9 de novembro de 2019

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O Poço da Ascensão (Mistborn: Nascidos da Bruma)

Livro


Se O Império Final deu início à trilogia com o pé direito, O Poço da Ascensão coloca Mistborn: Nascidos da Bruma como uma das melhores e atuais sagas do gênero.
O Poço da Ascensão é um desafio, um desafio que seu autor Brandon Sanderson impôs a si mesmo e que abrange não somente a ausência de seu personagem mais carismático no enredo, mas também a introdução de novos parâmetros que tangem toda sua estrutura de universo e personalidades. Claro que suprir o espaço deixado por Kelsier e manter o contágio do leitor incandescente e direcionado a outros âmbitos é uma das tarefas mais difíceis de Sanderson, mas o escritor se supera e entrega um resultado mais que satisfatório. Ou seja, com a partida de Kelsier, figuras como Brisa e OreSeur ganham maior destaque e relevância, enquanto outros são melhor explorados e desenvolvidos. Entretanto, grande parte da estória ainda se vê imbuída pelo manto de Kelsier, seja no exaltar de suas ações na memória dos personagens ou no impacto que as mesmas causaram, sendo esta uma acometida inteligente que permite, de forma concomitante, o público ter suas saudades sanadas e os atos do alomântico e sua importância serem justamente reconhecidos e sublinhados.
Tocante às personas que ganham maior embasamento, Dockson é uma figura que tem o arco drasticamente influenciado pela morte de Kelsier. Apesar do pouco tempo dedicado ao mesmo, o livro extrai toda a dor que acerca o personagem, apresentando um homem letárgico que tem seu brilho ofuscado por um lancinante luto. Nesse sentido, tendo em vista o apreço e o afeto que o leitor já tem estabelecido por este, o público sente profundamente a melancolia e as discrepantes mudanças que afetam o caráter de Dockson, o que, sobretudo, é articulado pelo enredo a reiterar o vínculo entre os personagens e frisar os valores constituintes de uma autêntica amizade. Por sua vez, Ham deixa de ser um singelo alívio cômico e ganha camadas que espairecem suas motivações, ao passo que Marsh lida com conflitos de personalidade e Trevo, em contraparte, tem o destino selado sem o merecido polimento que, por outro lado, é atribuído a plots adjacentes. 
Outrossim, a inclusão de novos personagens dá fôlego rejuvenescido a trama e complementa com pertinência o desenvolvimento pessoal dos protagonistas. Dito isso, Zane, além da postura enigmática que desperta muitos mistérios, respalda alguns dos dilemas mais íntimos de Vin, estes voltados à sua identidade e seu lugar no mundo. Já Tindwyl expande os conceitos até então impostos sobre a linhagem terrisana e forma um casal atípico e imprevisível com Sazed, este que se vê questionando os segredos da própria raça e ancestralidade. Por fim, os koloss, ainda que bastante citados em O Império Final, finalmente ganham forma e são oticamente constatados na narrativa, fazendo jus a reputação que normalmente lhes é concedida, ao mesmo tempo em que ampliam o conhecimento supérfluo que todos até o presente momento tinham e saciam a ânsia de expectadores ávidos pela descoberta de tão temíveis criaturas.
Concernente a composição da nova Luthadel, é impossível discorrer sobre sem citar Elend. Provavelmente o personagem de maior evolução individual e crescimento na trama, Elend Venture está intrinsecamente vinculado a cidade que molda o palco do romance, principalmente no que se refere aos vários detalhes burocráticos que compõem as vertentes políticas do entrecho e servem para fundamentar os ideais e valores do personagem. Os arcos de Vin também estão inerentemente entrelaçados ao reino, seja no que diz respeito à imagem desta criada perante o povo e como ela realmente se sente em relação a si mesma. Tais acometidas servem para salientar o desamparo da personagem e fomentar novas nuances ao seu relacionamento com Elend que, embora amadurecido, em determinados momentos torna-se estafante.
Ademais das novas normas políticas inoculadas com o incipiente governo, Luthadel se vê refletindo os efeitos da queda do Império Final nas mais diversas ramificações físicas e ideológicas. Além de impor um forte senso de causa e consequência, a nupérrima vestimenta que cobre o reino instaura um verossimilhante tom caótico a uma cidade habituada a viver sob rédeas e desacostumada com a liberdade. Em meio à instabilidade vigente, mistérios inusitados ganham realce e delineiam contornos frescos a problemáticas que anteriormente haviam sido apenas mencionadas, fornecendo uma releitura da idiossincrasia já sacramentada de certos personagens e oferecendo panoramas sob óticas virginais de elementos imanentes a confecção do universo criado por Sanderson, sendo as brumas o principal exemplo.
Em contrapartida, o livro reitera constantemente conceitos já estabelecidos, como o sistema de magia, sentimentos dos personagens e eventos passados, o que acaba sendo redundante. Outra nequice vincula-se ao arco da Vin, considerando que esta, por vezes, é manipulada pelo enredo a servir como deus ex-machina, o que sempre se mostra um artifício fácil e pouco engenhoso. Todavia, o clímax do romance, por fim, praticamente retifica os relapsos narrativos de antes ao conceber um desfecho intensamente eletrizante que semeia promissoras investidas para o futuro oriundas de um impasse moral extremamente bem arquitetado e escrito.
O Poço da Ascensão, em suma, expande a mitologia do mundo tecido por Sanderson e a torna coesa, além de conferir a relevância necessária a seus principais semblantes e fortalecer os laços que unem leitores e personagens.
Matheus J. S.

Leia e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Autor: Brandon Sanderson
País: Estados Unidos
Gênero: Fantasia
Editora: Leya (Brasil)
Lançamento: 2015 (Brasil)
Páginas: 720

Avaliação
Goodreads: 4,37
Orelha de Livros: 4,0
Skoob: 4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Avaliação

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