familiar que agrega, ou seja, ela é a responsável por apaziguar o ar domiciliar e, por vezes, servir de alicerce emocional para Armstrong. Claire Foy, intérprete da respectiva, transita com destreza pelos estados de medo, preocupação, aflição e impotência da persona vivida perante a profissão altamente arriscada do marido. Ryan Gosling, por sua vez, incorpora com aptidão um homem austero, determinado, que retrai seus sentimentos e sofre em silêncio; é uma atuação focada na angústia latente de um homem martirizado.
O Primeiro Homem também é perspicaz em seu molde de pano de fundo que intertextualiza um embate político entre duas potências mundiais e um cenário nacional conturbado permeado por controvérsias e ideais dissidentes. Isto é, a película utiliza a Guerra Fria e suas intrínsecas consequências, tais como a corrida espacial e revoltas populares, para não glorificar, mas sim impor reflexões quanto ao custo financeiro e em vidas que os EUA gastaram em sua ambição por chegar à Lua; embora o objetivo tenha sido alcançado, a obra nos faz questionar se realmente valeu a pena.
Genuíno, cativante e humano, O Primeiro Homem é uma cinebiografia tecnicamente apurada que se distingue dos fastidiosos parâmetros narrativos convencionais do gênero, e que oferece uma experiência cognitiva praticamente palpável.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Austrália): 11 de outubro de 2018
Direção: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
O astronauta estadunidense Neil Armstrong embarca na histórica e perigosa jornada à Lua em 1969.

Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 88%
Metacritic: 84%
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,1/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação

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